— Então seu parceiro é casado com uma psiquiatra.
Carla baixou a janela, acendendo um cigarro. O jantar relaxara-a. Arthur relaxara-a, corrigiu. Era uma pessoa tão fácil com quem se conversar e tinha uma forma bem doce e divertida de ver a vida.
— Se conheceram num caso em que trabalhávamos alguns meses atrás. — Ele lembrou-se de parar no cruzamento. Afinal, Carla não era Rodollfo. Não se parecia com ninguém mais que conhecera. — Você na certa se interessaria, pois se tratava de um assassino em série.
— Sério? — Ela nunca questionou sua fascinação pelo assassino. — Já saquei, foi chamada pra traçar um perfil psiquiátrico.
— Sacou mesmo.
— É boa de verdade?
— A melhor.
Carla assentiu com a cabeça, pensando em Viviane.
— Eu gostaria de conversar com ela. Talvez a gente possa fazer um jantar festivo. Viviane quase não confraterniza com ninguém.
— Está preocupada com ela.
A escritora exalou um pequeno suspiro quando contornaram a esquina.
— Sinto muito. Não queria estragar a sua noite, mas acho que não fui a melhor das companhias.
— Eu não estava me queixando.
— Porque é educado demais. — Quando ele parou na garagem, ela curvou- se e deu-lhe um beijo no rosto. — Por que não entra e toma um café... não, você não toma café, é chá. Faço um chá pra compensar.
Já saltara do carro antes que ele pudesse descer e abrir-lhe a porta.
— Não tem de compensar nada pra mim.
— Eu gostaria da companhia. É provável que Vivi já tenha ido dormir a essa hora, e eu vou apenas ficar ansiosa. — Remexeu na bolsa à procura das chaves. — Também podemos conversar sobre quando você vai me levar na excursão ao distrito policial. Droga, sei que está em algum lugar aqui. Seria mais fácil achar se Vivi tivesse deixado a luz da varanda acesa. Pronto. — Ela destrancou a porta e largou as chaves descuidadamente no bolso. — Por que não se senta na sala de estar e liga o estéreo, ou qualquer coisa, enquanto eu pego o chá?
Despiu o casaco enquanto andava e jogou-o com negligência numa cadeira. Arthur pegou-o quando escorregou para o chão e dobrou-o. Cheirava como ela, pensou. Então, dizendo a si mesmo que era tolice, estendeu-o no encosto da cadeira. Atravessou a sala até a janela para examinar o trabalho de acabamento. Era um hábito adquirido desde que comprara a casa. Passando um dedo pelo remate, tentou imaginá-lo na própria janela.
Ouviu Carla gritar o nome da irmã, como uma pergunta, e depois chamá- la repetidas vezes. Encontrou-a ajoelhada ao lado do corpo da irmã, puxando-o, gritando. Quando a levantou, ela se engalfinhou com ele como um tigre.
— Me solte. Maldito, me solte. É Vivi.
— Vá pro outro quarto, Carla .
— Não. É Vivi. Oh, meu Deus, me solte. Ela precisa de mim.
— Obedeça. — Com as mãos firmes nos ombros dela, ele protegeu-a do corpo com o seu próprio e deu-lhe duas sacudidas fortes. — Vá agora pro outro quarto. Eu cuido dela.
— Mas eu preciso...
— Quero que me escute. — Ele manteve o olhar duro nos olhos de Carla, reconhecendo o choque. Mas não podia mimá-la, acalmá-la nem envolvê-la com uma manta. — Vá pro outro quarto. Ligue para o 190. Pode fazer isso?
— Sim — concordou e cambaleou para trás. — Sim, claro. Emergência. Ele viu-a sair correndo e virou-se para o cadáver. O 190 não iria ajudar
Viviane Diaz Breezewood, Arthur pensou. Agachou-se ao lado dela e agiu como um policial.
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Virtude Indecente
FanficQuando Carla Diaz, uma famosa escritora policial, vai visitar sua irmã, Viviane, pretendendo relaxar e espairecer da cansativa turnê de lançamento de seu novo best-seller, fica chocada ao descobrir que Viviane mora num subúrbio decadente do Rio de J...