E os dias foram se passando naquela mesma monotonia de sempre: acordar, enrolar na cama, desejando ter mais uns minutos de sono, e se conformar que não os tem. Que aliás, nunca teve, porque apenas achamos que podemos controlar o tempo, enquanto ele nos controla facilmente, tanto que somente por ele que levantei. Por ele que tomei um banho, por ele que fiz todo aquele trajeto e por ele que sentei naquela cadeira, na sala de aula. Creio ainda estar falando do tempo, mas se não, isso não me importa mais. E então, eu ando por aqueles corredores, ainda desejando os minutos a mais. Minha atenção oscilando entre a estrutura do prédio, tentando captar tudo que um dia eu reclamei, e um dia sei que eu vou sentir falta; olhando tudo com os olhos da última vez, enquanto dividia foco com aquele mundo que só eu tenho acesso, e me sinto bem em admitir isso, de ter um refúgio.
Vejo os rostos conhecidos, eles conversam, mas desconfio que sabem onde estou, senão meu corpo ali: o lugar motivo de eu querer controlar o tempo, mas saber que seria covarde demais para apressar qualquer minuto dele.
O que os professores dizem me invadem mas não fazem lar, por isso se vão, como água do mar. A volta para casa é tranquila no mundo deles, mas no meu tudo é barulhento demais. Então me vejo lá, e vejo ele também. As coisas se acalmam, e quando percebo, o dia já se foi.
Estou pronta para o próximo.
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Estigma - Eutanásia
PoesíaEssa obra é uma coleção de dores, escrituras de tudo o que é visto e sentido. Talvez não haja uma coerência, mas nunca há. A dor enlouquece. E o mundo é feito de loucos. Espero que você se encontre nessas perdições, mas se não, tudo bem. Nos per...