cidade dos ventos

capítulo 1: Akemi Amabilia

   Foi lá que tudo aconteceu, na precária escola no mundo humano que ocorreu meu pior pesadelo. Eu e minhas amigas desesperadas no banheiro das meninas e torcendo para termos ficado invisíveis naquele momento. Os barulhos dos tiros e gritos das pessoas que não sabiam se iam permanecer vivas ao passar do dia estavam altos demais para espantar qualquer pensamento vago. Posso ter sobrevivido graças ao meu pensamento rápido de ter pulado da janelinha de lá logo antes de um dos atiradores chegarem, mas infelizmente a pequena e chorona Julie não teve a mesma sorte e morreu com três balas na barriga, no coração e na cabeça. Logo depois do ocorrido, fui para casa correndo como se ainda estivesse correndo o mesmo perigo daquele banheiro.
    Cheguei suada e eufórica e ainda sim consegui unir forças pra falar o que tinha acontecido na escola e imediatamente meus pais já acharam outra escola para estudar, mas essa era diferente de tudo. A Instituição Acadêmica de Habilidades Mágicas, mais conhecida como IAHM, era o tipo de lugar que passam comerciais na televisão dizendo como é perfeito e como qualquer um conseguia estudar lá mesmo só tendo atores com aquela carinha de quem é tão rico que nunca lavou uma droga de uma louça na vidinha de luxo deles.
     E sim, EU vou estudar lá, logo a mais pobre e mais inteligente da minha escola, agora antiga pois vivo me esquecendo que todos morreram, a Akemi esquisita com seus cabelos cheios e lilases que sempre usa o mesmo casaco enorme para esconder minhas asas para não olharem tanto para mim pois odeio a atenção de uma multidão.
    Eu poderia até falar que não gostei da notícia de me mudar para a cidade dos céus, chamada por aqui de Eólia, mas acontece que por eu ser metade humana e metade fada, sempre tive muito mais interesse no meu lado mágico mas, como meu pai Gildor não se lembra da época e meu outro pai Aldon não tem mais poderes o bastante para me ensinar feitiços, passo a maior parte do meu dia indo na biblioteca feérica lendo histórias de guerreiros e guerreiras, deuses que ajudavam os que eles não tinham dado o dom da magia e sua longa linhagem de seres divinos.
   No dia seguinte do desastre, fui com papai Don pro meu primeiro dia. Meus pais foram para uma reunião desesperadamente pedir pra me matricular e começar o mais rápido possível para não perder nenhum dia a mais de aprendizado. O problema é que é muito mais constrangedor do que eu pensava entrar na escola depois de dois meses do início das aulas, ainda mais se a sua escola não coisas como matemática e linguística, mas sim, magia.