Capítulo 11

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— Então seu parceiro é casado com uma psiquiatra.

Carla baixou a janela, acendendo um cigarro. O jantar relaxara-a. Arthur relaxara-a, corrigiu. Era uma pessoa tão fácil com quem se conversar e tinha uma forma bem doce e divertida de ver a vida.

— Se conheceram num caso em que trabalhávamos alguns meses atrás. — Ele lembrou-se de parar no cruzamento. Afinal, Carla não era Rodollfo. Não se parecia com ninguém mais que conhecera. — Você na certa se interessaria, pois se tratava de um assassino em série.

— Sério? — Ela nunca questionou sua fascinação pelo assassino. — Já saquei, foi chamada pra traçar um perfil psiquiátrico.

— Sacou mesmo.

— É boa de verdade?

— A melhor.

Carla assentiu com a cabeça, pensando em Viviane.

— Eu gostaria de conversar com ela. Talvez a gente possa fazer um jantar festivo. Viviane quase não confraterniza com ninguém.

— Está preocupada com ela.

A escritora exalou um pequeno suspiro quando contornaram a esquina.

— Sinto muito. Não queria estragar a sua noite, mas acho que não fui a melhor das companhias.

— Eu não estava me queixando.

— Porque é educado demais. — Quando ele parou na garagem, ela curvou- se e deu-lhe um beijo no rosto. — Por que não entra e toma um café... não, você não toma café, é chá. Faço um chá pra compensar.

Já saltara do carro antes que ele pudesse descer e abrir-lhe a porta.

— Não tem de compensar nada pra mim.

— Eu gostaria da companhia. É provável que Vivi já tenha ido dormir a essa hora, e eu vou apenas ficar ansiosa. — Remexeu na bolsa à procura das chaves. — Também podemos conversar sobre quando você vai me levar na excursão ao distrito policial. Droga, sei que está em algum lugar aqui. Seria mais fácil achar se Vivi tivesse deixado a luz da varanda acesa. Pronto. — Ela destrancou a porta e largou as chaves descuidadamente no bolso. — Por que não se senta na sala de estar e liga o estéreo, ou qualquer coisa, enquanto eu pego o chá?

Despiu o casaco enquanto andava e jogou-o com negligência numa cadeira. Arthur pegou-o quando escorregou para o chão e dobrou-o. Cheirava como ela, pensou. Então, dizendo a si mesmo que era tolice, estendeu-o no encosto da cadeira. Atravessou a sala até a janela para examinar o trabalho de acabamento. Era um hábito adquirido desde que comprara a casa. Passando um dedo pelo remate, tentou imaginá-lo na própria janela.

Ouviu Carla gritar o nome da irmã, como uma pergunta, e depois chamá- la repetidas vezes. Encontrou-a ajoelhada ao lado do corpo da irmã, puxando-o, gritando. Quando a levantou, ela se engalfinhou com ele como um tigre.

— Me solte. Maldito, me solte. É Vivi.

— Vá pro outro quarto, Carla .

— Não. É Vivi. Oh, meu Deus, me solte. Ela precisa de mim.

— Obedeça. — Com as mãos firmes nos ombros dela, ele protegeu-a do corpo com o seu próprio e deu-lhe duas sacudidas fortes. — Vá agora pro outro quarto. Eu cuido dela.

— Mas eu preciso...

— Quero que me escute. — Ele manteve o olhar duro nos olhos de Carla, reconhecendo o choque. Mas não podia mimá-la, acalmá-la nem envolvê-la com uma manta. — Vá pro outro quarto. Ligue para o 190. Pode fazer isso?

— Sim — concordou e cambaleou para trás. — Sim, claro. Emergência. Ele viu-a sair correndo e virou-se para o cadáver. O 190 não iria ajudar

Viviane Diaz Breezewood, Arthur pensou. Agachou-se ao lado dela e agiu como um policial.

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