Capítulo 29

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No topo de uma pilha de livros, havia um papel que dizia "levar". Sobre outra pilha, estava escrito "doar". As mais organizadas eram as colunas de DVDs, e sobre elas não havia nada escrito, pois isso era óbvio. Ninguém encostava nelas.

Tommy decidiu que já havia trabalhado demais por um dia e que aquele era um bom momento para um drinque. Como se lessem os seus pensamentos, o interfone tocou.

-Me deixa subir. Trouxe tequila.

-Ella?

-Se não liberar essa merda rápido, vou beber essa porcaria sozinha na sua portaria.

Tommy liberou sua entrada fazendo as contas e percebendo que ela e seu pai já haviam terminado naquele ano. Logo, a menos que eles tivessem adiantado o término do ano seguinte, ele não fazia muita ideia do que ela estava fazendo ali. Mas, claro, jamais recusaria uma tequila.

Ella entrou no apartamento feito um vendaval, estendendo tequila e limões para o Tommy e pedindo que ele fizesse umas margaritas e dando de cara com suas coisas empilhadas.

-Vai se mudar? De novo?

-De novo e em definitivo para o apartamento do Louis.

-Então vai fazer as margaritas, filho, pra minha amargura não atrapalhar a sua felicidade.

Tommy foi para a cozinha enquanto Ella andava pela sala pequena, se distraindo com o exame dos móveis alheios.

-Imagino que você não vai levar estante, mesa, essas coisas.

-Não – Tommy gritou da cozinha.

-E o que você vai fazer com elas?

-Não sei. Quer pra você?

-Não, valeu. Você podia fazer uma daquelas vendas de garagem, sabe? Porque não é possível que o sótão da sua mãe suporte mais nada.

-Mãe, você é genial. Eu podia fazer um leilão. Coloco tudo em exposição e cada um dá o que achar justo por cada peça, observando-se um preço mínimo, claro.

-Adorei. Só não me peça pra organizar, porque eu tô cagando tudo o que eu meto a mão.

-O que houve? – Ele botou a cabeça para fora da cozinha.

-Corre com as margaritas, corre! A amargura tá vencendo!

-Ai, porra. Espera.

Embora o apartamento fosse decorado com muito bom gosto, ele ainda era bem pequeno e, em mais ou menos três passadas, Ella chegou à janela. Ficou olhando as luzes do trânsito lá embaixo, pensando que a vista era exatamente a mesma quando sua vida era simples. E que havia problemas bem piores que ser a única menina em uma família de mineradores casca grossa de Durham.

Tommy entrou na sala, e o melhor dele era que ele não só fazia ótimos drinques, como os preparava com classe. Segurava duas taças de margarita com sal na borda e estendeu uma para Ella. Ela tomou o primeiro gole com os olhos fechados.

-Filho, posso não ter te dado instrução, mas te ensinei tudo o que você precisava saber na vida.

-Você não me ensinou. Você não saberia fazer uma margarita nem que sua vida dependesse disso, por isso explora trabalho infantil.

-Verdade.

Ella sentou-se no sofá, tirou as botas de cano curto e falou, cruzando as pernas sobre a mesinha de centro:

-Não vou avariar as peças do seu leilão.

-Acho bom – Tommy se sentou ao lado dela. – O que houve?

Quando A Vida Acontece - Vol 3Onde histórias criam vida. Descubra agora