𝐄𝐍𝐂𝐎𝐑𝐄

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A ideia de que estava perdida no tempo e espaço, submersa em uma saudade que me rasgava o peito e arranhava os olhos em lágrimas grossas e dolorosas sem aviso, fez com que, não ironicamente me sentisse como a famigerada Bella Swan no seu estado de...

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A ideia de que estava perdida no tempo e espaço, submersa em uma saudade que me rasgava o peito e arranhava os olhos em lágrimas grossas e dolorosas sem aviso, fez com que, não ironicamente me sentisse como a famigerada Bella Swan no seu estado de tristeza penoso em Lua Nova, o que começou como uma piada se tornou assustadoramente parte dos meus dias. E não bastasse me lamentar dias e noites, não parava de ouvir aquela maldita música: Possibility da cantora Sueca Lykke Li. Podem falar o que for dos filmes, mas a trilha sonora é impecável. E fodidamente drástica. Eu só não me afundava em um looping eterno nesta canção quando não estava ouvindo canções do Bangtan, e pior, às vezes, ouvia somente as dele. A realidade é que sua voz soava diferente pessoalmente, inundava todo o espaço, do jeito que não se esforçava para esconder o sotaque, tal como a audácia que tinha em falar o meu nome de todas as formas e entonações possíveis sem nunca me cansar. E diabos, ele nunca dizia "boneca" em suas músicas. Nunca. 

Encaro o chat, as mensagens recebidas e não respondidas. Há mais de um mês. De repente, ele parou de enviá-las, como se não quisesse mais tentar e sinceramente, eu já nem me lembrava o motivo de não tê-las respondido e agora sentia que soaria patética se fizesse.

Ele podia simplesmente ter se cansado das minhas queixas ou seguido sua vida ao entender, que bem, nós nunca funcionaríamos mesmo. E ao pensar que em algum momento foi exatamente isso que eu desejei, era o caminho mais fácil a se percorrer, que idiota, fácil e mais doloroso.

Sento-me na cama me livrando do roupão, a Califórnia parecia um inferno em meados de Maio, e adivinhe só? Assim como o aquecedor não funcionava bem no inverno, o ar condicionado simplesmente pediu arrego. Jurei a mim mesma que compraria um novo, assim que conseguisse sair da boate e ir para um novo emprego. Se é que seria mesmo possível. Pausei a música no notebook e me atrevi a abrir uma aba no Youtube e pesquisei por imagens do show mais recente, havia acontecido há uma semana no Japão. Apesar da qualidade de centavos, não foi nada difícil encontrar o dos olhos lineares. Ele estava bonito vestido todo de branco, cantando, dançando e se divertindo. Os fios agora na cor natural e mais longos brilhavam contra a luz, pesados em suor.

Agarro o travesseiro contra o peito, tendo a mesma realização que me atormenta há meses. Sinto a sua falta. Sinto sua falta a-b-s-u-r-d-a-m-e-n-t-e. Dói.


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Espremo os olhos tentando ler as letras miúdas que descrevem o conteúdo urgente do e-mail. Em poucas palavras, uma das seis ou vinte empresas às quais mandei meu currículo havia, não só respondido, mas me oferecido uma entrevista para uma das poucas e concorridas vagas de estágio. Era a minha terceira vez lendo o texto, checando o e-mail para ter certeza de que não era spam ou algum malware. Coloco meu endereço eletrônico em todo site que oferece cupons de desconto, sabe-se lá o que pode acontecer.

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