II. As Pegadinhas do Destino

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Ao som do despertador, Aoi acordou em desespero, gritando e xingando por causa do barulho irritante. Após desligar o despertador, contemplou o quarto iluminado pelos raios do sol da manhã. Pulou da cama e se dirigiu ao banheiro, onde a banheira luxuosa a fez refletir sobre o status que seu pai sempre ostentava. Ela entrou na água fria, relaxando por um breve momento, mas logo teve que se apressar.

Ao sair da banheira, viu seu uniforme e bolsa esperando por ela na cama, e não ficou satisfeita com a saia nem a gravata. Enquanto se vestia, relembrava das escolas onde podia usar roupas mais confortáveis. Aoi desceu as escadas e cumprimentou as empregadas com um sorriso, petrificando-as com sua beleza.

Na sala de jantar, encontrou seu amigo terminando o café.

Aoi entrou com um sorriso no rosto, chamando a atenção de Myamura para si.

— Olá! Bom dia!—  ela anunciou.

— Bom dia. Vejo que o uniforme lhe caiu bem, senhorita. —  comentou, observando-a se sentar em frente a ele.

—Não diga isso. — respondeu ela com um riso sarcástico. — Sério, eu já estava acostumada a usar calças, e agora isso. É tão antiquado, e essa gravata?—ela levantou a gravata para mostrá-la a ele. — É ridícula. Eu odeio.

Myamura riu da reação dela. Parecia que ela estava bastante revoltada.

— Isso porque é apenas o uniforme de verão. —  informou com diversão, sabendo que isso a deixaria ainda mais chateada.

— Nem foden-

— Onde estão seus modos?— ambos se viraram ao mesmo tempo para a voz que chegou.

Aoi não estava preparada para o que aconteceu a seguir. Quando finalmente recobrou seus sentidos, encontrou seu pai sentado onde Myamura estivera antes, enquanto este último se retirava para organizar o carro.

— O que aconteceu? Eu disse que estaria aqui para tomar café com você. — ele se explicou diante do olhar surpreso de sua filha.

— É. Mas é a primeira vez que te vejo cumprindo uma promessa — Aoi não se importou em diminuir o tom de voz. Na verdade, ela queria que ele ouvisse.

Se ele ouviu, não demonstrou nenhuma reação ou fingiu não se importar.

Seu pai tentou puxar assunto, perguntando:

— Animada para o seu primeiro dia?

Aoi o analisou cuidadosamente. Não era comum que ele lhe perguntasse como se sentia em relação a qualquer coisa. Ela não conseguia discernir o que se passava por trás daquelas íris azuis escuras. Tudo que conseguiu perceber foi um homem cansado, com pés de galinha começando a se formar, um sorriso cuja autenticidade era difícil de avaliar e uma testa que começava a se vincar pela expectativa de sua resposta.

—  Sabe, se quiser mesmo saber... eu costumava gostar da minha antiga escola.

— Eu sei, querida. — ele suspirou, parecendo cansado. — Mas olhe pelo lado positivo, agora estamos no mesmo lugar, na mesma casa!

— Mas parece que não estamos. — Aoi desmoronou na cadeira, deixando cair o garfo no pires com um som que atraiu a atenção do segurança que estava ali.

—  Aoi, por favor, mantenha a postura. Não estou com disposição para iniciar uma discussão. — seu pai interveio rapidamente, a voz dura.

—  Claro, claro. — se endireitou a contra gosto.

O silêncio que pairava entre eles era desconfortável, destacando a falta de habilidade para a comunicação dentro da mesma família. Aoi refletiu sobre sua atitude anterior e admitiu seu erro. "Ele está tentando, não é?" Compreendendo que tinha sido injusta, ela decidiu recomeçar, deixando seus lábios se curvarem em um sorriso fraco.

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