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"Eu não preciso de ti.
Tu não precisas de mim.
Mas, se tu me cativares,
e se eu te cativar,
ambos precisaremos,
um do outro"
                            Antoine de Saint-Exupéry

                                   ~~~

- Yaman?

- Sim! Sou eu! Seher... Meu Deus... Eu não acredito!

- Eu também não acredito...

- Achei que nunca mais te veria... Te procurei tanto...

- Mesmo? Não me senti sendo procurada...

- Seher eu estou tão feliz! Isso é perfeito. Nós dois juntos de novo!

- Isso está longe da perfeição, e, não estamos juntos de novo...

- O que está dizendo? Olhe pra nós dois, não vamos ficar separados mais.

- Você que precisa olhar para nós dois. Eu sou uma prostituta Yaman, e você é o noivo que eu devo agradar.

- Não, Seher... Vamos conversar...

- Não estou aqui para conversar. Fui paga para fazer meu trabalho, e é isso que farei.

Antes que eu pudesse responder ela se elevou sobre mim me fazendo deitar na cama.
Meu lado amigo quer dizer para ela parar, que vista uma roupa para conversarmos mas meu lado homem acha ela linda, perfeita e gostosa pra caramba.
Tê-la montada em mim, os cabelos selvagens, a máscara deixando seu olhar ainda mais sedutor e o corpo todo só meu, me instigando a toma-la, faz minha ereção ter vida própria.

Ela sente isso e se inclina, roça os mamilos em minha boca, mas não me deixa prova-los. Estou respirando com dificuldade, as mãos fechadas ao lado do corpo. Faço força para não toca-la, tento me lembrar todo segundo de que ela é a minha amiga Seher, mas então sua mão vai até meu membro e o aperta, me fazendo gemer.

- Duro do jeito que eu gosto... Espere aqui. Volto logo.

Ela vai até o banheiro e fecha a porta. Fico ali deitado na mesma posição, tenso, tenho medo de me levantar e ir atrás dela.
Aos poucos minha respiração vai se normalizando e meu corpo relaxa, então sinto que já se passou muito tempo e Seher ainda não voltou. Fico preocupado e vou até a porta, batendo em seguida mas ela não responde.

- Seher! Está tudo bem? Seher!

Bato outra vez, sem resposta novamente. Fico ainda mais preocupado, será que aconteceu algo? Então me distancio um pouco e jogo o corpo contra a porta, arrombando o banheiro que para minha surpresa está vazio. Olhando para a janela aberta me entristeço, ela fugiu de mim.

                                   ~~~

Não preguei o olho a noite toda. Meus amigos bêbados demais não conseguiram me dar uma resposta mas hoje Nedim não me escapa, vou descobrir onde Seher está, não vou perde-la novamente.

- Alô Nedim! Até que enfim se acordou. Quero saber onde vocês encontraram a Seher!

- O que? Yaman... Eu atendi o telefone sim, porque não para de tocar mas ainda não estou acordado... Você viu que horas são?

- Deixe de papo furado e me diga onde ela está!

- Ela quem meu amigo? Eu estou com uma das meninas na cama, é essa?

Por um momento meu sangue gela pensando que poderia ser Seher mas depois lembro que ela não ficou na festa.

- A Seher Nedim! Onde vocês a encontraram?

- A moça que ficou com você no quarto? Ah o nome dela é Seher? Ela é linda, nós escolhemos bem não é?

- Nedim... Em cinco minutos estarei aí na sua casa e vou te matar com minhas próprias mãos!

- Calma meu amigo... Ela te deixou enfeitiçado mesmo hein... Olha, todas as prostitutas de ontem trabalham em uma boate de luxo na capital, se não me engano se chama SexAppel e...

Desliguei, já descobri o que precisava, vou agora mesmo até a capital, são em média três horas de viagem e não quero me atrasar nem mais um minuto.
Ouvir Nedim dizendo que ela é uma prostituta doeu em mim, parece que ela é pouco, uma qualquer e isso é mentira. Seher é a pessoa mais doce que já conheci... Como será que ela foi parar nessa vida? O que aconteceu com a minha amiga?

                                    ~~~

Dirijo rapidamente até a cidade, quando chego lá não demoro a encontrar a boate, mas ainda está fechada. O segurança me diz que devo esperar até a noite, pelo horário de funcionamento e é isso que faço, fico horas dentro do carro, olhando para a porta na esperança de vê-la.

Quando a hora chega, sou o primeiro a entrar. O local é mesmo de luxo, vou até o bar e digo para o barman chamar a Seher pois quero falar com ela. Mas ele dá risada e responde que todos querem falar com ela, que eu devo esperar a hora do show.

Com a irritação me dominando sento a contragosto junto a uma das mesas. O movimento começa, muitas mulheres desfilam semi nuas pelo recinto, falam com os clientes, sentam no colo deles, deixam que eles as agarrem, servem bebidas e algumas vão com os homens para o andar de cima onde imagino que sejam os quartos.

Muito tempo depois as luzes se apagam e somente a do palco permanece acesa, para onde todas as atenções são desviadas.
Eis que através das cortinas ela surge...
Exuberante usando uma calcinha preta fio dental e com os mamilos cobertos apenas por um adesivo no formato de estrela dourada, nos pés uma sandália preta de tiras e salto fino.

A boate toda para ao vê-la. Através de uma nuvem de fumaça, ela vem a passos largos, uma perna cruzando na frente da outra, como uma modelo em um desfile, e se encaminha ao pole dance.

Os homens, como animais famintos, se aglomeram em volta do palco, gritando e assoviando para ela.
Sinto raiva, meu instinto protetor grita para tirá-la de lá, mas não posso.

Seher começa sua dança.
Ela rebola para lá e para cá na frente do mastro, depois dá algumas voltas segurando no mesmo a fim de pegar impulso antes de saltar e ficar pendurada de cabeça para baixo, se segurando somente pelas pernas.

Os homens vão à loucura, gritando e assoviando, além de atirar notas de dinheiro aos pés dela.
Sua coreografia na realidade é muito sensual. Se eu não estive nesse misto de tensão e raiva com certeza apreciaria. Mas só quem está prestando atenção nela, na sua pessoa, só quem a conhece como eu pode ver que ela está infeliz. Seus olhos estão desfocados, não olha diretamente para ninguém, como se ela não estivesse realmente ali.
Depois de algum tempo, seu olhar passa por mim e ela me nota, hoje seu rosto está livre da máscara, seus cabelos presos, e posso ver claramente a expressão de surpresa que ela faz.
Em seguida a dança acaba e ela volta para trás das cortinas, após juntar as inúmeras notas de dinheiro que estavam pelo chão.

Fico por alguns instantes analisando o lugar, pensando qual a melhor rota a fazer até onde ela está sem ser visto, quando um segurança bate em meu ombro.

- Vem.

- Pra onde?

- Seher.

VIDAOnde histórias criam vida. Descubra agora