Capítulo 1

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Angel

― Bom dia, dona Angel! O dia está ensolarado. Já pedi para a Soledade caprichar no almoço e arrumei todo o salão. Hoje o restaurante vai encher de turista.

― Se Deus quiser, Cirilo! Pediu para a Sol também a bandeja de café da manhã? ― sorri para meu braço direito aqui na pousada.

― Está tudo pronto! A senhora vai levar?

― Vou sim ― toquei seu braço. ― Qualquer coisa me avise.

― Pode deixar, mas está tudo sobre controle.

Sai da varanda da recepção que tinha como vista o mar e fui para cozinha pegar o café da manhã do meu hóspede especial.

Cumprimentei todos os clientes no caminho e cheguei ao quarto que havia separado para ele, ao lado do meu, entrando em silêncio. O homem ainda dormia e sorri aliviada vendo que estava sereno. Nunca me perdoaria se alguma coisa tivesse acontecido.

Meu desejo era que ele pudesse dormir até o corpo e principalmente sua mente se sentissem descansados, mas meu lado desastrado não deixou.

― Droga! ― gritei depois de bater o dedinho do pé na quina da cama, quase derrubando a bandeja.

― O quê... ― meu hóspede acordou assustado, olhando-me confuso. ― Quem é você?

― Calma! ― respirei fundo pela dor e também por vê-lo ali sem camisa na minha frente. Eu não podia negar que aquele homem era lindo demais.

Moreno, ele tinha os olhos claros. O braço esquerdo e parte do peitoral eram inteiro tatuado, com músculos que definiam todo seu corpo. E para completar, seu rosto quadrado era moldurado por uma barba bem cortada.

― Onde estou?

― Eu vou responder todas as suas perguntas. Só me dê um minuto. Acho que quebrei o dedinho ― mordi os lábios, mancando até a mesinha, acomodando a bandeja.

― Você está bem? ― ele fez menção de levantar, mas percebeu que estava apenas de cueca.

Não! Eu não tirei sua roupa, apesar de não achar a ideia ruim. Só o que fiz foi deixá-lo no quarto. Vestido.

― Estou. Fique tranquilo. Não se lembra de nada? ― voltei para a cama, sentando na beirada, esfregando o pé.

― Está tudo muito confuso. Nós não... ― apontou para mim, o café da manhã e por fim, ele.

― Não! Claro que não ― tratei de tranquilizá-lo. No entanto acho que causei um sentimento reverso.

― Óbvio que não ― riu sem humor. ― Quem iria se interessar por um homem tão ridículo como eu.

Há quanto tempo será que ele não se olhava no espelho? Porque vou dizer uma coisa... Vale-me, Nossa Senhora de Guadalupe.

― Eu te encontrei ontem no pé do penhasco. Lembra disso? ― resolvi explicar logo de uma vez e ele assentiu, balançando a cabeça. ― Trouxe você para cá, pois não sabia, quer dizer, ainda não sei quem é. Espero que tenha dormido bem. Meu nome é Angelique, mas todos me chamam de Angel ― sorri, mas não tive retorno. Sua fisionomia ainda era amargurada.

― Nome propício para um anjo salvador.

― Viu só, já está até brincando ― tentei aliviar a tensão... Em vão.

― Eu não sou um homem que costuma brincar, Angelique. Apesar de todos ao meu redor adorarem me fazer de palhaço.

― Bem... ― engoli seco, encarando um pouco mais. ― Essa é a minha pousada e você pode ficar aqui o tempo que quiser. Mesmo não sabendo nada sobre você, acredito que lhe faria muito bem alguns dias de descanso ― levantei. ― Vou deixá-lo à vontade, trouxe algumas coisas para você comer e se quiser conversar, ou até mesmo conhecer a redondeza, estarei na recepção à sua disposição.

Os Segredos De Diogo Maldonado DEGUSTAÇÃO Onde histórias criam vida. Descubra agora