Capítulo II

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Sophie acordou com o sol a bater-lhe na cara e com a cabeça dela no ombro de Pierre. Por um segundo, parecia que o mundo estava em completa paz e sossego, sem problemas, sem preocupações.

Mas todo este sossego acabou com um barulho perturbante que vinha do exterior. Sophie reconhecia-o, eram os aviões a sobrevoarem Paris, ela só desejava que não fossem aviões nazis e que decidissem abrir fogo em cima deles.

Ela levantou-se e silenciosamente ficou a olhar pela janela perguntando-se quantos dias teriam até aqueles seres cruéis decidirem entrar por Paris a dentro, destruindo o que restava de bom na vida dela. Mas pior que tudo, começou a pensar o que aconteceria ao seu melhor amigo e companheiro desde os primeiros meses de vida dela, Pierre. Provavelmente, iriam leva-lo para um campo de concentração, separado da família, obrigado a trabalhar até um dia ele não poder aguentar mais e cair para o lado. Tudo pensamentos que deixavam Sophie ainda mais triste e revoltada, vendo que nada podia fazer para impedir tal futuro.

Esta voltou-se a deitar na cama, tentando dormir mais um bocado e não pensar mais no assunto, mas parecia impossível com o barulho dos aviões a passarem por cima da cabeça dela. Tanto barulho fez Pierre acordar.

- Bom dia! Tás acordada? – perguntou este ao reparar em Sophie de olhos abertos, ao seu lado.

- Sim, acordei com a porcaria dos aviões. Já me tentei convencer a mim própria a habituar-me a este barulho, mas não consigo.

- Se calhar é uma coisa boa o facto de não te habituares, quer dizer que isto não vai durar muito tempo. – disse Pierre confiante.

- Eu invejo o teu otimismo. – falou Sophie.

Pierre levantou-se e estendendo-lhe a mão disse:

- Mas não é altura para tristezas, ainda temos muito tempo para isso, agora é tempo para pequeno-almoço. Vamos ver o que há para comer.

Sophie aceitou a oferta e agarrou-lhe a mão, com um sorriso na cara.

Era fim-de semana, por isso tinham o dia completamente vazio para fazer o que bem lhes apetecesse. Comeram o pequeno-almoço, cereais com leite, na mesa e um de cada lado. Comiam em silêncio e Sophie não podia parar de olhar para os olhos cor de gelo de Pierre, era impossível conter um sorriso.

Era um dia normal como tantos outros, mas Sophie sentia-se diferente, como se o seu tempo estivesse a acabar, era uma sensação estranha, e por mais que tentasse, não se conseguia ver livre dela. Pierre tentava agir como se nada se passasse, mas ela sabia bem no fundo que ele estava tão assustado como ela. Inconscientemente, ele tornara-se mais doce e mais amável, mas ao mesmo tempo mais distante, alheava-se mais vezes a olhar para o nada. Os dias tornaram-se cada vez mais pequenos, os alemães continuaram a avançar e em breve chegariam à capital, e Sophie continuava a ter sentimentos por Pierre, que aumentavam de dia para dia, embora ela não os conseguisse explicar.

Porém, um dia, ouviram-se as bombas e os tanques.

Para sempre, Paris.Onde histórias criam vida. Descubra agora