𝙉𝙤𝙬 𝙤𝙧 𝙣𝙚𝙫𝙚𝙧.

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A festa foi uma loucura. O único momento em que me senti eufórica, foi quando Marília esteve sobre minha boca. O gosto dela era divino, coisa de outro mundo. Seu gosto era natural, o que tornava tudo mais viciante. Gosto feminino. Eu era apaixonada por cada parte do seu corpo. Seus olhos castanhos escuros era minha perdição. Somos faíscas. Adrenalina. Apesar da Inconstância que há entre nós, eu nunca vou me cansar de estar com ela.

A Lauana ultimamente anda me perguntando do por quê estou a ignorando. O motivo é explicito, mas poucos sabem. Somente Maiara sabe. Desde do nosso último encontro, prometemos sigilo, já que Marília não conseguiu enxerga-la. Seu rosto estava coberto por seus longos cabelos castanhos. E apesar da pouco luz daquela festa, qualquer pessoa emocionalmente estável, conseguiria reparar e fixar os traços do rosto de uma desconhecida tão conhecida. Eu não odeio a Lauana. Marília tinha suas suspeitas sobre quem seria a pessoa a qual eu fiquei naquela maldita festa, mas eu não era louca de expor quem. Eu sei, prezamos por diálogo, mas no abismo em que estávamos, declarar quem foi, talvez, fosse o fim. Marília surtaria, choraria. E talvez com razão. Eu não menti, somente omiti. Eu não queria uma guerra instalada entre as duas. Eu estava farta de tanta instabilidade. Eu só queria paz e eu sei que não irei conseguir paz até estar estável com Marília.

O beijo entre Lauana e eu não foi intenso. Foi bom, mas não houve química. Foi pura adrenalina de bebida no corpo e raiva. Raiva por saber que Marília ficou com o Matheus, e raiva da parte da Lauana por motivos pessoais. Sempre conversamos e naquela noite havíamos combinado de sairmos juntas.

Flashback's. [...]

Fui até ao hotel em que Lauana estava hospedada. Lauana estava visitando a cidade e como citei, fui encontrá-la para sairmos e colocarmos o papo em dia. Inesperadamente, Lauana comentou sobre a festa que aconteceria. A maldita festa. Por impulso, sem cogitar, aceitei.

Em poucas horas estavamos no local. Bebemos, dançamos e relatamos como estavam as nossas vidas. Um caos.

Lauana: Ultimamente minha vida está horrenda. Sério, eu precisava esvaziar. Estou farta de problemas. - Comentou Lauana apoiando seu cotovelo sobre a bancada e descansando sua cabeça.

- Eu te entendo. Ultimamente tudo que eu queria era pegar minha mala e sair sem rumo. No palco eu me alegro, em casa eu... É, minha vida está uma merda. - Conclui virando um pouco do coquetel em minha garganta.

Nada doia mais do que a dor de um amor impossível.

Bebemos sem parar e conversamos. Lauana tem uma personalidade forte e é super destemida. Seu relacionamento acabou há pouco tempo e fins de relacionamentos são extremamente difíceis e horrendos. Eu odeio despedidas, então a compreendo.

Alcoolizadas, nos encaramos por alguns instantes. Tropecei, sem querer, em um fio que estava sobre o chão. Fiquei frente a frente à Lauana, com os nossos corpos colados. Sua respiração se descontrolou ao sentir minha pele quente ir de encontro a sua. Extasiadas. Inconscientes.

Seus lábios pousaram sobre os meus, deslizando lentamente em um movimento repentino. Não neguei. Jamais. Apoiei minhas mãos em seu pescoço, deliciando-me dos seus lábios carnudos e molhados. Seu beijo não era ruim, mas nos faltava algo: química. Na hora, eu só me permiti. Eu faria de tudo pra esquecer a maldita da boca da Marília. Enfiei meus dedos em suas mexas de cabelo, intensificando mais ainda o nosso beijo. Se continuassemos no mesmo ritmo, parariamos na cama. É. De fato.

Me deliciava em seu beijo. Atordoada, me afastei da Lauana ao ouvir uma voz feminina que eu conhecia muito bem. Maiara. Cacete!

"O que cê tá fazendo, Maraisa?", aquela frase se repetia repentinamente em minha cabeça. Eu estava bêbada. Não estava consciente o suficiente para entender o que de fato estava acontecendo. A louca da minha irmã gritava sem parar.

Meus olhos fixaram rapidamente em Marília, que estava imóvel. Em seus olhos eu pude ver sua dor. Seus olhos lacrimejavam. De longe, eu pude sentir o seu coração batendo ligeiramente. Agora você sente a dor que senti ao imagina-la aos beijos de outro. E apesar de te odiar, eu não queria te machucar. Você é o meu penhasco, mas eu jamais permitiria que você caísse.

Retornei os meus olhos para Maiara. Revirei meus olhos não suportando ouvir a voz dela. Ela não tem culpa, mas um bêbado odeia ouvir reclamações.
- Por quê você fez isso? - Questionei, procurando Lauana com os olhos.

[..]

Não há como reverter. O que aconteceu na festa, foi inesperado. O consumo de raiva e tesão foi depositado em minha boca, mas eu sei que uma hora ou outra essa conversa viria a tona, e bom, eu não sou de mentir. Ou Maiara contaria, ou eu. É melhor ouvir da minha boca o que lhe causaria dor, do que ouvir de outra boca sobre o seu amor.

Mais tarde, terminava de me arrumar. Dessa vez, sairíamos somente ela e eu. Era necessário uma conversa franca. Uma conversa adulta. Precisávamos colocar na balança o que aconteceria dali pra frente. Ou encaravámos esse amor de vez, ou partiríamos.

Peguei minhas coisas apressadamente e parti. Em meu carro, ouvia "Quero você do jeito que quiser", composição nossa. Lembro-me quando ouvi da sua boca que eu era sua. Pela a primeira vez me senti viva. Não há dependência, não, eu somente a amo. Eu a amo demais.

No restaurante, optei por sentar um pouco distante. Através da janela era visível a movimentação brusca dos carros. Estávamos no terceiro andar, distante dos demais. A espera estava me dando nos nervos. Quem costuma se atrasar sou eu, mas por alguma razão ela estava atrasada.

Vagava pelo o Twitter, correspondendo algumas dms e rindo das movimentações e dos comentários cômicos dos nossos fãs. Eles não faziam ideia de como estávamos. Éramos um tanto sigilosa, porém só não enxergava quem não queria.

Marília sussurrou baixinho em meu ouvido, por distração acabei não a vendo. Estava ocupada demais respondendo os meus fãs. Meu corpo inteiro foi tomado por arrepios. Se não fosse o seu sussurro, eu diria que algum espírito me tocava. Maldita. Meu corpo reage instantaneamente com qualquer movimentação daquela mulher.

Marília utilizava um vestido preto tubo totalmente colado em seu corpo. Seu corpo definido era minha ruína. Eu poderia arrancar esse vestido com as mãos ali mesmo e fode-la em cima dessa mesa.

"Maraisa, foco!"

- Oi, meu amor! - Apoiei minhas mãos sobre a mesa dando impulso em meu corpo. Estar frente a frente à ela era uma missão um pouco difícil. Seu perfume radiante inalava em meu nariz. Irresistível.

Marília: Oi, gostosa! - Disse me olhando de cima a baixo. Seus olhos me comiam lentamente.

Nos encaramos por alguns minutos e nos beijamos carinhosamente. Apesar da probabilidade de nos provocarmos ali mesmo, eu teria que resistir. Resistir o corpo maldito que me tira a paz. Resistir a sua boca gostosa contornada por um batom rose. Resistir ao ser humano mais gostoso e que, coincidentemente, pertencia a mim.

Resistir a Marília Mendonça.

Assentamos sobre as cadeiras. Suspirei fundo tentando iniciar o diálogo.
- Então, eu tenho algo pra lhe contar. Você quer pedir algo para beber? - Falei acionando o barman com o olhar.

Marília: Pode ser um vinho. Aliás, que noite bonita. O que tem de tão sério e urgente? - Interrogou-me, fitando meus olhos.

Aguardavámos ansiosamente o nosso vinho. Poucos minutos depois, o garçom colocou sobre nossas mesas duas taças bordeaux, que tem bojo grande e borda estreita, excelentíssima para uma boa degustação de vinho. Serviu-nos e retirou-se do espaço, nos deixando a sós. A lua clareava o lugar. Havia pouco luz no espaço em que estávamos.

- Eu preciso lhe contar algo. Na noite em que nos encontramos, infelizmente, na balada. Eu... - Suspirei fundo tentando encontrar coragem. Levei a taça até os meus lábios, ingerindo um pouco do vinho forte que escolhemos.

Marília: Você o quê? - Seu olhar era confuso e sua voz temia a minha resposta.

- A menina a qual eu fiquei se chamava Lauana Prado.

Marília: Co-mo... Como é, Maraisa? - Marília semicerrou os olhos, deixando um suspiro de ódio tomar conta do lugar. Antes que ela levantasse, coloquei minhas mãos sobre as duas, pedindo baixinho para que ela ficasse.

Eu não poderia deixá-la ir. Não dessa vez.

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