Capítulo 8

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O que Ella não havia antecipado quando convidou o Tom é que seria uma feira de antiguidades. Não exclusivamente, mas havia um número de barraquinhas de coisas antigas em quantidade suficiente para que ela pensasse que, naquele passo, só chegariam ao estande da Mary Christabel loira no ano seguinte.

Ela não ficou ressentida porque era obviamente mais forte que ele. Mas, após o terceiro vendedor com quem ele negociou um punhado de moedas antigas, ela achou que eles precisavam de um pouco de foco. Ela colecionava cinzeiros; logo, entendia o fascínio do Tom por moedas, mas não era para isso que eles haviam ido até ali.

Embora ela não soubesse exatamente o que a havia levado àquela feira tampouco.

-Foi mal – Tom se desculpou, enquanto pagava o vendedor e pegava a sua sacola. - Foi a última parada, prometo.

-E eu prometo que outro dia a gente volta aqui e compra até as poeiras das moedas. Aliás, podemos fazer isso até depois que eu der uma olhada nela.

-Vamos, então.

A feira estava cheia e Ella pensou como diabos iam se aproximar de forma discreta. Ela e Tom chamavam a atenção por serem a) Mais altos que a maioria e b) famosos. Talvez devesse mesmo ter chamado um detetive. Pelo menos sua altura servia para enxergar melhor as pessoas à sua volta, ainda que os óculos escuros e o chapéu não a escondessem muito bem.

Até porque era um chapéu lindo de morrer e impossível não olhar.

-Acho que é ela – Tom falou e apontou uma bancada mais à frente com o queixo.

Ella parou, o coração disparado. Era uma barraca de bijuterias com aparência histórica e pretenciosa e, atrás dela, uma mulher loira que se parecia bastante com a da foto do Facebook. Podia muito bem ser quem eles estavam procurando. Aliás, não conseguia pensar em um só motivo por que não seria.

-Acha que ela é loira natural? - Ella perguntou.

-Putz, não faço ideia. Dessa distância não dá para dizer.

Ella ficou parada, olhando, sem conseguir decidir o que fazer. A mesma força que a impelia a se aproximar a repelia, e ela estava no mesmo lugar, como uma garotinha boba e medrosa, três coisas que ela vivia dizendo para si mesma que não era. Tom viu sua indecisão e disse:

-Eu vou com você.

Ella negou com a cabeça.

-Não, vai você. Compra alguma coisa, vê se ela é loira natural e se tem sotaque bizarro.

Ele sorriu, divertido, e concordou.

Ella tentou não encarar, mas era impossível. Tom se aproximou, a mulher sorriu, eles conversaram um pouco enquanto ele analisava a barraca. Ela ergueu um colar, dizendo alguma coisa. Ele respondeu. Mostrou um outro colar, ela o pegou. Colocou-o em um envelope de papel, Tom pagou.

-E aí? - Ela perguntou, quando ele voltou.

-Se a sobrancelha não é da mesma cor que o cabelo, é loira falsa, certo?

-Certo! - Ella concordou, empolgada. - Ela era escura? A sobrancelha? Tipo castanha?

-Acho que sim.

-Acha? Grandão, você é um péssimo observador. O que mais?

-Ela tem sotaque. Bem fraco.

-Igual ao meu?

-Mais fraco que o seu.

Ella havia feito cursos e um esforço consciente para se livrar do seu sotaque e do dialeto da sua classe social, para ser mais inteligível e falar de uma forma mais universal, como os locutores da televisão. Por outro lado, se sua mãe viera para cá logo que saiu de Durham, isso lhe dava vinte e sete anos de treino para falar como uma londrina.

Quando A Vida Acontece - Vol 3Onde histórias criam vida. Descubra agora