A cliente especial

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Nota da autora: Bom, essa história não tem tantos momentos românticos de casal, mas foi uma ideia fofa de como seria a vida deles na Rua Baker. Um dia comum com uma investigação muito importante em andamento.

***
— Calma, meu amorzinho, você não é uma mamãe ruim...

Sherlock Holmes ouviu a voz da namorada, Molly Hooper, e franziu o cenho tentando compreender aquela conversa acompanhada por um choro alto e desesperado enquanto subia para seu apartamento no 221B da Rua Baker. Ao entrar na sala, a encontrou com dificuldade para acalmar a afilhada dos dois, Rosamund Mary Watson.

— O que aconteceu? — perguntou ele tirando o Belstaff e pendurando no gancho atrás da porta.

Rosie se virou de frente para o padrinho e Sherlock ficou comovido com o rostinho vermelho e molhado por lágrimas o encarando.

— A Amora desapareceu — respondeu ela com soluços entre as palavras.

O homem colocou no rosto a melhor expressão de preocupação que conseguiu e Molly precisou conter a vontade de rir.

— Mas isso é uma tragédia — disse ele de maneira séria. — Por favor, Srta. Watson. Conte tudo exatamente como aconteceu desde a última vez que você se lembra de ter visto a Amora e eu vou investigar e solucionar esse mistério.

Apesar da pouca idade, no auge dos seus 4 anos a menina já sabia que Sherlock era muito inteligente e sempre tinha respostas para todas as perguntas ajudando inclusive a polícia a prender pessoas más. Essa última parte o próprio John Watson havia contado para ela quando a filha perguntou sobre o trabalho do padrinho e não compreendeu o que "detetive consultor" queria dizer.

Com um pouco de dificuldade, Rosie puxou uma cadeira para perto da poltrona de Sherlock já sabendo como ele trabalhava e, inspirado pela ideia da afilhada que havia inclusive parado de chorar, o detetive se acomodou em seu lugar.

— Gostaria de ajudar na investigação, Srta. Hooper? Considero suas observações muitíssimo valiosas e, além disso, o Doutor Watson está trabalhando e infelizmente não poderá atuar no momento.

— Será um prazer, detetive — respondeu Molly decidindo entrar na brincadeira, já que havia servido pelo menos para acalmar a menina. Ela sorriu para Sherlock ao se acomodar na poltrona de frente para o namorado que retribuiu o gesto.

— Muito bem, diga tudo o que aconteceu, por favor.

Com seu jeitinho de falar infantil que às vezes apenas eles entendiam, Rosie explicou que havia saído com a Amora, nome da boneca de cabelos roxos e vestidinho amarelo, de casa naquela manhã dentro da mochila.

Assim que chegou, o pai a deixou na casa da vovó Hudson e ela colocou a mochila no chão ao lado da mesa enquanto comia os econes de geleia, mas esqueceu dela lá quando o tio Sherlock chegou para falar oi e ela subiu com ele. Já tinha passado um monte de tempo quando a vovó Hudson apareceu no apartamento do padrinho com uns sanduíches e a mochila.

— E a Amora estava dentro dela? — perguntou o detetive.

— Não sei, eu não olhei. — Rosie colocou as palmas das mãos para cima. — Eu não dei muita atenção pra ela... — A menina fungou e seus olhos voltaram a ficar cheios de lágrimas.

— Se acalma, querida, e continua contando — incentivou Molly segurando a mãozinha esquerda de Rosie.

— No meio da tarde você chegô e a gente foi passeá, até que o tio Sherlock precisou ir ajudá o tio Greg e a gente voltô pra cá. Foi quando eu fui procurá ela na mochila e num achei...

— Certo. — O detetive recostou-se na poltrona, juntou as palmas das mãos, encostou as pontas dos dedos no queixo e fechou os olhos em sua pose clássica.

Molly sorriu para Rosie que esperava ansiosa olhando para o padrinho. Sherlock não demorou muito para voltar à atividade.

— Já procuraram na casa da senhora Hudson?

— Não! — responderam a menina e a mulher ao mesmo tempo ficando empolgadas com a possibilidade tão óbvia que haviam deixado escapar.

Os três seguiram entusiasmados para o andar de baixo com Rosie caminhando aos pulinhos de mãos dadas com Molly enquanto Sherlock seguia atrás das duas. A senhora Hudson ficou animada com a visita e prontamente permitiu que a busca fosse feita em seu apartamento, mas avisando desde o começo que não havia visto a boneca por ali.

O detetive, no entanto, não se deixou abalar e assim passaram quase meia hora olhando nos lugares prováveis e nos improváveis. Infelizmente sem nenhuma pista sobre o paradeiro de Amora. O sinal para desistir foi quando Rosie começou a chorar alto mais uma vez.

— Eu vou encontrar sua boneca, Abelhinha — declarou o homem se abaixando na frente da afilhada. — Eu não vou parar de procurar até encontrar, você tem minha palavra.

A menina esticou os braços e Sherlock a acolheu em um abraço erguendo-a do chão. Molly se aproximou para acariciar os cabelos da menina enquanto a senhora Hudson olhava a cena sem saber o que poderia fazer para ajudar.

— Você saiu de casa com a boneca dentro da mochila, — ele raciocinava em voz alta. — Veio para cá, depois foi lá apara cima, só pode ter perdido no meio do caminho. Você se lembra de ter fechado bem a mochila antes de sair de casa?

— Ela caiu na rua? — A voz mais aguda da menina deixava claro o desespero tomando conta dela e o choro se intensificando só reafirmou aquilo.

Pela porta aberta do apartamento da senhora Hudson, John ouviu aflito o choro da filha e caminhou apressado para lá assim que entrou no prédio sem saber o que poderia estar acontecendo. Mesmo sabendo que o padrinho e as madrinhas eram muito atenciosos com a menina, seu coração doía ao vê-la em desespero.

— Está tudo bem por aqui? — perguntou ele preocupado parando na soleira da porta.

— A Amora sumiu! — Rosie se virou na direção do pai e esticou os bracinhos.

John acolheu a filha e começou a balançar o corpo para acalmá-la depois de um beijo carinhoso na testa dela.

— A gente vai resolver isso, tá bom? — disse o pai já pensando em comprar uma boneca igual para substituir a perdida.

Sherlock percebeu pelo olhar do amigo a ideia dele, mas ainda não tinha desistido de solucionar o caso da pequena cliente. Rosie não era descuidada o suficiente para deixar a boneca cair na rua e não perceber. Se não estava em seu apartamento, nem no da senhora Hudson, mas tinha caído da mochila, só havia um último lugar onde procurar.

— Chave do carro! — pediu ele a John que, sem perguntar o motivo, tirou o objeto do bolso e jogou para o amigo que o alcançou ainda no ar enquanto passava entre eles e caminhava apressado para fora do apartamento.

Rosie foi a primeira a segui-lo, depois de pedir para o pai colocá-la no chão, com Molly, a senhora Hudson e John em seu encalço.

Na rua, Sherlock já estava com o carro aberto e depois de uma busca rápida pelo interior visível do veículo, ele se ajoelhou no meio-fio e começou a vasculhar por baixo dos bancos. Em menos de cinco minutos, o drama chegou ao fim e o detetive recuperou a boneca de vestido amarelo e cabelos roxos conforme havia prometido.

— Amora! — comemorou Rosie pegando o brinquedo enquanto abraçava o padrinho. — Obrigada tio Sherlock! — disse ela antes de dar um beijo no rosto dele.

— De nada, Abelhinha — respondeu o homem feliz com a felicidade da afilhada.

Rosie não escondia a animação mostrando a boneca para o pai e a senhora Hudson.

— Não acredito que a gente esqueceu a possibilidade da boneca ter caído no carro! — comentou Molly enquanto ajudava Sherlock a se levantar.

— Bom, todos nós fazemos coisas bobas — disse ele com um sorriso irônico para provocar a namorada.

— Menos você, né, meu amor? — A mulher seguiu no mesmo clima de deboche enquanto ficava na ponta dos pés e beijava os lábios do namorado.

Os dois riram um para o outro e pouco depois o grupo voltou para dentro do prédio para comemorar mais um caso solucionado por Sherlock Holmes.

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