Capítulo nove

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  "A alma é essa coisa que nos pergunta se a alma existe" 

                                     – Mario Quintana

  Capítulo nove.

 Não lembro a última vez que falei com alguém por ligação, na verdade eu odiava. 

 Não conversamos, Nicolas não falou nenhuma palavra. Fiquei a madrugada inteira com os olhos abertos e uma angústia esquisita, mas de alguma forma aquilo me confortou. Eu não sabia que precisava escutar o álbum inteiro do Nirvana em uma madrugada até escutar um álbum inteiro do Nirvana em uma madrugada. 

 Depois da discussão que tive com a minha mãe, ficou um clima muito tenso em casa. Talia percebeu, mas não comentou sobre nada, e meu pai, como sempre, agia como se nada tivesse acontecido.

 Eu não queria ficar em casa, então acordei o mais cedo possível e fui andando sozinho, mesmo sabendo que provavelmente depois de alguns minutos Nicolas estaria me esperando na frente da minha casa. 

 Não iria saber o que conversar com ele depois da noite passada, depois de termos compartilhado um momento, que ao meu ver, era um pouco íntimo. Escutar uma música com alguém é compartilhar seu próprio manto sagrado.

 Eu não sabia o que Nicolas queria.

 Eu não sabia o que ele planejava e nem porque queria tanto ficar perto de mim. Talvez fosse pena. 

 Tatá estava dormindo quando saí. Dei um beijo em sua testa e fiquei uns segundos observando o quanto ela é pequena e fofa e muito forte. 

 Quero que minha irmã tenha a infância que eu não tive, o amor que eu não tive, amigos legais e que não fosse zoada por ser quem é. Quero que ela cresça e seja uma pessoa incrível e que sempre esteja ao meu lado, porque eu acho que preciso dela tanto quanto ela precisa de mim.

 Estava me sentindo um pouco estranho, enquanto andava meu joelho doía, uma dor enjoada que demorei para perceber.

 Estava suportável, então não me importei muito e continuei andando. 

 De novo era um dia cinza e nublado, daqueles que te fazem se sentir pequeno e insignificante. Que te fazem querer uma xícara de café quente enquanto tenta segurar as lágrimas para não saírem e alagar tudo. 

 Eu ouvia o canto dos pássaros sendo levado pelo vento frio que tocava meu rosto. Nesses momentos em que estou sozinho tento não pensar sobre tudo, mas acabo pensando sobre tudo. Não que "tudo" seja tudo, mas são algumas coisas específicas. Como no dia do meu aniversário de 13 anos em que meu avô me deu um kit de aquarela que nunca usei. 

 No dia em que Nicoly chegou na escola com os óculos escuro mais lindo que já vi – menos o que ela escondia atrás dele. 

 No dia em que Tália foi para meu quarto no meio da noite, chorando por causa de um pesadelo. 

 No dia em que Rafael dormiu na minha casa depois da festa, com seu pijama de estrelas rosa, quando falou que gostava de alguém e me disse como era.

 No dia da festa quando descobri que o nome dele era Nicolas.

 Eu não queria pensar sobre tudo o tempo todo.

 Até que, enquanto eu andava e me perdia nos pensamentos escutei um barulho de moto, uma moto específica. Chegando cada vez mais perto. 

Até sentiria medo se eu não soubesse quem era.

– Sua irmã falou que você já tinha saído – Nicolas disse. Andando do meu lado lentamente com a moto. – Achei que não iria te encontrar.

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⏰ Última atualização: Mar 16, 2022 ⏰

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Como um céu estrelado ( Revisando )Onde histórias criam vida. Descubra agora