— Eu acho uma boa ideia. Você precisa se mexer um pouco, Mihyun.
— Isso foi... um conselho ou uma implicância, Jiho?
— E faz diferença alguma? Eu vou passar o número da Yoobin para você assim que chegar em casa… — Mihyun parece preocupada. — O que foi? Por que você ‘tá com essa cara?
— Porque eu nunca nem falei com ela direito.
— Tanto faz, ela ficou super feliz com a ideia. Vocês duas vão ganhar com isso, a Yoobin precisa da prática de ensino e você precisa daquela bolsa. Vai dar certo, Mihyun.
— É que a Yoobin é tão... na dela... eu tenho medo que a gente não consiga se entender ou algo assim.
— Bem. Eu só conheço ela porque nós duas estudamos japonês juntas.
— E por que mesmo que você não pode me ensinar?
— Por que eu não tenho paciência, Mihyun. E eu já falei, eu sei, mas não sei explicar. Ela sabe, das vezes nas quais perguntei as coisas ‘pra ela, sempre respondeu com perfeição. A Yoobin é ótima no que faz.
— Disso eu sei. Mas, ai... eu acho que ela não vai gostar de mim. Eu sou basicamente tudo que ela evita.
— Deixa de drama, Mimi. Viu, eu preciso subir. — Estão na frente do prédio no qual Jiho residia, há poucos metros do de Mihyun. — Hoje meu pai volta de viagem e minha mãe vai me matar se eu não estiver lá.
— Tudo bem. ‘Se cuida, Nyang.
— Você também. E não se preocupe tanto. — Despedem-se.
— Pode ser que no final dê certo, mas uma aproximação vai ser difícil... — Falou, sobre Yoobin, quando a amiga já não pudesse mais ouvir. E logo, vai para casa.
[...]
Após receber o número da Bae, espera uns dez ou doze minutos para mandar uma mensagem, estava insegura até por um “oi”. Mas assim, o envia. Em três minutos tem uma resposta.
“Oi. Quem é?” E, nossa, ela digitava tão... direitinho.
“a mihyun, amiga da jiho”
“Ah, sim. Kim Mihyun, certo?”
“é”
“Vou salvar o contato.”
“então... quando vc acha que a gente pode se ver e tal?”
“Quarta e sexta à tarde, na biblioteca. Das 14h às 15h, é meu horário disponível... tenho meus próprios assuntos para estudar também. Você pode?”
“sim, posso”
“De início, fica combinado assim. Obrigada.”
“eu que agradeço, que isso”
Yoobin responde com um coraçãozinho, Mihyun o retribui. E fica assim mesmo.
[...]
— Oi... —Yoobin já estava sentada em uma mesa, mais afastada da porta, quando Mihyun chega.
— Oi, Mihyun. Sente-se. — Diz sem olhar a ela.
— Sim... tudo bem? — Coloca sua mochila em uma das cadeiras livres da mesa.
— Acho que posso dizer que sim. — Finalmente olha à Kim. —Não que importe. — Diz baixinho. — E você? — Tenta um sorriso, que falha.
— ‘Tô bem. Um pouco nervosa.
— Eu também... eu geralmente estudo sozinha. Mas, ajudar você vai me fazer bem. Eu preparei um material de antemão, acabei de imprimir. As folhas ainda estão quentinhas. — Entrega-o à Mihyun.
— Se quiser, eu posso pagar pela impressão.
— Não se preocupe. Eu não quero cobrar nada de você. Só peço para que não redistribua. Tudo bem?
— Claro...
— Então, eu fiz o suficiente para umas duas semanas, então hoje nós vamos estudar um quarto disto. Assim que você já souber hiragana e katakana nós partimos para o resto, mas primeiro, eu gostaria de fazer uma introdução sobre o idioma. —Mihyun sente-se feliz, quase como se a sua vergonha sumisse. —Ah, então... quero que você aprenda os silabários primeiro. Vai demorar um pouco, mas depois você vai me agradecer.
— A professora é você. — Diz numa risadinha.
— Certo. Começando, o idioma japonês vem do chinês, certo? O primeiro sistema de escrita inventado foi o kanji, que são os ideogramas. De início eles foram formados baseando-se no que se via. O sol, a lua, as plantações de arroz, etc. Logo, a importação deles para o Japão ocorreu assim, eles trouxeram a escrita e o som original, porém, também acrescentaram um novo. —A Kim ouve tudo com muita atenção. — A original, chinesa, nós chamamos de “on’yomi”, aliás, “yomi” é leitura, ‘tá? Viu, você consegue acompanhar? É que eu falo tudo muito rápido.
— Sim, sim... ‘tá tranquilo. A sua narrativa é boa.
— Obrigada. Continuando, a leitura japonesa é a “kun’yomi”. Isso vai fazer mais diferença depois, no momento, não quero que você se preocupe com isso. E não sinta medo dos kanjis, por mais intimidadores que pareçam. É como uma aula de natação. Se você precisa pular para um mergulho, você sempre vai se sentir assustada. Presa à borda. E se houver muito desespero, você vai acabar se machucando e pode até se afogar. Mas se você tomar coragem e pular, vai ver o quão gostosa é a sensação da água e vai querer fazer de novo. — Olha para Mihyun mais uma vez, com uma expressão mais gentil. — Desculpe por quebrar o raciocínio novamente.
— ‘Tá tudo bem. Isso já me ajudou muito... em vários sentidos. Então, sobre o hiragana e o katakana?
— Isso. Ok, pensa assim, eles precisavam de um jeito mais fácil de escrever algumas palavras, principalmente, precisavam ensinar as crianças a isso. Então, criaram o hiragana. Nele, nós temos todos os fonemas presentes nos kanjis, separados por sílabas. Elas são também formadas por contrações e diacríticos. — Mihyun começa a olhar confusa. — Calma! Não é tão difícil. Sempre ensina-se de um jeito mais fácil, porém eu queria falar dessa forma. Eu vou fazer você entender! Foi o que eu prometi a mim mesma.
— Tudo bem. Pode explicar do seu jeito, Yoobin, eu vou dar o meu máximo e prestar muita atenção.
— Vamos trabalhar em equipe então. Entender as contrações e os diacríticos vai ser mais fácil quando você for aprendendo a escrever, então eu só vou terminar a visão geral do idioma. O hiragana serve para, além de escrever as palavras, transliterar os kanjis. Sabe o que é transliteração?
— Não faço ideia.
— É assim: tradução é quando você “passa” algo de um idioma para o outro. Transliteração é quando isso ocorre de um sistema de escrita para o outro.
— Então é tipo... quando a gente escreve título de anime com as nossas letras?
— É. Basicamente. E isso serve para qualquer escrita. Do japonês para o nosso alfabeto, chama-se “romaji”. “Roma” dá pra entender como o nosso “alfabeto romano”, ou seja, “a, b, c, d... etc.” e “ji” significa escrita. Tanto que “roma” é escrito em katakana, porque este serve para escrever quaisquer palavras de outros idiomas. E o “ji” é escrito em kanji. — Yoobin pega um papel e rabisca “ローマ字”.
— Isso é muito legal. Cara, acho que ninguém me explicaria isso igual a você.
— Eu gosto da imersão, sabe. Não quero que você aprenda só por cima. Vamos mergulhar, Mihyun. — Pela primeira vez, as duas compartilham um sorriso. Ainda tímido. Mas doce. — Voltando ao assunto, o hiragana, além disso, faz as conjugações verbais e escreve as partículas, que são responsáveis por ligar as palavras. O katakana não, como eu disse, só serve para escrever palavras ‘estrangeiras’, mas também, pode destacar algo num texto, como se fosse itálico ou afins, ou também escrever nomes. Tranquilo até agora?
— Bastante informação... é bem pesado, mas de alguma forma, você deixa fluir. Você explica muito bem, Yoobin.
— Eu me sinto lisonjeada, Mihyun. Então, tem um resumo nas folhas e eu quero que você faça as tarefas direitinho. Por enquanto, vamos aprender “A, I, U, E, O”, sim, no japonês é nessa ordem, nos dois silabários.
— Então... o som para os dois é o mesmo?
— Sim! Eu esqueci de mencionar, desculpa. Só a escrita muda. Olha, para você aprender a pronunciar: o “a” é bem aberto, como se fosse com acento agudo. A mesma coisa com o “i”. O “e” e “o” são mais fechados, como se fosse com acento circunflexo. Já o “u” é mais esquisito, ele nunca tem uma pronuncia forte, como o nosso “u”, tipo em “graúdo”, não, esse som não existe. — Yoobin repete o som, mas Mihyun não consegue, como conseguira com os outros. — Ah, olha: diz “i” , isso... agora diz “u” com a boca aberta do mesmo jeito. Viu? Você consegue! Na maioria das sílabas, o som do “u” some, quando ele está presente, ele soa assim. Treinando mais, você vai dominar isso rapidinho.
— Ok... acho que eu vou conseguir.
— Claro que vai.
— Sabe, eu quero conseguir uma bolsa numa escola de artes em Osaka. É por isso. — Yoobin trava.
— Osaka? Sério?
— Sim... por quê? —Yoobin fica animada.
— Porque eu vou para lá... ano que vem. — A Bae ri, de leve. — E eu pensei que não fosse ter nada em comum com você. — Tudo bem, vou ensinar a ordem de traços para você. É bem importante segui-la! Depois, a gente estuda algumas palavrinhas também.
[...]

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hanazakari
ChickLit"Hanazakari: Substantivo japonês que representa a época do ano na qual as flores estão completamente floridas." Ou, melhor, quando Mihyun e Yoobin desabrocharam uma à outra.