Te Odeio I

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O mundo tá acabado e ninguém me avisou?

Pov Sheilla Castro

– Eu te deixo em casa. – Avisei rindo fraquinho e em questão de segundos Gabriela sentou negando com a cabeça.

– Não precisa! – A ponteira disse ofegante.

– Não perguntei. Vai lá se ajeitar, estou te esperando aqui mesmo.

Decretei e apontei para o meio do corredor. Analisei ela suspirar enquanto caminhava em direção ao vestiário para organizar as suas coisas. Observei pela janela a chuva torrencial que caía em Belo Horizonte. Nada mais justo deixar Gabriela em casa após alugar toda sua noite. Não existia segundas intenções ali. Eu só queria prestar uma gentileza.

– Vamos? – Gabriela falou quase que me assustando. Ela usava um short leve e uma regata azul da Nike.

– Vamos!

Falei e começamos a caminhar até o estacionamento em completo silêncio. O som da chuva preenchia o silêncio constrangedor entre nós duas. Eu tinha medo de falar algo e acabar com o clima. Estar ao lado de Gabriela era como estar do lado de uma bomba relógio. A qualquer momento eu sentia que ela poderia me pedir distância.

– Trocou de carro? – Gabriela questionou ao notar a ausência da BMW.

– Enjoei. – Dei os ombros. – Estou curtindo o Volvo. – Expliquei e ela concordou. – Está chovendo demais.

– Sim! Parece que caiu a chuva do mês inteiro.

Seguimos conversando sobre assuntos banais e o trânsito caótico parecia irritar cada vez mais nosso ânimos que já beiravam o estresse. O movimento da perna de Gabriela chamava minha atenção e me fazia desviar algumas vezes da pista.

– Para de me olhar. – A mais nova pediu olhando para a janela.

– Não posso? – Perguntei com o cenho franzido.

– Não! Por que tudo você questiona?

– Por que tudo você reclama? – Rebati sem saco para sua postura defensiva comigo.

– Acho que não foi a melhor coisa aceitar essa carona. – Gabriela levou as mãos ao cabelo e tentou ajeitar nervosamente.

– Porra, Gabriela! Você inventa as coisas na sua cabeça? – Falei realmente querendo entender. – Primeiro você me esnoba, agora eu tento ser gentil e você reclama?

– Você se faz, né? – A ponteira falou bufando e tentou abrir a porta do carro. – Libera a porta, Sheilla!

– Está chovendo, Gabriela!

– Abre a porta, Sheilla! – Ela pediu firme e eu encostei com o carro.

– Sério? – Questionei e ela não falou nada, apenas se esticou sobre mim liberando a trava e saiu em questão de segundo. – Que mulher louca! – Falei bufando e saí do carro. – Gabriela!

– Me esquece! – Pediu gritando. Corri alcançando facilmente a mais nova e segurei levemente suas mãos.

– Por favor, conversa comigo. Eu não estou te pedindo nada extraordinário, é só uma conversa. Só isso! – Pedi já exausta da situação e notei as gotas de chuva se misturando com as lágrimas dela. – O que foi? Você tá chorando?

– Por que você é tão estúpida? Você me deixa e corre atrás. Se decide! – Ela disse me olhando e eu engoli em seco sabendo o que precisava fazer.

– Eu já decidi! – Falei firme e segurei em sua cintura.

– Sheilla... – Toquei seus lábios delicadamente com as pontas do dedo.

– Eu não quero te machucar, Gabriela. – Levei a mecha de cabelo molhada para trás de sua orelha.

– Não faz isso. – Ela pediu sem forças e eu sentia nossas respirações se misturando.

– Não estou te prendendo. Pode sair! – Avisei e ela suspirou.

– Te odeio.

Gabriela falou antes de finalmente selar nossos lábios. Suspirei sentindo nossas línguas se encontrarmos e dançarem no ritmo perfeito. Eu não sabia o que aconteceria amanhã. Se ela me esqueceria e fingiria que isso nunca aconteceu. A única certeza que eu tinha era do que eu queria agora: ela.

...

Até a próxima

Those Eyes - SheibiOnde histórias criam vida. Descubra agora