Capítulo 05 - Fragments

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Aquela manhã trazia um ar diferente de todas as outras. Arrastando pétalas mortas e folhas rachadas no cascalho, correntes de vento frio invadiam a cabana por suas frestas e despertavam os moradores. Pouco a pouco, as luzes acendiam nos quartos: primeiro Matsui Yasu. Ele puxou as cortinas e abriu as janelas, despertando rapidamente com um sopro fúnebre da natureza em seu rosto. Seus olhos sonolentos voltaram-se para o céu; assim que encontrou vagos feixes espreitando as nuvens, o acastanhado ganhou uma vida que antes não lhe pertencia, e logo trouxe essa energia súbita para seus afazeres. Minutos mais tarde já trajava suas típicas vestimentas, jogou os óculos sobre o nariz e partiu para caminhar na trilha de cascalho, como sempre fazia todas as manhãs.

A segunda pessoa a levantar foi Okada Akari, uma jovem de vinte anos que felizmente foi acolhida em um ótimo lar; ao lado de sua melhor amiga Hayashi, e Matsui — secretamente sua figura paterna, embora todos reconhecessem o afeto dela pelo homem —, Akari tinha dias maravilhosos em uma cabana oferecida por uma mulher gentil. A única condição dada pela Akabane, era regar as flores. O amado jardim de Karma, um rapaz que morava ali fazia tanto tempo, que sequer tinha noção dos dias que passavam. Ela gostava de acordar cedo para correr pelo campo e admirar o lago, mesmo sob condições nubladas, todos os dias eram bons dias para contemplar a beleza no ato de viver. Então não tardou para a porta de entrada ser escancarada e passos desajeitados tropeçarem em direção ao lago, seguidos de risos infantis e comentários bobos de uma mulher que nunca teve oportunidade de ser criança.

Como Akari sempre deixava a porta aberta durante o período matutino, Hayashi criou um hábito de acordar cedo somente para fechá-la. Em seguida, sonolenta, ela arrastava seus pés para a cozinha, enchia a chaleira, ligava o fogão e retornava para seu quarto, onde trocava de roupa para rapidamente voltar para a cozinha. Ela admirava pela janela da cozinha sua colega de trabalho brincando com as lebres que emergiram da mata de vez em quando, alimentava-os, depois observava retornar a brincar ao redor do lago. Hayashi também sempre exibia um sorriso inconscientemente enquanto vigiava sua amiga; e quando o percebia em seus lábios, disfarçava a presença dessa alegria e virava para a chaleira. Todas as manhãs ela repetia o processo, e quando fazia o chá, Manami sempre reclamava do quão boba era por ter caído pelos encantos de uma pessoa tão simples, como Akari. Antecipando a chegada do Akabane — e agora de Amaya —, Manami bebericava o chá adoçado, do jeitinho que odiava, para afastar tais sentimentos de seu coração.

Pois era errado uma mulher se apaixonar por outra mulher. Pessoas assim eram doentes e precisavam mostrar arrependimento perante a Deus, para, assim, conseguirem perdão e passagem para o paraíso. E como fora uma garota obediente desde jovem, decidiu reprimir esses desejos pecaminosos para conquistar seu lugar tão bem-merecido. Também orava para que Okada, mesmo sendo a personificação de tentação ante uma mulher tão casta, obtivesse um lugar próximo ao seu para consumirem os bens divinos juntas — como boas amigas, claro.

Amaya era a quarta pessoa a levantar, percebeu depois de uma semana na cabana. Nada novo surgiu durante o tratamento de Karma, porém, por insistência de Naomi, cuja enviava e-mails quase todos os dias, passou a escrever relatórios todas as manhãs, anotando observações intensas sobre o comportamento de Karma e quando podia, questionava sobre o "tal garoto que ele namorava", sem conseguir nenhuma informação relevante da mulher. Após respondê-la, Amaya partia para chats de conversa com suas amigas, Nakamura e Kanzaki, as quais estavam noivas e apressaram-no para visitá-las, pois ambas queriam escolher o terno de Amaya — afinal, era o padrinho delas. Logo ambas as noivas precisavam estar presentes para o terno perfeito!

Ao encerrar a conversa com elas, ele passava uma atualização para seu mentor, conhecido por Ceifador, e entregava alguns documentos que Amaya mesmo tinha feito sobre cada um dos moradores daquela casa. Aproveitava a conversa, também, para falar a respeito de sua mãe — Shiota Hiromi foi presa há cinco anos por certos crimes contra seu filho. Eles não voltaram a conversar mesmo depois de Hiromi ser liberada. Nagisa a evitou desde o início, criando um vínculo ríspido com a mulher através de seu sensei, o qual formou um laço forte com Hiromi; uma amizade invejável, pensava Nagisa às vezes. Enquanto sua mãe tentava recuperar a relação com seu filho, Ceifador — assumindo a identidade de "Koro" perante a presença de terceiros — se esforçava para ocultar os sentimentos platônicos que nutria por seu melhor amigo, um ex-professor de Nagisa também, Karasuma; este era casado com a ex-professora de Nagisa, ex-colega de Koro, Irina.

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⏰ Última atualização: Feb 20, 2022 ⏰

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