Com o passar do tempo

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Nota da autora: E vamos começar a semana com uma fanfic curtinha, porque ela quis. Eu tentei desenvolver o plot, mas preferi parar antes que ficasse ruim.

***
O primeiro final de semana do Outono no 221B da Rua Baker seguia tranquilamente com marido e esposa entretidos nas atividades que mais gostavam. Molly Holmes estava acomodada em sua poltrona na sala ao lado da lareira imersa na leitura de um suspense e Sherlock Holmes fazendo experimentos na cozinha, que ele havia prometido limpar quando terminasse.

— Onde estão seus óculos? — perguntou Molly ao passar por ele para pegar um copo d'água na geladeira.

— Não estava funcionando para mim — respondeu Sherlock sem muita segurança na afirmativa.

— Sem eles está ainda pior... — retrucou ela parando atrás dele enquanto bebia o líquido.

— Como assim? — O homem olhou para a esposa.

— Se você adicionar isso na mistura nós vamos precisar de uma mesa nova — disse ela enquanto colocava a mão dentro dos bolsos da calça social que Sherlock usava.

Ele segurou o frasco na frente dos olhos e forçou a vista para ler o rótulo. Molly encontrou os óculos e colocou no rosto dele.

— Melhor assim? — perguntou ela.

O homem conseguiu ler e ao perceber o erro que iria cometer, deu um suspiro antes de deixar o recipiente de vidro marrom sobre a mesa. Talvez fosse melhor usar uma lupa quando estivesse trabalhando com aqueles benditos frascos com rótulos de letras tão pequenas.

— Estão te machucando? — quis saber a mulher enquanto caminhava até a pia, lavava o copo já vazio e deixava no escorredor perto dos pratos.

— Não, só achei um excesso — reclamou ele. — Eu não estou enxergando tão mal a ponto de precisar de lentes corretivas.

— Mas quando o John sugeriu, você achou que valia à pena tentar.

Molly voltou para perto dele.

— Ele não foi o primeiro a recomendar isso, Mycroft sugeriu antes... — Sherlock afastou uma das cadeiras e depois de se acomodar, a puxou com carinho para sentar no colo dele. — Em pouco tempo a senhora Hudson não será a única pessoa idosa nesse prédio. — Ele tirou os óculos e colocou sobre a mesa.

— Que exagero, Sherlock! — comentou Molly rindo, mas ao perceber o desconforto no olhar do marido, ela voltou a ficar com a expressão séria. — O que está te incomodando tanto por estar envelhecendo? Sei que não é pela aparência, apesar de você não querer assumir os fios brancos. — A mulher deslizou os dedos pelos cachos do cabelo que o marido havia adquirido o hábito de lavar com xampu totalizante pelo menos uma vez por semana. — Você continua lindo.

O casal trocou um sorriso e seus lábios simplesmente foram atraídos como se houvesse uma força magnética entre eles. O toque suave de suas línguas ao mesmo tempo em que fazia uma sensação de calor se espalhar pelo corpo dos dois, também trazia conforto. Sherlock nunca teve receio de expor sua vulnerabilidade para Molly, e ela gostava de deixar claro de todas as formas possíveis que estaria sempre ali para ele.

— Qual o problema, meu amor? — perguntou a esposa segurando o rosto dele com as duas mãos.

— Eu não sei por quanto tempo vou poder continuar contando com meu cérebro na capacidade máxima — lamentou ele abrindo seu coração para ela sem receio.

— Entendo sua preocupação, — ela passou os polegares sobre os lábios dele. — Mas analisando pelo histórico da sua família, mais precisamente seu pai e sua mãe, eu acho que Londres vai continuar contando com o melhor detetive consultor do mundo — afirmou ela segura do que dizia antes de soltar o rosto dele e repousar a cabeça sobre seu peito.

— O único! — completou Sherlock menos tenso após o desabafo enquanto refletia sobre o que a esposa havia dito com o queixo apoiado sobre a cabeça dela.

Molly estava certa em considerar o histórico familiar dele, pois não lembrava de nenhum parente que tivesse doença neurodegenerativa e todos pareciam estar mantendo suas habilidades cognitivas praticamente inalteradas à medida que envelheciam. A preocupação com aquilo só faria mal a ele com o estresse que causaria. Um beijo delicado na margem esquerda da mandíbula tirou Sherlock do devaneio.

— Se te deixar mais tranquilo, você pode fazer check-ups de rotina — sugeriu a esposa.

— Talvez... — Ele sorriu. — Mas por enquanto, acho que vou parar de me preocupar com isso e exercitar meu cérebro o máximo que conseguir!

— Sábia decisão — elogiou ela sorrindo de volta.

Molly se levantou e eles foram perdendo contato aos poucos até se tocarem apenas pelas pontas dos dedos enquanto ela caminhava para a sala com a intenção de voltar à leitura e deixar o marido com seus experimentos. Sherlock beijou a ponta dos dedos da esposa antes de pegar os óculos sobre a mesa e colocar no rosto.

Seus olhos estavam demonstrando sinais de cansaço com o esforço de tantos anos, mas não havia motivo para acreditar que o mesmo estivesse acontecendo com seu cérebro. E mesmo que fosse o caso, saber que continuaria contando com a companhia de Molly, fazia aquele medo se transformar em algo com o qual poderia lidar.

Sherlock pegou o frasco certo e acrescentou na mistura que fazia deixando o líquido dentro do Erlenmeyer de cor vermelho intensa. Por mais contraditório que pudesse parecer, o homem sentia-se grato pelo tormento que passou em poder da irmã o fazendo compreender seus sentimentos pela amiga antes que fosse tarde demais.

O casal se olhou mais uma vez e sorriram um para o outro transmitindo com aquele gesto a felicidade apenas por estarem juntos.

Sherlolly Appreciation Week 2022Onde histórias criam vida. Descubra agora