Metrópole à beira-mar para mim, foi uma descoberta tardia. Já que sua publicação ocorreu em 2019, pela editora Companhia das Letras. Conhecia o autor, Ruy Castro, pela sua excelente biografia do Nelson Rodrigues, intitulada O Anjo Pornográfico. Mas embora tivesse sempre o gosto por biografias e até mesmo por romances históricos fundamentados em fatos, mas costurados pela ficção, nunca tive um certo interesse em reconstruções de períodos passados.
Coisa, que neste caso foi o fator que me surpreendeu. Metrópole à beira-mar se dispõe a contar a alvorada do século XX no Rio de Janeiro de uma forma leve e repleta de detalhes históricos. A euforia pela chegada do século XX e com ela uma série de mudanças culturais, sociais e tecnológicas são minuciosamente detalhadas e com uma dose de bom humor. Outros fatores mais densos como o fim da Primeira Guerra Mundial e a chegada da gripe espanhola no Brasil, também são muito bem retratados, com fontes e informações que chegam a causar um certo desconforto pelas descrições das situações que a cidade do Rio de Janeiro havia encarado no período.
As folias históricas, a eferverscência jornalista da cidade, junto a um ambiente regado a cultura. Repleto de teatros, "boates" requintadas, frequentadas por políticos, intelectuais, poetas e escritores renomados é uma constante muito bem retratada e presente durante todo o livro.
Transformações da época, como levantes feministas, revoluções sociais, confrontos militares no próprio país, também são fatos históricos abordados com o maior requinte e minucias nas pesquisas. Além é claro das centenas de referências, abordagem, descrições e apresentações de figuras que foram completamente importantes, não só para o cenário do Rio de Janeiro mas também para o Brasil. Como Graça Aranha, Oswaldo Cruz, Siqueira Campos, Gago Coutinho, Sacadura Cabral, Cardeal Arcoverde, João do Rio, Coelho Neto, José do Patrocínio, Olavo Bilac, Lima Barreto, Laurinda Santos Lobo, Emília Bandeira de Mello e uma infinidade de personalidades.
Metrópole à beira-mar, para mim, é um livro de abertura para esse gênero de reconstituição de um período histórico. E é claro, eu, como um bom ser que se torna obsessivo ao se encantar por novos autores ou gêneros, vou devorar toda a obra do Ruy Castro.
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Crônicas de um leitor alimentado pela insônia
Short StorySem grandes pretensões, são apenas textos sobre as impressões que tive dos livros e quadrinhos que li.