2. Urutau

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Em uma dessas aldeias nasceu uma linda menina. Ela era filha de Ubirajara e de Aruana e eles a chamaram de Urutau.

A menina cresceu e chegou à puberdade.

Nos tempos em que Urutau saiu de sua reclusão e seu cabelo, que tinha sido cortado na primeira menstruação, já crescia de novo, ela estava branca como a polpa de um araticum, pela pouca exposição ao sol.

Assim que ela pode ser contemplada pelos moradores da casa grande ela chamou a atenção de todos. Urutau estava linda. Seu corpo já era um corpo de mulher, ela tinha os cabelos e olhos negros como a casca da jabuticaba madura.

A garota usava uma espécie de blusa e saia de algodão novos que sua mãe e avó haviam tecido de algodão e pintado com os motivos do peixe e cobra símbolos da etnia da menina. Usava também colares, brincos e pulseiras novos. O padrão denotava sua nova idade. Era uma moça.

Quando ela saiu ao sol o vento lhe soprou os cabelos. Ao andar ela parecia pairar sobre o chão, tal era a leveza dos seus passos.

Assim que pode ela procurou por sua amiga Yrukure'a, um pouco mais velha que ela. A adolescente Yrukure'a era muito bonita também, mas Urutau se destacava.

Ao ver Urutau, Yrukure'a pegou sua mão e olhou para ela entusiasmada:

— Amiga! Quanto tempo já se passou! Um ano desde a última vez que nos vimos! Você cresceu muito! E olha! Seu cabelo está crescido também. Você está linda!

— Você também está linda — disse Urutau para amiga.

— Vem! — disse Yrukure'a. — Você precisa ver as pessoas e as pessoas precisam te ver. — E cochichou sorrindo faceira — Principalmente os garotos.

As duas riram e saíram juntas de mãos dadas. Passaram pelo grupo de mulheres que faziam chicha e outras guloseimas para a festa que seria a noite para manifestar toda a alegria de ver agora a mais nova moça da aldeia, a mais nova candidata a casamento.

Elas passaram por um grupo de homens e rapazes. Todos se levantaram ao vê-la. Eles preparavam as caças para serem assadas mais tarde.

— Olha se não é a minha filha! — disse Ubirajara, contente de reconhecer a filha.

— E olha o quanto ela está linda, meu sogro! — disse um belo rapaz que Urutau reconheceu ser seu primo Rudá.

— Nem pense nisso! — disse o pai para o rapaz soqueando-o levemente.

Todos caíram na risada. Aquela era uma brincadeira comum entre eles.

O pai se levantou do grupo e foi até a filha que empunhava as duas mãos juntas diante dele.

— A bênção, pai — ela disse

— Deus te abençoe, filha — disse o pai. — Seja bem-vinda à vida de adulta.

E se voltando para os rapazes declarou:

— E respeitem ela! Senão vocês vão se ver comigo!

Novamente todos riram

— Nós vamos dar uma volta por aí, pai — disse a garota.

— Vai, filha. Você merece e precisa de um pouco da luz do Sol. Só não se atrase para a sua festa. 

*** 

Urutau: a jovem indígena que rejeitou o amor do Sol (História completa)Onde histórias criam vida. Descubra agora