[EXTRA 1] 우리 가족

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Nossa família.

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ㅡ O quê? ㅡ Jungwon parece um pouco perplexo ㅡ Jay, você disse que quer o quê?

Ainda sentado na cadeira, eu limpo a garganta, pronto para repetir.

ㅡ Eu quero adotar uma criança ㅡ digo; havia levado meses para que eu tomasse coragem para falar isso em voz alta.

ㅡ Você sabe as responsabilidades que isso implica? ㅡ questiona, de sobrancelhas arqueadas.

ㅡ É claro que sim...

O mais jovem suspira, se recostando no assento. Às nossas costas, o mar grita sua força e astúcia à pequena Jeju*, a essa altura já poente. Estamos de férias em Hallim* há uma semana, e até que enfim nós nos sentamos para falar do assunto que ultimamente vem mexendo com a minha cabeça mais do que o normal.

ㅡ Quando você... ㅡ ele parece ponderar bem suas palavras antes de proferi-las ㅡ Quando começou a pensar nisso?

ㅡ Há anos; não me lembro exatamente quando...

Ele morde o lábio, parecendo tenso.

ㅡ Somos um casal... com dois homens, Jay... Acha mesmo que vamos conseguir adotar uma criança desse jeito?

ㅡ Podemos tentar; não custa nada.

Jungwon descansa o peso do corpo sobre uma perna, parando para pensar enquanto encara um ponto qualquer na sua frente.

Eu e ele já estamos com 31 e 29 anos, respectivamente. Nós estamos juntos há quase 12 anos, e oficialmente casados há 5 ㅡ o casamento homoafetivo foi legalizado na Coréia do Sul numa primavera há seis anos. Estamos na fase onde as pessoas começam a nos perguntar se temos planos de ter um bebê, de alguma maneira.

Já havíamos conversado sobre o assunto algumas vezes há algum tempo, mas nunca expressamos em palavras o desejo de tornar isso real ㅡ apesar de eu saber o quanto Jungwon ama crianças.

ㅡ Você tem certeza do que está dizendo? ㅡ pergunta, com a expressão ainda um pouco preocupada ㅡ Não está brincando, está?

ㅡ Jungwon, eu quero ter um filho com você ㅡ digo, enfático ㅡ Ou... quem sabe uma filha...

ㅡ Uma filha?

ㅡ É, por que não? ㅡ falo, e um sorriso minúsculo surge em seu rosto arredondado, mas logo some de vista.

ㅡ Não me deixe sonhar, Jongseong...

Eu solto um suspiro inaudível.

ㅡ Meu amor, você costuma ser tão otimista... Por que está assim agora?

Ele caminha até mim, sentando-se ao meu lado.

ㅡ Eu só estou com medo...

ㅡ De não conseguirmos?

Ele assente.

ㅡ Não quero me dar esperanças para não ter de lidar com a decepção que pode vir depois.

ㅡ Nós já enfrentamos e alcançamos tantas coisas juntos... ㅡ eu afago sua cabeça.

ㅡ Mas nada foi como isso...

ㅡ O nosso casamento sim. Talvez tenha sido até pior...

Ele morde o lábio, sem argumentos para retrucar.

ㅡ Vamos lá semana que vem, dar uma olhada nas crianças e falar com a administração... Mas claro, sem compromisso... O que acha?

ㅡ Sem compromisso?

ㅡ É, só pra ver no que é que dá... ㅡ eu dou de ombros.

Jungwon analisa a proposta por algum tempo, beliscando a toalha ainda úmida ㅡ ainda pendurada sobre a cadeira ㅡ, até que enfim aceita meu pedido, assentindo vagarosamente com a cabeça.

Ele está tentando manter suas expectativas baixas, e eu o entendo, mas ainda assim, não consigo evitar de me sentir um pouco eufórico com a probabilidade ㅡ ainda que pequena ㅡ de realizar o sonho de aumentar um pouco mais a nossa família.

ㅡ Obrigado por ser tão corajoso, apesar de tudo ㅡ falo, ameno ㅡ Eu amo você.

Um sorriso surge em seu rosto, iluminando um pouco sua figura que ficou ligeiramente sombria com a nossa conversa.

ㅡ Eu também amo você ㅡ fala, e se inclina em minha direção, depositando um beijo em minha fronte.

Qualquer pequeno gesto dele já é o suficiente para aquecer meu corpo e agitar meu coração. Honestamente não consigo mais imaginar uma vida onde eu não estivesse ao seu lado.

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Quando a nossa viagem chegou ao fim, nós seguimos para um orfanato no leste de Seoul, onde fomos bem recebidos pela administração, que nos levou para conhecer as crianças. Tudo estava dando tão certo, que parecia até mentira.

Haviam muitas crianças lá, mas no meio das demais nenhuma era como ela...

Hani já tinha 10 anos, mas era pequena para a idade. Apesar de sua miudeza, ela tinha uma enorme desenvoltura e era muito divertida, o que nos cativou na hora. Voltamos lá outras vezes para vê-la até termos certeza absoluta de que iríamos nos dar bem. Não tivemos grandes problemas em adotá-la, o que foi bastante chocante para Jungwon, em particular.

Nós dois a criamos da melhor forma que conseguimos, e foi indescritível vê-la crescendo, descobrindo seus talentos e as coisas que gosta ou detesta ㅡ o que não eram poucas, diga-se de passagem. Já adulta, Hani se apaixonou, casou-se, e então seu amor deu frutos: nossa pequena Bam nasceu, com seus reluzentes e enormes olhos castanhos, que mais pareciam dois caramelos.

Nossa família floresceu de diferentes e lindas formas, nos dando forças e motivos para sorrir todos os dias. Ainda que o dia não tivesse sido dos melhores, ainda tínhamos um ao outro, e isso já era o suficiente.

Como Jungwon diz, "nosso amor não teve a grandiosidade de um filme épico, mas sim a equivalência de um drama romântico mas com um final feliz". Quando o conheci na Toscana, eu logo soube que ele era aquele tipo de pessoa ㅡ do tipo que faria eu me apaixonar ㅡ, mas não cogitava que esse sentimento tomaria tamanha proporção, ou que poderia ser recíproco.

Como o Park Jongseong de 19 anos recém completados poderia imaginar o seu futuro como ele é atualmente? A resposta é: ele não podia... não ainda... Mas amar Yang Jungwon me mudou sem que eu me desse conta; minha forma de pensar, agir, falar...

E tudo graças a bendita câmera que eu ganhei do meu pai como presente de aniversário em abril daquele mesmo ano. Naquela noite eu não consegui olhar para Jungwon e não fotografá-lo.

Quem diria que isso acabaria me trazendo até aqui?

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Glossário:

Jeju - também conhecida como ilha dos deuses, é uma província sul coreana de origem vulcânica.

Hallim - cidade litorânea localizada na ilha Jeju.

Last summer, when I bloomed • JaywonOnde histórias criam vida. Descubra agora