Quinta-feira numa aula de arte

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Sua boca emitia sons impossíveis de se compreender, consequência de sua deficiência auditiva. Em sua ideia, falava a nossa língua tão fluentemente quanto nós mesmos, mas na realidade, não pudemos compreender nada do que com tanto entusiasmo disse. Era uma troca de papéis fantástica: nós, em silêncio, a ouvindo falar e falar sobre algo que gostava, pensando dizer algo incrível, e talvez realmente fosse, mas que ninguém entendia. E era o que ela vivia todos os dias.
Em silêncio, assiste o mundo correr. O barulho terrível de vozes misturadas, que ela não podia compreender, mas que, na maior parte do tempo, esqueciamos disso. Para nós, ela conseguia ouvir. Para nós, ela estava maravilhada com tudo que dizíamos.
Mas não estava. Porque tudo se torna nada quando não se compreende.
E embora na maioria das vezes sua surdez seja uma virtude, por poder se proteger do que o mundo poderia lhe dizer, era dele que ela precisava. Mas não estávamos preparados para isso. E nem ela.

A prova disso é que ninguém compreende ninguém, e isso não é porque não tínhamos todos a capacidade, mas porque não sabíamos como nos comunicar.
Eu sinto muito pelo sistema fazer você se sentir pequena, e sinto mais por ele nos fazer sentir os certos.

Ninguém é certo quando se trata de vida, porque moralidade não se encaixa quando estamos todos destinados à morte.

Estigma - Eutanásia Onde histórias criam vida. Descubra agora