Prólogo

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Julho

Na sala ampla e clara, três mulheres estavam em volta do sofá, encarando o mesmo ponto. Um bebê as olhava de volta com olhos azuis cristalinos como o gelo e os bracinhos agitados.

-Cinquenta por cento de chance de ser do Luca.

-E como você descobriu isso, cientista? - Kate perguntou para a Alex.

-Simples, ele é ruivo e o Luca é ruivo; chance de ser do Luca: cem por cento. Ele tem olhos azuis e o Luca tem olhos verdes; chance de ser do Luca: zero por cento. Cem mais zero é igual a cem, dividido por dois, dá cinquenta. Logo, chance de cinquenta por cento.

-Você precisa avisar as pessoas, Alex. Elas estão gastando dinheiro à toa com teste de DNA – Kate respondeu, sarcástica.

-Devia! Melhor, vou abrir um consultório de paternidade, só eu e a minha lupa.

-Lupa? - Malu tirou os olhos do bebê por dois segundos.

-Para ver detalhes como raiz do cabelo e nuances da cor da íris. Sou muito meticulosa. Aliás, já vou começar a treinar com o Noah. Você tem uma lupa?

-Não consigo pensar em uma única razão pela qual eu teria uma lupa, Alex.

Noah continuava as encarando, como se estivesse acompanhando a conversa.

-Ele é quietinho, né? - Kate falou.

-Ele é muito bonzinho! - Malu concordou. - É o neném bonzinho da v...

-Não! - Kate ergueu o dedo. - Não fale essa palavra! Primeiro descubra se essa Roberta Smith sequer deu para o seu filho, ainda mais se teve um filho dele, e só então dê títulos. Daqui a pouco você descobre que o menino é filho do Zé da papelaria e fica aí toda depressiva.

-Ok, ok.

-A Kate é meio apavorante. Eu não deixaria o Noah muito perto dela que ele corre o risco de crescer de cabelo em pé. Aconteceu com um primo da minha avó, ele se casou com uma Kate e nunca mais precisou usar gel na vida.

-Como é? - Kate se virou para ela, as mãos na cintura.

-Nada, nada – Alex respondeu, apavorada.

A verdade é que Kate estava lentamente ficando cada vez mais mal-humorada. Já eram três horas da tarde, estavam todos, menos Noah, com fome – O que se deveu a uma ida ao supermercado para comprar fórmula e fraldas. Não importava quem ele fosse, ele merecia um pouco de dignidade.

O bebê havia sido encontrado em um moisés na porta da casa da Malu, acompanhado de um bilhete com seu nome, a revelação que ele era filho do Luca e, consequentemente, neto de Malu e Eddie, uma certidão de nascimento e isso era tudo. Como resultado, os supostos avós, que estavam prontos para viajar para a Disney, se viram obrigados a cancelar e ver o resto da família partir sem eles. Eles vinham tentando falar com Luca, sem sucesso, desde a manhã. Mas Malu precisava passar a notícia adiante, por isso não se conteve e terminou ligando para as melhores amigas.

-Isso precisa se resolver logo! - Kate reclamava. - Eu tenho uma viagem marcada para o Brasil daqui a três dias e não posso ir com um assunto desses pendente!

-Me desculpe se a bomba que caiu na cabeça da minha família está atrapalhando a sua agenda, Kate.

Naquele momento, ouviram o Eddie gritando do quarto:

-Consegui! Tô aqui com ele!

Dali a cinco segundos, ele entrava na sala com o celular. Na tela, Luca estava com cara de sono e um pouco descabelado. Quando viu os pais, ele abriu seu sorriso preguiçoso, sua marca registrada, daqueles que só uma pessoa muito em paz com a vida dava.

Quando A Vida Acontece - Vol 3Onde histórias criam vida. Descubra agora