O castelo

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A oeste do castelo de Vengelboldt ficava um isolado riacho de água fria onde fui me banhar, felizmente estava vazio e podia aproveitar um pouco de paz, a floresta estava silenciosa, a cerimônia já havia acabado e cada um voltou para seus afazeres no castelo ou na plantação, o cultivo de batatas era ótimo nessa época do ano.

A água estava incrivelmente gelada e eu não conseguia sair porque o sangue do velho em minha pele tinha secado e precisava tirar tudo, não importava o quanto eu me esfregava ele nunca saia totalmente, dei graças aos deuses por ninguém estar vendo esse momento embaraçoso.

Depois de vários minutos eu consegui tirá-lo o suficiente, estava me preparando para sair, o sol já estava a ¼ do céu e tinha muito o que fazer no castelo quando olhei de relance para as árvores e avistei alguém, vi o que parecia ser um homem porém não consegui ver seu rosto, ele estava todo vestido de preto e estava com um capuz que cobria toda a cabeça, estava com o que parecia ver aquela distância um corvo no ombro direito, o pássaro mexia a cabeça para todos os lados em alerta.

Segurava em sua mão um cajado com a ponta apoiada no chão, pelo que pude ver provavelmente era feito de carvalho seco, envernizado com um óleo de tonalidade escura bem forte com um crânio humano bem pouco cuidado na ponta, cheio de poeira e com muitas rachaduras.

Senti um temor como se estivesse de frente para a morte em pessoa. Olhei para onde tinha deixado as coisas e avistei a espada junto com minha roupa no canto do riacho, fui calmamente me aproximando do local.

- Senhor? - gritei para o homem que continuava imóvel - quem é você?!

Olhei novamente para a espada, já erguendo meu braço para pegá-la.

- O que você... - comecei a dizer, mas parei repentinamente quando coloquei os olhos onde o estranho estava e percebi que ele havia sumido.

Passei os olhos em todo canto, procurando-o já com a espada em mãos, pronto para o que precisasse, meu fôlego estava pesado e minhas pernas tremiam. Não o achei.

Após colocar as roupas parti em direção ao castelo, não conseguia tirar a visão que acabara de ter da cabeça, durante o caminho todo olhei ao redor incontáveis vezes esperando encontrar o estranho, era a primeira vez que vi aquele homem encapuzado e algo me dizia que não seria a última.

Me aliviei quando saí da floresta e entrei nos campos de plantação de batata, podia ver o castelo ao fundo e atrás o vale pelo qual iria começar minha jornada, era uma bela paisagem a qual parei por um momento para apreciar.

Os campos estavam cheios de camponeses trabalhando na colheita com seus arados, havia diversas mulheres trabalhando também, algumas colhendo e outras plantando.

Na beira da estrada havia uma jovem donzela ruiva que me chamou a atenção, ela estava colhendo batatas e colocando-as em um saco que aparentemente estava bem pesado, seu jeito era delicado para uma tarefa braçal, usava um avental branco completamente sujo, suava um pouco, ergueu o braço sobre a testa para limpar o suor e nisso olhou para cima.

Ela me viu e eu pude vê-la melhor, com certeza não passava de 18 verões, seu rosto era cheio de sardas e seus olhos eram azuis e brilhantes como água cristalina, rapidamente ajeitou o cabelo meio que de reflexo ao me ver e timidamente sorriu para mim.

Eu retribuí o sorriso, não com a mesma graciosidade, mas tentei. Continuei andando e ela voltou a trabalhar, gostaria de poder ter passado mais tempo no reino.

Sempre fui considerado um homem de beleza rústica, meus olhos eram verdes com um leve tom de mel, gostava de raspar as laterais do cabelo castanho escuro e prendê-lo atrás, cultivava uma barba não muito grande, mas o suficiente para esconder a feiura. Sempre fui forte, o caminho do guerreiro me levou a isso, tantos anos brandindo a espada e andando com armaduras pesadas me renderam um bom volume de músculos, era difícil alguém ousar me enfrentar em uma luta de socos, embora não precisasse de muito álcool para fazer eu começar alguma.

O Último GiganteOnde histórias criam vida. Descubra agora