As folhas eram varridas por rajadas de vento. Redemoinhos formavam-se nas calçadas enquanto carros zuniam nas estradas, pessoas prosseguiam com suas rotinas, lojas se abriam. Conseguia sentir o cheiro suave de pão recém feito na padaria, flutuando de acordo com a corrente de ar para sua direção, o envolvendo para atiçar a fome. No entanto, nada poderia distrair a figura encapuzada. Seus olhos estavam fixos no papel onde fora escrito um endereço; o nome da rua na qual se encontrava, além do número do prédio que estava o espreitando logo atrás. Era bem ali que prometeram encontrá-lo para o levar ao destino, uma cabana que lhe custou anos para cruzar seu conhecimento. Ele dobrou gentilmente o pedaço de papel e o guardou no bolso, em seguida, atento àqueles que perambulavam ao seu redor, retirou o capuz, assim dando liberdade para as madeixas platinadas dançarem com o vento. Ajeitou os óculos sobre o nariz e olhou para os dois lados da rua. Ninguém aparentava ser suspeito.
Estava espreitando a vizinhança deste prédio há duas semanas, anotando em um caderno todas as visitas feitas por Akabane Naomi, sua contratante. Não deixou de observar e estudar os demais empregados daquela empresa, embora nenhum demonstrasse suma importância em sua investigação. Tirou proveito da véspera do seu primeiro dia para estudar seus demais colegas, trazendo à tona informações que não foram passadas a ele durante a entrevista, nem após receber um e-mail de retorno dos Akabane. Dentre estes colegas, havia um assassino profissional trabalhando como caseiro, secretamente atuando como segurança particular do filho de seus chefes.
Não se recordava do nome Matsui Yasu até o momento em que o viu saindo do carro preto há algumas semanas para renovar o contrato. O Ceifador já tinha o citado algumas vezes, porém nunca desenrolou a conversa o suficiente para compreender a relação deles. Matsui era conhecido por seu pseudônimo, Raposa Silenciosa, pois adentrava os locais e assassinava seus alvos com astúcia, e não houve sequer uma pista a respeito de sua identidade. Bem, ele nunca teria um ponto para começar sua investigação sobre Matsui se não houvesse, mas, felizmente, seu mentor era um dos poucos indivíduos que tinham o nome da Raposa Silenciosa escrito em um papel, como um adereço ou uma memória que merecia ser guardada. Ou talvez tenha sido uma mera coincidência ele ter encontrado este papel dentro do apartamento que compartilhavam.
De qualquer maneira, os resultados foram ótimos e serviram de aviso para tomar mais cuidados quando estivesse no terreno dos Akabane, sob vigilância de Matsui.
Enquanto pesquisava, também descobriu o nome da cozinheira e da jardineira; ambas as jovens foram mantidas longe do convívio social por nenhum motivo aparente. Mas, claro, somente isso não iria satisfazê-lo. Logo chegaram as motivações para o exílio: Hayashi Manami tinha sido posta sob observação policial pois relataram diversas vezes um comportamento hostil que costumava resultar em violência. Ela era um ótimo exemplo para usar quando o assunto era pessoa de duas caras.
Por outro lado, Okada Akari estava sob proteção policial, pois seus pais simplesmente decidiram que ela não merecia viver. Okada era maior de idade quando tentaram atingi-la com uma cadeira pela primeira vez, uma memória que foi gravada por uma cicatriz em suas costas. Seria uma pena caso a vida de uma jovem tão dócil, cuja encarnava perfeitamente o estereótipo idealizado de esposa japonesa, fosse desperdiçada pelos pais tão egoístas. Diversos homens tentaram recolhê-la em sua casa com a promessa de que iam protegê-la com sua vida, contudo, tais indivíduos mentiram muito mal, a condição de proteção à senhorita ficou evidente conforme eles vinham aos montes para prosseguir com a mesma conversa.
No fim ela teve a sorte de esbarrar com Akabane Naomi, uma mulher elegante que lhe estendeu a mão antes das garras famintas atacarem seu corpo frágil. Akari foi direcionada para um matagal, onde permanecia até aquele momento, dividindo o teto com uma maníaca e um assassino. Perguntou-se se ela tinha ciência desses fatos ou se tinham ocultado dela também.
VOCÊ ESTÁ LENDO
My Dying Flower
Hayran KurguKarma não lembra de nada sobre o colegial. Depois de tanto sofrimento por um passado vago, além dos sonhos recorrentes a respeito de uma garota de olhos e cabelos azuis, ele finalmente tem a chance de descobrir o motivo de sua loucura.