I. Meu Começo Infeliz

1.1K 108 909
                                    

O avião se aproximava do seu destino, ela permanecia inquieta em sua cadeira, com os fones nos ouvidos, tentando abafar os barulhos do avião. Cada segundo a deixava mais agitada, com crianças chorando, anúncios desnecessários e aeromoças oferecendo salgados e doces. Ela finalmente encontrou refúgio ao usar seu MP3. Durante todo o voo, não parou de resmungar e praguejar contra seu pai, relembrando a vida nômade que levara.

Apoiada em seu assento, os olhos azuis dela estavam fixos na janela do avião, como se estivessem desejando poder permanecer no céu para sempre, livrando-se das complicações que a aguardavam em terra firme. Sentia uma profunda aversão por sua cidade natal, um lugar cheio de lembranças e segredos que preferiria esquecer. O segredo mais sombrio da vida do seu pai, principalmente.

Aoi nunca encontrou um confidente confiável para compartilhar seus segredos, eles sejam bons, ruins ou obscuros. Não havia aquele amigo dos mangás, alguém que ficasse forte para ajudá-la a seguir o melhor caminho ou que fosse um rival disposto a dar conselhos. Em vez disso, estava a enfrentar uma nova escola sem nenhum amigo que pudesse falar por ela quando fosse se apresentar.

Enquanto o Capitão anunciava a aproximação do avião ao Aeroporto Internacional de Tóquio, Aoi suspirou aliviada por ter uma razão para tirar seus fones de ouvido. Ela olhou pela janela, considerando as possibilidades de permanência nas alturas, como uma borboleta, escapando de suas preocupações.

                                       

Finalmente, o avião aterrissou, e Aoi encontrou-se no enorme Aeroporto Internacional de Tóquio, que tinha crescido e mudado desde a última vez que esteve lá. No entanto, ela não estava lá para apreciar a paisagem. Sentia dor no corpo, uma imensa vontade de dormir, depois de horas de vôo em uma cadeira desconfortável.

Diante do desafio de enfrentar a mudança repentina de seu pai, Aoi avançou pelo aeroporto, despertando olhares curiosos devido à sua beleza única, com olhos azuis profundos, cabelo preto, pele impecável e um corpo que a faz parecer mais velha do que seus quinze anos .

Uma única coisa em sua mente: estava determinada a não ficar na sombra do nome de seu pai, que a tornava alvo da atenção indesejada e das expectativas que não queria cumprir.


Ao chegar no ponto de encontro, não viu ninguém inicialmente, até uma voz estridente alcançar seus ouvidos.

— Sai da frente!!!

A tentativa de aviso não resultou em nada. Em poucos segundos ela e outra pessoa se chocaram e caíram no chão.

—Ai... Merda — Aoi xingou começando a sentir uma dor em suas costas.

A pessoa que colidiu com ela, fazendo-a cair, já estava se endireitando quando o acidente ocorreu, uma quantidade enorme de garotas, também passaram a todo vapor. Num breve instante, tudo o que conseguiu vislumbrar foi uma única mecha de cabelo, que dançava levemente no tom azul. Antes que pudesse processar o que aconteceu, a misteriosa figura simplesmente desapareceu na distância, deixando-a estendida no chão.

— Nem pra pedir desculpas... Se eu encontrar esse idiota na rua... — ela se perdeu em murmúrios de frustração, tão absorta em seus pensamentos que nem percebeu a presença de um homem se aproximando.

— Desculpe, senhorita! Eu deveria ter ajudado — ao erguer a cabeça, ela se deparou com seu motorista, Myamura Hito, parado à sua frente com uma expressão de preocupação e olhos baixos, claramente desapontado. — Me desculpe pela demora... A bateria do meu relógio acabou e não pude ligar para avisar que chegaria atrasado... — ele explicou, com medo evidente em seus olhos.

 MotivoOnde histórias criam vida. Descubra agora