𝗥𝗲𝗰𝗼𝘃𝗲𝗿𝘆

𝗘𝗻𝗰𝗮𝗿𝗮𝗻𝗱𝗼 𝗶𝘀𝘁𝗼.

                                                                       ²³ ⁰² ²⁰²⁰
                                                        
                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                            

Tulip fecha os olhos e respira fundo sentindo seu coração bater como se estivesse pronto para sair pela boca. Ela se olha no espelho do elevador e então sai dali indo em direção a sala a qual trabalharia por algumas semanas.

— Bom dia. — A garota é recebida por cumprimento dos colegas que a conheceram há dois dias assim que veio para a empresa fazer a entrevista.

— Bom dia. — Ela responde se curvando minimamente.

— Os meninos estão chegando já. Iremos para a sala de prática, você e Saeon dão conta de maquiar os sete? Não tem pressa, temos que conversar com a equipe de dança para o video de prática. — Uma das staffs gerais diz a fazendo concordar.

Com isto os demais staffs saem da sala a deixando mais nervosa. A mulher ainda trabalhava aqui e isto incomodava Tulip que, mesmo assim, tenta ignorar. A mulher já havia a reconhecido apenas pelo nome o que faz Tulip revirar os olhos só de lembrar.

— Escute, Tulip. Podemos conversar?

— Não.

— Eu entendo que me odeie, eu apenas queria me desculpar. Eu já tinha vinte e cinco anos, deveria saber o quão ridículo e preconceituoso seria falar aquelas coisas a alguém. Entendo caso não queira me desculpar, eu também não o faria. Eu só precisava falar porque há dois anos isso me corrói por dentro.

— Sabe, Saeon. Eu não te odeio, não sinto nada disso por você. Não me importo, na verdade.

— Jura? Então por que mencionou voltar ao Brasil naquele dia?

— Não foram por suas palavras, eu sempre escutei isso. Foi por ver meus ídolos fazendo tão pouco caso sobre a xenofobia que sofri. Eu não me orgulho de ter a dado um tapa porém eu pensei que teria um mínimo de compreensão. Enfim, isso não importa mais. Eu não sou mais fã deles, não sou mais tão fácil de magoar como naquele ano, está tudo bem. Esqueça isso. — A menina termina indo arrumar as maquiagens no balcão de frente para o espelho.

— Bom dia. Desculpem a demora, o Taehyung demorou horas para se levantar.

Aquela voz fez Tulip parar; eram eles. Há cinco anos ela estaria nervosa de tanta felicidade porém hoje o nervosismo era de medo; medo de não conseguir encarar isto, de não ser forte o suficiente.

— Voce deve ser a staff que ficará no lugar da Christina, certo? — Jimin diz chamando a atenção da garota, mesmo de costas ela reconheceria aquela voz em qualquer lugar. — É um prazer a conhecer, você deve ser ótima, a noona jamais colocaria no lugar dela alguém ruim.

— É um prazer, eu me chamo Tulip. — A menina se vira tentando parecer o mais natural possível, ver os sete tão grandes e já homens feitos faz com que o coração dela acelere ainda mais. — Espero ser tão boa quanto sua noona, será uma tarefa e tanto.

— Seu nome é Tulip? Saeon disse que você trabalharia aqui, pensei que era brincadeira. — Jung, ou Jhope, como é conhecido, diz.

— Como assim?

— Não pensamos que trabalharia aqui depois de tudo o que aconteceu.... você sabe, há cinco anos. — O mais velho diz coçando a nuca.

— Sinceramente eu não me importo mais, superei logo que voltei para o Brasil. Eu estou aqui para trabalhar e não remoer assunto e problemas do passado, tudo bem.

— Eu não sei se consigo trabalhar ao seu lado sem tocar no assunto.

— Acha melhor eu pedir demissão ou quer que eu peça troca de grupos? — A menina pergunta para o mais novo do grupo que de imediato nega.

— Não. Até hoje nós nunca superamos a forma que a tratamos. Temos seu álbum guardado e todas as vezes que olhamos para ele nós nos sentimos culpados.

— Bom, como eu disse eu não estou aqui para remoer erros do passado. Já fazem cinco anos, o que aconteceu já não me importa mais. Eu estou aqui apenas como staff, nada mais. Eu os tratarei como qualquer outro colega de trabalho e é isso. Não se preocupe, não irei ser infantil e deixar com o que aconteceu há anos atrapalhe no meu trabalho.

Tulip dita tudo de forma calma enquanto olha para os sete os fazendo concordar, sabiam que tocar no assunto ali não adiantaria de nada. Eles amadureceram e se arrependem da forma como tudo aconteceu naquele dia porém sabiam que seria difícil reparar.

— Eu irei maquiar o Hoseok, você pode começar com o Namjoon, Tulip? — Saeon pergunta puxando assunto fazendo a menina concordar.

— É claro, Saeon-ssi. Pode se sentar, Namjoon-nim.

Tulip diz ao mais velho que se senta em silêncio. Ela começa limpando a pele dele, em seguida fazendo todo o preparo de pele no garoto com calma enquanto responde uma ou outra pergunta vinda de Saeon. Ela não sentia raiva da mulher, entendia hoje que erros eram cometidos, tampouco sentia rancor do grupo, apenas sentia magoa por não esperar ouvir tons tão rudes e grossos vindos das sete pessoas as quais ela tinha um expectativa e esperança tão alta que poderia tocar o céu.

— Quer que eu coloque as lentes em você ou você quer as colocar, Namjoon-nim?

— Pode as colocar, tenho medo de fazer isso sozinho.

Ele diz recebendo um aceno em concordância vindo da menina. Por seis meses esta seria sua rotina, estava feliz consigo mesma por ter sido forte no primeiro dia, esperando que siga assim pelas semanas seguintes.