9. [2/2] Queime até os ossos

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Capítulo 2 - Satisfação


Kikyou tinha sido queimada até os ossos. Do fogo foi moldada de volta com barro junto a esses mesmo restos mortais. O fim e o início de sua vida para a nova se relacionando a tanto calor, mas ela volta tendo tanta dificuldade de o sentir de novo. A única coisa que queimava em seu peito era os sentimentos de ódio, o único que borbulhava era da raiva e da vingança ao ser traga de volta, sem sua vontade e ainda assim, nem mais eles estavam ali.

E era tão diferente de quando estava com vida? Suas obrigações sacerdotais a fizeram ter uma vida fria, sem maiores prazeres, os mais comuns, os mais mundanos.

Tão poderosa e admirada aquela sacerdotisa, que o povo esquecia que ainda era humana, ainda era uma mulher, apagada de possuir o próprio gênero, resumida a ser a guerreira protetora de uma joia alimentada pelo desejo de poder dos demais.

Não era irônico ela ter que proteger? Justo a que não desejava? Não, fazia sentido. Quem não a quer é quem não permite ela se apossar de seus desejos. Ainda assim, ela sucumbiu pelas vontades frívolas de ser livre ao lado do homem por qual se apaixonou.

A punição pelos seus desejos egoístas talvez. Pensando melhor, quais seriam as chances de sucesso? Conhecendo mais a shiko no tama, mais possuía a certeza que não era esse o desejo verdadeiro. Não sendo, ao tornar InuYasha humano, ele prosseguiria com a joia alojada ao seu corpo, exatamente como Suikotsu, Bankotsu, Jakotsu, Kouga, Kohaku... e ela teria que proteger ainda a joia das mãos dos maléficos, principalmente ela estando no corpo do homem que amava.

Nunca teve escapatória.

Pois então a morte foi a sua.

Não tinha mais tantas obrigações e não seria mais levada a ser impedida de ser até mesmo egoísta. A vida já perdeu uma vez, por quê prosseguiria apenas sobrevivendo e não vivendo?

Teve um plano sem sucesso, iria se casar com InuYasha humano e se sentir completamente amparada em seus braços, sem receios mais em se entregar, sem desconfianças do lado youkai do hanyou, ele não mais teria um. E nunca aconteceu. Não teve tais experiências.

Ele estaria vivendo tais fases da vida com outra. A morte os separou antes mesmo de se unirem, era o correto seguir em frente. Não seria o mesmo para Kikyou?

Onigumo a desejava tão visceralmente que destruiu sua vida pela certeza de jamais a ter. O humano era um demônio antes de se tornar um. E ao retornar, tendo a consciência dos desejos daquele monstro, era ainda mais satisfatório saber que mais uma vez ela poderia morrer, mais ele jamais a teria. Nem no outro lado.

Pelo contrário.

Ela iria descumprir sua promessa ao InuYasha e deixar outro homem a tocar, e esse não seria Naraku, mas o homem cujo ele trouxe a vida, um dos antigos mercenários do exército dos sete, Suikotsu.

Ah... só agregava ao seu prazer.

Era como os anciões diziam, não há maior vingança do que estar bem.

Se seus corpos eram vazios, que calor era aquele?

Se suas terminações nervosas não deveriam mais corresponder, por que ele era capaz de sentir dor ao lutar e os toques gentis da sacerdotisa ao deslizar os longos dedos por sua pele?

Os corpos gelados, no dia ensolarado, queimavam de calor na tapera ao cair da noite. Sentiam queimar feito brasa em uma dança, mantendo o mesmo ritmo naquela cama.

Como seria possível isso? Ele não sangrava em batalhas, o que vazava dele seria o brilho puro ou corrupto do fragmento. Mas era capaz de ter aquelas excitações? Como ela era capaz de se umedecer?

Acontecia e era isso. Estavam vivos.

Os suspiros embargados aos sons molhados, mesmo os fluídos corporais ali se faziam presentes na união do casal.

Virou e sentou-se com ela em seu colo, beijo a pele sedosa, suave, apertando entre os dedos deixando as marcas vermelhas. Mesmo estando sendo gentil, as marcas ficariam lá, o aperto fazia parte da imensidão de seu desejo.

Os braços finos passavam por baixo dos seus, as mãos poderosas dela — capazes de dissipar o corpo dele — passavam a apertar e arranhar suas costas. Ela havia zombando, dizendo que seria gentil com ele também, mas o estava levando à loucura, mordendo sua orelha e movendo o quadril a própria vontade.

Beijou o pescoço de Suikotsu, onde a luz da shiko no tama brilhava intensamente pura, enquanto eles prosseguiam em seus momentos lascivos. Talvez chegou a reluzir mais ao contato com a sacerdotisa, porém tal fragmento não era seu foco. Sorriu ao pensar nisso em satisfação por desprezar parte da joia.

A joia que sempre deseja a atenção de todos e lhe destruiu, agora estava sendo só coadjuvante.

Os longos cabelos negros de Kikyou estavam uma bagunça, ainda mais por Suikotsu o puxar tanto, para beijar seus seios e a ouvir choramingar, sensível ao toque.

Suavam tamanho o calor, tamanha era a atividade.

Os beijos calmos se tornavam desleixados pelo ritmo intenso.

A girou para a deitar novamente a cama, entocando ritmicamente, tendo as pernas envoltas aos seus quadris. Os cabelos de ambos colavam em suas testas pelo suor.

Os suspiros e a respiração afoita ficou mais densa. As mãos dela ora no corpo dele, ora nos lençóis.

Os corpos feitos de barro e ossos estremeceram e se amolecerem feito os de carne.

Recuperavam o fôlego e achavam graça. Qual era o sentido de eles estarem respirando ou de estarem com dificuldade de respirar, de estarem cansados? O coração não batia, mas podiam jurar ouvir bater.

Tantas coisas inexplicáveis para os mortos; o antigo mercenário e a sacerdotisa.

O seu dela sorriso mostrava sua satisfação.

Foi puxada para os braços de Suikotsu novamente, para ele lhe beijar, mordiscar seus lábios ao ponto de deixá-los vermelhos e doloridos.

Não fazia tanta diferença para ele voltar a morrer, a quem era mesmo aliado eram seus irmãos, não Naraku. Mas para partir dessa vez, sendo o Suikotsu em uma totalidade, ao conhecer aquela sacerdotisa, a tê-la ao menos, se sentiria vivo e ao lado dela faria o correto para satisfazer sua consciência em relação aos próprios pecados.

Não desejava corrompe-la, só a acompanhar, e satisfazê-la, como um fiel à sua deusa. Seria seu devoto se não pode ser seu marido.

Mas ela riu ao ouvir dizer tais coisas:

— Hahaha... não preciso de um devoto, sou apenas uma mulher e nem de pele e ossos. Só os ossos.

Ele pegou sua mão e beijo suas costas:

— Então o que é isso, se não pele, Kikyou-sama?

Os lábios dela se curvaram com o olhar em afeto.

— Só seja o homem que está ao meu lado, Suikotsu-san.

— Serei seu homem. De terra e ossos.

Ao respirar fundo, ela disse mais como um pensamento pessoal:

— Meu...

— Não gosta?

— Gosto muito.

Suikotsu sorriu convencido. A miko era portanto sua afinal.

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