IV - Sophie

268 11 2
                                    

Fiquei a olhar para o telemóvel de boca aberta. O meu primeiro pensamento foi que seria o David, mas depois pensei que ele teria mais que fazer do que me mandar mensagem. Podia ser alguém da equipa dele que tivesse ficado responsável pelo guarda-roupa e tivesse encontrado o papel e tinha decidido mandar mensagem só por brincadeira. Porque haveria ele de mandar mensagem? Será que iria mandar mensagem a uma fã que nem sequer conhecia? Uma fã! Uma fã que podia dar o número dele a qualquer pessoa ou espalhar pela net? Claro que não! Estava a sentir-me nervosa.

Entretanto, o Oliver perguntou-me o que se passava e se tinha acontecido alguma coisa. Não conseguia falar, estava com as cordas vocais presas, parecia que tinham mesmo congelado, pensava no que tinha de dizer, mas nada me saía.

- Sophie? Está tudo bem? Fala, por favor! - Disse ele num tom mais assustado, acho que ele estava mesmo a ficar preocupado comigo.

Não consegui produzir nenhum som, nenhuma palavra, e, numa cena quase à filme, comecei a mover a minha mão lentamente para lhe dar o telemóvel enquanto olhava para ele, ainda de boca aberta. Ele parecia perdido. Olhei para ele, depois para o telemóvel e voltei a olhar para ele. O Oliver percebeu. Pegou no telemóvel e leu a mensagem. A reação dele foi a oposta da minha. Começou a rir e a dizer para responder.

- Tens de responder já! Ele já mandou isso à noite! Tens de lhe dizer alguma coisa!

Só pensei que este miúdo estava a ficar parvo, porque haveria de responder? Finalmente consegui falar e comecei a transmitir-lhe os meus pensamentos. Não podia ser ele, não podia. Acho que queria manter as minhas expectativas no nível mais baixo possível, não queria ficar demasiado alegre com a possibilidade de ser ele. Se não fosse ele iria ser uma grande desilusão. O entusiasmo do Oliver chegava para nós os dois. Ele começou a contrariar todas as minhas ideias, todos os meus pensamentos. Eu não queria mandar mensagem, não por não ter curiosidade, porque lá no fundo tinha e também tinha esperança que fosse ele, mas o Oliver dizia que era obrigatório eu responder, porque seria ele de certeza. Maluco este rapaz, pensei eu.

- Sophie, tu viste como ele falou contigo e eu também vi. Não é por nada, mas acho que há uma grande possibilidade de ter sido ele a mandar a mensagem. A maneira como ele te tratou não é normal. Olha que ele é bastante tímido, mas contigo houve algo mais.

- Não digas essas coisas, ele tem imensas fãs, muito mais bonitas que eu, porque iria reparar em mim ou sequer preocupar-se em mandar uma mensagem? Sou só mais uma que lhe dá dinheiro. - Estava a dizer aquilo, mas não era bem o que estava a sentir. - Provavelmente, é alguém da equipa dele que encontrou o papel e resolveu mandar mensagem por brincadeira.

No fundo, tinha mesmo a esperança que fosse ele. Eu só recusava e o Oliver contrariou-me sempre. Do nada, vejo o Oliver a digitar no meu telemóvel e depois a sorrir. Claro, ele estava a mandar mensagem. Só nesse momento é que reparei que ele não me tinha devolvido o telemóvel e que ainda o tinha na mão. Mas o que tinha feito ele? Não quis dizer-me o que estava na mensagem nem dar-me o telemóvel antes de aparecer o relatório de entrega, quando este apareceu, deu-mo para a mão. 

"David? Não acredito", quando li a mensagem pensei que aquele rapaz me conhecia mesmo bem, provavelmente seria aquilo ou algo muito parecido que eu enviaria. Agora estava mais nervosa que nunca. Só olhava para aquele número e para aquela mensagem, não estava a acreditar que aquilo estava a acontecer. Carreguei no botão para bloquear o telemóvel. Decidi que não ia ficar feita parva a olhar para o telemóvel à espera que ele respondesse. Eu queria que fosse rápido, contudo ele devia estar a trabalhar e não devia estar atento ao telemóvel, isto se fosse realmente ele. 

Eu e o Oliver decidimos ver um pouco de televisão e, ao fazer zapping, encontrámos um filme de comédia, deixámos. Por mais que eu tentasse não o fazer, de 30 em 30 segundos estava a verificar o telemóvel, o que era bastante estúpido visto que o tinha com som. O Oliver só olhava para mim e sorria, mas olhava para mim com aquele olhar de quem está a pedir um agradecimento. Sorri de volta como que a agradecer. Ele sabia que eu queria mandar mensagem só que estava com medo de estar a ser gozada. 

Passados uns minutos o meu telemóvel toca. Era o som das mensagens. Abri:

- Estás onde? - Era a minha mãe. A sério mãe?

O meu coração estava a mil. Pensava que era ele, pensava que o David finalmente tinha visto a minha mensagem e que ia responder de volta. Lá respondi à minha mãe e bloqueei o telemóvel outra vez. Voltou a tocar. Desta vez era uma chamada. Nem vi o número, atendi logo.

- Sim mãe? Acabei de te responder à mensagem.

- Mãe? É o David!

Será que eu estava a ouvir bem? Era o David, o David Carreira. Sim, reconheci a voz dele. Estava chocada. Não sabia bem o que pensar. Desencostei o telemóvel da orelha e vi o número, era um número que não estava guardado, era o número que me tinha mandado mensagem.

- Não dizes nada? Estás aí? - Estive calada durante uns minutos, estava em choque. O Oliver percebeu assim que viu a minha reação.

- S... Sim, sim... Estou... Mas... David? David Carreira?

- Eu mesmo! - riu-se. - Encontrei o teu papel e achei a cena bacana, depois vi a tua resposta e para te fazer acreditar que sou mesmo eu, liguei.

- Mas... Mas... Mas...

O meu nervosismo estava no auge. Tinha aquele friozinho na barriga. Não sabia o que dizer, não sabia o que fazer. De repente, senti uma mão a arrancar-me o telemóvel da mão e uma voz a falar:

- David? É o amigo da Sophie. Ela não está a conseguir falar, mas eu sei o que ela quer dizer. Sabes que é um pouco complicado para ela acreditar. Ela diz que no meio de montes de fãs nunca te irias lembrar de lhe mandar mensagem a ela. - O telemóvel estava em altifalante, por isso conseguia ouvir o que o Oliver dizia e as respostas do David.

- Como é que eu me ia esquecer? - silêncio. - Mas o que é eu tenho de fazer para acreditarem, para a fazer acreditar?

Ficámos um pouco em silêncio. O que haveria para dizer?

- Se és tu vem ter comigo!

Isto saiu-me da boca disparado. O que estava eu a dizer? Como tinha deixado aquela frase sair da minha boca? Que atrevimento, pensei eu. O Oliver olhou para mim de boca aberta, de rapariga sem saber o que dizer tinha passado a rapariga atrevida. Piscou-me o olho e só com os lábios disse "boa". Estava com medo da resposta dele. O que iria ele pensar de mim? Ele ficou um pouco em silêncio e comecei logo a pensar que tinha abusado e que mais valia ter ficado calada.

- Ah - Riu-se. - Cool, se precisas de me ver, eu vou! - riu-se novamente.

Isto estava mesmo a acontecer. O Oliver pousou o telemóvel e começou a dançar todo feliz. O friozinho na minha barriga aumentou, mas de certa maneira, o nervosismo, a pressão, o medo que tinha aliviaram um bocado com aquela resposta. O Oliver disse que também iria, pois não me queria deixar sozinha e o David concordou.

- Sabes que isto tudo é um pouco estranho... No meio de tanta gente mandas mensagem a mim... Aposto que não fui a única a dar-te o número ou a pedir para entrares em contacto comigo... - Disse eu.

- Mas foste a única a quem eu liguei de volta. - riu-se. - E sim é estranho, mas não tenhas medo, eu não mordo. - silêncio. - Olha eu ... - Foi interrompido, uma voz por trás estava a chamá-lo e a dizer que estava na hora de voltar ao trabalho.

- Vai lá David...

- Desculpa, eu ligo-te logo, tenho de ir.

Desliguei. Estava perplexa. Era o David Carreira. O Oliver só pulava e gritava e ria. Estava a rir-se de mim. Comecei a rir-me da minha própria figura quando voltei a reconstituir toda aquela conversa na minha cabeça. Ficámos os dois na conversa, a falar sobre o que estava a acontecer, tudo aquilo em apenas dois dias. Quando olhámos para as horas reparámos que já estava a ficar tarde. O pai do Oliver deu-me boleia até casa.

À noite, quando já estava deitada e preparada para dormir, o meu telemóvel toca. Olhei para o número e era ele. Ele estava a ligar-me outra vez. Atendi.

91 ProblemsOnde histórias criam vida. Descubra agora