the first time that you kissed me

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O silêncio entre as salas da universidade era quebrado pelo som dos passos de Elio. Passos leves e calmos incapazes de transmitir todo o nervosismo e tensão que sentia no momento.
Elio caminhava até a sala de Oliver, no segundo andar do lado da biblioteca. Conforme ia se aproximando, notou que ele seria um dos professores que mais falava alto, e isso era bom já que conseguiria escutar sua voz mais vezes durante o dia.
Pelos vidros da janela viu ele de pé, dando passos curtos entre as mesas e cadeiras enquanto lia um livro que segurava em suas mãos de capa laranja. Alguns alunos concordavam com a cabeça a cada palavra, demonstrando estarem bem atentos. Já outros quase dormiam, como por exemplo Regina. Não se sabia ao certo, mas Regina aparentava odiar o curso e só estar lá para tentar chances com Oliver. Chances que se anularam no momento em que Oliver olhou para fora e viu Elio encostado na parede o observando.
- Certo -fechou o livro- Acho que por hoje podemos finalizar por aqui. Já devem estar exaustos de ouvir minha voz. Faltam... -olhou no relógio de pulso- Dez minutos para a aula acabar. Como estão seus trabalhos bimestrais? -Oliver começou a conversar com os alunos coisas que Elio não entendia e nem estava interessado, então usou o tempo para pensar o que comeria no almoço- Vou libera-los mais cedo por hoje então -sua voz voltou- Vejo vocês amanhã para continuarmos a discussão sobre o livro. Eu... Vou ao banheiro.

Oliver guardou suas coisas em sua bolsa transversal de couro, a colocou nos ombros e saiu andando para fora da sala se despedindo dos alunos com acenos curtos e sorrisos. Elio acompanhou todos aqueles movimentos com os olhos, e, quando Oliver pisou o primeiro pé no corredor, virou de costas e saiu andando.
Ele não estava fugindo, mas sim o guiando até a sala de instrumentos. E pelo visto o plano dava certo já que Oliver o seguia há alguns passos atrás fingindo desinteresse. Se perseguiam como gato e rato.

Antes de entrar, Elio olhou por uma última vez para trás e viu Oliver sorrindo de lado para ele. Passou pela abertura da porta e se escondeu, tentando fazer suspense.
"Onde ele se meteu?", pensou o mais velho enquanto terminava seu percurso até a sala. Parou em frente a porta e olhou dentro buscando algum sinal, mas tudo que viu foi a sala vazia.
Deu um passo para dentro.
- Elio?

Antes que Oliver pudesse ao menos pensar em suas ações, foi puxado pelo pulso esquerdo para dentro da sala numa velocidade que até hoje não consegue descrever. Escutou o barulho da porta sendo trancada com duas rodadas de chaves.
Também não teve tempo de olhar para trás, porque em seguida Elio o colocou contra a parede e encaixou seus lábios nos dele.
Era como a primeira vez que se beijaram embaixo da árvore no campo. Na verdade era mais incrível que isso.
De primeiro, Oliver se assustou e ficou olhando para a cena por alguns segundos. Porém depois cedeu como nunca havia cedido. No momento em que cedeu e puxou Elio para mais perto contra seu peito, seus lábios se abriram mais dando espaço para as línguas. Seu beijo tinha um gosto diferente aquela vez: cereja.
Os cabelos lisos de Oliver foram separados em mechas pelos dedos de Elio, que passavam por sua nuca e desciam para os ombros em movimentos lentos e delicados.
Cogitaram em parar por um segundo, mas a vontade era tanta que ignoraram o pensamento e seguiram com os beijos. Durante as pausas, sorriam largo de orelha a orelha. Aquilo tinha cheiro de passado. Era possível sentir o cheiro da relva e dos pneus das bicicletas.
As mãos de Oliver se encaixavam perfeitamente na cintura fina de Elio que mais uma vez se arrepiava a cada toque. Oliver queria tirar sua roupa, mas deixou isso para uma outra ocasião.
Depois de certo tempo os beijos foram se tornando mais violentos, profundos e velozes. Elio soltava gemidos baixos e curtos no ouvido de Oliver enquanto era beijado no pescoço.
- Se eu te ver, eu nunca vou te deixar -disse Elio em seu ouvido sussurrando. Oliver deu mais alguns beijos curtos em seu pescoço e o olhou- Vai me deixar?
- Nunca, Elio -o beijou- Eu nunca vou te deixar. Nem que eu tenha que te levar nos quatro cantos desse planeta atrás de mim, mas eu nunca vou abandonar você. Não mais -Elio retribuiu o beijo.
- Eu também não. Eu prometo.
- Eu prometo.

Aquilo não era bom, era muito bom. Estava sendo tão bom que Oliver se permitiu ficar excitado e Elio admite que gostou de sentir o volume entre as pernas (até sorriu). Oliver esqueceu totalmente de Marta naquela hora. Nem a amava de verdade, então porque iria se lembrar? Mesmo com todas as centenas de milhares de beijos que já deram durante seus anos juntos, nada daquilo superaria um único beijo de Elio. Era como se um fardo enorme que carregava em suas costas evaporasse e eles ganhasse asas e começassem a voar pelo céu de mãos dadas.

Elio sentia que tinha feito a escolha certa. Sentia que aqueles três dias e meio pensando no que faria finalmente tiveram o resultado esperado. Se arrependeu de ter pensado em abandonar Oliver por um momento. Se arrependeu de querer ir embora, se arrependeu das vezes que o ignorou pelos corredores.

Oliver também tinha arrependimentos. Se arrependia de não ter ficado na casa de Elio há dois anos atrás. Se arrependia de seu casamento. De ter dito o "sim" quando seu coração dizia "não". Se lembrava das vezes que seu cérebro magicamente transferia o rosto de Elio para o de Marta. Das vezes que quase soltava o nome do garoto em meio aos gemidos que dava quando transavam.

E agora não tinham mais com o que se preocuparem. Estavam finalmente juntos e dispostos a ficarem assim até que a morte os separasse. Quem sabe até depois. Prometeram um para o outro o "sempre". E realmente, até depois da morte, suas historias estariam eternizadas na Terra.

call me by your name againOnde histórias criam vida. Descubra agora