O Ritual

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O canto das bruxas se misturava com o grave som dos tambores que ecoavam em meio a floresta, a dança tribal ao redor da alta pira de fogo formava um espetáculo audiovisual que dificilmente irá se apagar da minha memória. Nayenna veio nua em minha direção segurando em suas mãos uma coroa feita com galhos de árvore enrolados habilmente, pediu para que me ajoelhasse, ela rogou uma prece em língua antiga irreconhecível para um leigo como eu e gentilmente me coroou, olhando-me nos olhos, sua pele morena brilhava ao entrar em contato com a luz das chamas, vestia pulseiras de ouro em ambos os braços com fitas de couro cozido e um colar de prata ostentando a figura de uma raposa cuidadosamente talhada, ela era a sacerdotisa mais jovem a receber seu posto, tinha grande conhecimento na arte da cura, uso de ervas e clarividência, aconselhava o rei constantemente, não seria exagero dizer que ela se tornou a única mulher que o rei se permitia a ouvir.

Se afastou de mim, e buscou com uma das bruxas um pequeno recipiente de madeira com água quente no qual ela colocou uma mistura de ervas e bateu calmamente com um pedaço de madeira até a infusão ficar pronta, ela voltou até mim e novamente me encarando direto nos olhos entregou o recipiente em minhas mãos.

Ainda de joelhos, bebi a mistura amarga sem nem ao menos saber o propósito, não me dei ao luxo de perguntar e nem precisei.

- Essa bebida purificará seus pensamentos e trará paz a sua mente, é uma infusão de valeriana com passiflora – Nayenna me disse, quase como se soubesse o que eu estava pensando - não se preocupe, não será uma simples bebida que te levará ao mundo dos mortos.

Seus olhos eram castanhos com um leve tom de mel, cabelos encaracolados e mãos macias, não aparentava ter a idade que tinha mesmo sendo consideravelmente jovem, qualquer homem diria que é apenas uma menina sem fazer ideia de toda sua sabedoria. Era uma mulher fascinante, seus feitos eram famosos por todo o Norte, Nayenna de Tressalia a sacerdotisa da névoa sagrada. Apesar de tudo era muito reservada, do tipo difícil de se arrancar uma palavra sobre sua vida pessoal.

Gentilmente tocou meu rosto e fez sinal para que me levantasse, quando fiquei em pé percebi o quão esbelta ela era, praticamente do meu tamanho, lentamente me deu as costas e se misturou a multidão.

Um ancião portando uma espada veio até mim, seus cabelos eram longos e grisalhos, estavam amarrados com pequenos ossos nas pontas e fitas de couro negro, usava colares de pedras com runas inscritas, a pele enrugada denunciava a longa idade, usava um longo gibão branco adornado com desenhos em tinta preta de flores desabrochando.

Olhou para mim e se ajoelhou me oferecendo o punho negro da espada que portava, era uma lâmina fascinante, seu aço cintilava sob a luz da pira em chamas, possuía runas gravadas ao longo do vinco, o pomo banhado a ouro era uma mini escultura da cabeça de uma raposa, sua guarda também banhada a ouro era totalmente reta e ia levemente afinando em cada uma das extremidades.

Peguei a espada com cuidado, era uma obra de arte que devia ser tratada com respeito, apalpei calmamente o gume para testar o fio e meu dedo sangrou.

- Essa é a espada que confiamos a ti – o velho disse - é o que você deve usar para matar o último gigante que anda sob a terra.

A apreciei por mais um momento, ela era um pouco maior que o habitual, a brandi no ar e percebi que era mais leve do que aparentava, não iria demorar muito para me acostumar com ela.

- Meu sangue irá fazê-la se tornar indestrutível - o ancião disse, fitando-a – e a você, imbatível sob o sol.

Ele não era apenas um ancião, era o homem mais velho a viver no reino, em sua juventude foi um xamã capaz de mudar a direção dos ventos, atrair uma tempestade, abrir o oceano e mais diversos feitos que um bom cristão julgaria ser milagres.

O Último GiganteOnde histórias criam vida. Descubra agora