𝐎𝐔𝐓𝐑𝐎 𝟏.𝟐

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             Os vidros embaçados provocam uma visão distorcida das luzes de natal. Até o papai noel, do outro lado da rua tornou-se um boneco borrado, parecendo cera congelada. Mas ainda sim, há um tom acalorado naquela noite de inverno pré natalina. Pessoas atravessavam a rua principal carregando enormes sacolas, vestindo moletons em tons gritantes de verde e vermelho, tiaras imitando chifres de renas, gorros e acima de tudo casacos enormes por causa do frio.

Limpo as janelas do hall de entrada da boate, deixando a vista da rua decorada transmitir o mesmo calor para o interior do prédio. Um sorriso nostálgico desenha-se no meu rosto, capturo o momento em que uma criança agarra o embrulho vermelho e seus olhinhos se encherem de lágrimas, agradece o homem vestido de papai noel que segue seu caminho. A criança corre em direção aos pais e um irmão menor, entregando o presente a outra criança. Acontece um abraço em família, duradouro e tão acolhedor que tenho vontade de sair por aquelas portas de vidro e pedir por um braço também.

É acalentador, mesmo para aqueles que só observam. É inevitável pensar na minha família. Em como, àquela hora do dia estavam todos correndo de um lado para o outro com os preparativos. Posso ouvir a voz da mamãe mandando papai acender imediatamente aquele forno que só funcionava quando ele colocava as mãos, segundo ela. Papai logo perguntaria o motivo dela não ter pedido para fazer isso mais cedo. Minha prima, que sempre morou na casa dos meus pais, estaria ocupada com a decoração, pois apesar de não ter uma boa mão na cozinha, não havia nada que ela não pudesse fazer com papel crepom e cola de isopor. Então meu irmão mais novo, com quem nunca tive muita convivência pela nossa diferença de idade estaria reclamando sobre tudo e qualquer coisa, pois ele sabia que papai noel não existia desde os três anos de idade quando me pegou guardando seus carrinhos de plástico embaixo da nossa modesta árvore de natal.

O cheiro de bengalas de açúcar invadem meu olfato, mas nada se compara ao aroma de panetone de mercado e suco de uva que minha avó sempre trazia.

Estou com saudades de casa. Assim como eu sabia que iria ficar, porque datas como aquelas me lembram a infância, onde tudo tinha sabor e cheiro de inocência e felicidade.

Muito diferente do cheio de açúcar e álcool da Kairós Club.

O telefone vibra por baixo do avental cor cereja, e como se estivéssemos com os pensamentos na mesma frequência recebo uma ligação da minha família. Encaro a tela respirando fundo três vezes e ditando mentalmente que não iria chorar, sabia que ficariam aflitos ao me ver aos prantos.

Mas é em vão.

Basta ver minha mãe com seu vestidinho vermelho da loja da família e uma taça do que tenho certeza ser cerveja em mãos, caio no choro.


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