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Natasha

O

bservando o céu alaranjado, sigo de volta para casa com minha irmã, reflexiva sobre o que ainda preciso fazer antes de dar o dia por encerrado. A rotina está puxada porque é muita coisa para resolver com certa urgência, pelo tempo de inatividade que tivemos, porém eu não me importo, será bom para manter minha cabeça ocupada, isso fará com que me sinta útil.

Mesmo já caindo a tarde, o calor continua insuportável, ou talvez porque eu esteja ativa, fazendo várias atividades de uma vez, e também com o sangue borbulhando, aquecendo minha pele pelas últimas malditas notícias.

A cidadezinha não fala de outra coisa!

Até escutar o sobrenome deles me enoja.

Nossas famílias nunca foram amigas, apesar de vizinhas, e isso é desde a época de meu pai, ele e o Joseph nunca se deram bem, desde que me conheço por gente, acredito que seja por causa da cachoeira que fica exatamente no meio das nossas propriedades. Joseph até tentou ser dono de toda a área, por causa das histórias de haver potenciais pedras preciosas lá, mas meus pais nunca quiseram vender a sua parte.

Desde que me conheço por gente, tem brigas entre nós por esse motivo e qualquer outro. Joseph nunca aceitou a recusa e decidiu tornar nossas vidas um inferno desde então.

A família Rogers é uma das mais tradicionais, então Joseph se sentia no direito de fazer o que bem entendesse, mas meu pai nunca lhe deu lugar.

Só que, quando ele morreu, a história mudou, éramos quatro mulheres em casa, e Joseph sempre aprontava alguma e se tornou ainda mais abusado após ele ter sido eleito o prefeito de mandato único, coisa que nunca vou entender, uma vez que aquele velho asqueroso nunca foi simpático com ninguém para conquistar votos e apoiadores.

Talvez tenha sido pelo seu poder aquisitivo na época e seu caráter duvidoso, já que se acha o dono da região desde sempre por ter mais hectares do que qualquer um.

Já em casa, deixo Wanda com seus livros novos e decido descer para a lavoura, que parece um mundo utópico. Geralmente entramos pelos fundos, porque parece uma chácara com os pés de frutas, mas, conforme andamos, temos todo um mundo após isso, com muita grama, plantações e céu aberto.

— Não demora, senão fica tarde para voltar! — Wan me alerta.

— Pode deixar! Não demoro! Vou ver se as flores estão boas para colheita e para serem levadas à floricultura.

Vai ser bom, no fim das contas, não escutar meus pensamentos, a aura de luto. Apesar dessa sensação não ir embora tão cedo, parece que hoje está mais intensa. Preciso pensar, espairecer e nada melhor que estar em contato com a natureza e nossas plantinhas.

Vou ligar os irrigadores e ver meu cavalo.

Gosto de cuidar do nosso singelo rancho, de colher plantas e flores, tomar banho de cachoeira, ver o pôr do sol na grama, tomar chá na varanda e correr com o meu cavalo pela mata afora, sou a única que fez questão de ter um.

Eu amo esse lugar como se fosse um santuário. O meu pequeno santuário. Aqui posso simplesmente pensar, chorar e desabafar para o céu sem me preocupar de estar sendo vista.

Majestoso vem correndo até a mim, já que fica solto pelo pasto a maior parte do tempo, e lhe faço um carinho. Muitas garotas preferem cachorro ou gato, ou até mesmo um carro zero, mas eu prefiro meu bom e velho cavalo.

Foi o último presente de aniversário que ganhei de meu pai e é o meu bem mais precioso!

Encaro o céu começando a escurecer aos poucos e suspiro, prometendo aos meus pais que irei sim ser a melhor responsável que nossa Wanda terá, mesmo que eu não consiga mais sorrir nem ser tão leve. Qualquer traço da antiga Natasha sorridente e despreocupada se esvaiu com a notícia, mas minha irmã terminará sua adolescência com a menor negatividade possível, se depender de mim.

We farmer's arms | romanogersOnde histórias criam vida. Descubra agora