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In sleep he sang to me,

 in dreams he came. 

That voice which calls to me, 

and speaks my name. 

Bryanna sentira que algo não estava correto desde que os fracos raios de sol adentraram em seu quarto, se emaranhando nas cortinas pesadas e fazendo pequenos desenhos de sombras sob o chão. A garota não dormia muito, pois geralmente seus sonhos eram tomados por cenas sem sentido que a deixavam perturbada, e era exatamente por esse motivo que sabia que aquele não seria um dia comum. Desta vez não houvera sonho algum, e a noite havia sido preenchida por uma incrível sensação de vazio que a ninou por um sono calmo e seguro. Assim, quando o primeiro sinal de claridade a atingiu, seus olhos abriram de imediato, e seu coração disparou na velocidade de um cavalo selvagem.

"O que estava acontecendo? Por quanto tempo dormira?" eram pensamentos que dominavam a garota, enquanto procurava pelas velas acesas que sempre a guiavam pela escuridão da noite. Elas haviam apagado e sido reduzidas, o que indicava que aquela noite em particular pudesse ter durado mais do que as demais. Assim, Bryanna se sentou sobre a enorme cama e encarou o nada por alguns minutos, apenas tomando consciência das pequenas mudanças que ocorriam a sua volta. Por que não havia sonhado? O que era aquela espécie de nó que se formava em peito? Como que cada inspirada e exalada de ar pareciam ser sua salvação e punição ao mesmo tempo? Bryanna não conseguia responder a nenhuma dessas perguntas. Sentindo que estava prestes a consumir todo o oxigênio que havia no cômodo levantou-se, e em um movimento rápido segurou os tecidos da enorme cortina, afastando-os uns dos outros, sendo banhada pela luz solar do novo dia que nascia a sua frente.

O Reino de Langford era um lugar repleto de belezas naturais. As aldeias que cercavam o castelo eram lar de centenas de aldeões que utilizam seus ofícios a fim de satisfazer o Rei, e em troca de parte de alimentos, tecidos, jóias e outros bens, ele permitia que os moradores permanecessem sob seu teto e proteção. Em volta de toda extensão povoada do reino uma grande muralha, protegendo as terras dos ataques vizinhos. Os bosques, campos e matas fechadas que os cercavam também eram protegidos por soldados em suas fronteiras. Deste modo, da janela do quarto de Bryanna era possível ver a vastidão das terras de seu pai, permeadas por moradias, seguida de árvores e vida, se transformando em um imenso campo aberto, que continuava seu curso até onde tudo se perdia de vista.

O céu estava levemente nublado e o vento frio que marcava o início do inverno batia tímido nos vitrais do quarto da garota, quase como se estivessem conversando com ela. Com esse pensamento, Bryanna soltou uma risada sem graça, seguida de um suspiro. Era muito tolo achar que o vento realmente estava tentando falar com ela, passar alguma mensagem. Mas aquela era Bryanna. Como uma sonhadora nata, ela acreditava em absolutamente tudo, principalmente no poder das palavras e no simbolismo que trazia. Era impossível que a vida fosse somente aquilo que permeava sua volta: Uma terra para governar, herdeiros para criar, inimigos para se punir. Devia existir mais, tinha que existir mais.

Foi pensando no quanto se sentia estranha e melancólica que Bryanna deixou seus pés a levarem para uma das portas em seu quarto, que o ligava ao cômodo de vestir. O local estava escuro, ainda coberto pelas mesmas pesadas cortinas de seu quarto. Aquilo era inusitado. Suas damas geralmente acordavam muito antes da garota levantar e deixavam o quarto pronto, pois sabiam de a preferência de milady vestir a si mesma. Mas vendo o quarto intocado e ainda escuro como noite, a sensação de estranheza que sentiu ao acordar voltou a incomodá-la. A luz vinda da porta aberta entre os cômodos foi o suficiente para Bryanna se movimentar e identificar o primeiro vestido de mangas apropriado para passar o dia. Assim, a garota tirou suas vestes de dormir, mantendo apenas sua roupa de baixo.

Unforgettable - By Ramana HeringerOnde histórias criam vida. Descubra agora