O caminho para o real

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Dizer que ele não gostava da nova rotina era o maior eufemismo que ele poderia pensar. Sua cabeça ficava confusa com a troca de nomes regular e era difícil pensar em si mesmo como algo além de Neil — mas ele não tinha exatamente opções a respeito disso.

Para Andrew e para si mesmo, aquele nome era o que contava, mas para o resto do mundo ele era Brandon, ao menos era até que sua mãe decidisse que eles deveriam ser outro alguém novamente.

Andrew não gostava daquilo também. Não apenas do fato de que a última vez que Neil dormiu em uma cama de verdade foi quando deixaram a mansão de tio Stuart ou o fato de que aparentemente Mary não via sentido em não usar o rosto de Neil como um saco de pancadas quando ela achasse que ele estava sendo estúpido.

Neil sabia que não estava. Se fosse apenas ele quem estivesse em perigo, talvez ele até fosse mais desatento — mas a questão é que não era. Neil não estava sozinho e suas falhas poderiam acabar refletindo diretamente em Andrew, o que era a última coisa que ele queria.

Então ele aprendeu a ser bom desde o momento em que seu amigo sorriu para ele pela primeira vez.

Era por isso que ele se esforçava nas aulas, por isso que usaria as facas sempre que fosse necessário sem reclamar mesmo que ele odiasse aquilo, por isso ele se recusava a ser como seu pai.

Neil queria mais que tudo ter Andrew ao seu lado, Andrew seguro ao seu lado. E se ele tivesse que ser da maneira que o treinaram para que isso fosse possível, ele o faria sem nem mesmo hesitar.

"Vocês não pegaram dinheiro dele antes de fugir?" Reclamou seu amigo em sua cabeça, Neil reprimiu um rolar de olhos. "Se passaram sete meses, vocês dormindo em bancos de trás de carros roubados com certeza vai chamar mais atenção que pagar um motel de merda"

"Minhas costelas não valem uma cama, Andrew" Houve uma pausa no vínculo, como estática. Acontecia quando Andrew ficava atordoado ou fora de sintonia e isso acontecia com a mesma frequência com que Andrew pensava nas surras cada vez mais recorrentes que Neil recebia da mãe. "Ei, está tudo bem"

"Eu devia cortar fora as mãos dela por tocar em você"

"Tenho certeza que você não sabe como fazer isso"

"Você me mostrou"

"Em teoria"

"Traga-me sua mãe estúpida e eu terei a prática"

É quase fisicamente doloroso suprimir a risada. Não devia ser engraçado falar com sua alma gêmea sobre mutilar permanentemente sua mãe — a mulher que estava de maneira literal fugindo pela vida dele.

Mas meio que era.

Neil não confiava em sua mãe. Claro, ele acreditava que ela estava tentando o manter vivo e que estava fazendo o que achava necessário para fazer com que aquilo acontecesse. Era uma espécie de cuidado que Neil podia entender.

Não significava que era o que ele aceitaria.

Andrew cuidava de Neil sem mãos pesadas, sem palavras ásperas ou golpes cortantes. Neil não podia confiar em sua mãe quando ele conhecia a confiança plena que Andrew havia depositado nele e ele havia dado ao outro de volta. Ele não era ingênuo assim.

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