Tragédia não é o fim

Capítulo 19

Eles chegaram ao Burial Mounds com nada além das roupas do corpo. Wei Wuxian tinha Chenqing e Suibian enfiado em uma manga Qiankun, e havia trocado os cavalos por comida e remédios quando chegaram a Yiling, mas, além disso, eles não tinham nada.

Naquela época, os Burial Mounds eram um lugar muito diferente. Apenas o palácio e seu pátio eram realmente seguros, realmente protegidos – era tudo o que Wei Wuxian precisava quando estava perdido e sozinho. Quando os Wen começaram a se estabelecer, Wei Wuxian começou a abrir mais espaço, extraindo o ressentimento da terra para dar-lhes espaço para plantar, crescer e construir. Ele havia tornado o caminho de entrada e saída da montanha mais seguro, tanto da energia ressentida quanto dos cultivadores do lado de fora.

E como Wei Wuxian construiu alas, os Wen construíram muros. Ele atraiu o ódio do solo, e os Wen plantaram suas colheitas em seu lugar. Ele pendurou os talismãs em torno de Wen Ning, e o Wen fez comida suficiente para todos.

Com o passar do tempo, as coisas tornaram-se menos desesperadas e menos urgentes. Wei Wuxian começou a experimentar, criando novos talismãs para tornar a vida mais fácil, mais agradável, inventando coisas que ele poderia vender.

O Wen tinha começado a experiência, também. Uma das tias havia costurado pedaços de pano em um pequeno boneco de brinquedo para A-Yuan, enchendo-o com grama seca e palha. Um dos tios, que já havia sido entalhador de madeira, fazia pratos, tigelas e xícaras, e fazia jogos de tabuleiro e dados com qualquer coisa em que pudessem pôr as mãos.

Semanas se passaram e as coisas ficaram mais fáceis. Wei Wuxian conseguiu entrar em Yiling, e seus talismãs lhe renderam dinheiro suficiente para poder comprar mais matérias-primas também. Com estes, o Wen fez travesseiros e almofadas, e lanternas e queimadores de incenso. Wei Wuxian inventou a bússola do mal e Sishu inventou um novo vinho de frutas. Wei Wuxian criou novos talismãs, e Popo fez contas e joias de madeira e barbante velho.

Juntos, Wei Wuxian e os Wens tinham feito uma vida em Burial Mounds. Era uma vida dura, em um lugar cruel, mas era deles, e era uma vida que continha amor, beleza e cuidado. A maioria das coisas que eles criaram poderia vir com eles – de fato, a carroça estava cheia de criações tanto de Wei Wuxian quanto de Wens – mas havia algumas coisas que eles teriam que deixar para trás. As camas que eles construíram, com imagens esculpidas nas molduras de madeira. As plantas que morreriam na terra, os lótus que Wei Wuxian tinha tão cuidadosamente induzido à vida. As pinturas nas paredes da casa de Wen, feitas com pinceladas eriçadas demais, e bastões finos, e os dedinhos de A-Yuan.

Isso tudo seria deixado para trás.

De alguma forma, parecia muito para sair.

Mas, no grande esquema das coisas, não era – nem havia muito o que levar. Suas vidas agora cabem em um único vagão, mais ou menos. A maioria dos Wen carregava malas com suas roupas sobressalentes e os poucos itens pessoais que possuíam, mas nenhum carregava um fardo pesado. A menos, é claro, que você tenha contado Wen Ning, que estaria puxando a carroça, mas Wen Ning não se importou. Se Wen Qing quisesse reclamar sobre isso, ela poderia ouvir Wei Wuxian apontar pela milésima vez que eles não precisariam de Wen Ning para puxar a carroça, se ao menos tivessem um burro.

“Acho que é tudo”, disse Wen Qing, apertando a alça de sua própria bolsa com a mão. Ela tinha mais para carregar do que a maioria, com os suprimentos médicos que ela conseguiu reunir durante todo o tempo lá, mas Wei Wuxian sabia que não deveria perguntar se isso a incomodaria. “Acho que estamos prontos.”

Wei Wuxian assentiu, mas por dentro uma parte dele estava gritando. Isso foi muito rápido, muito cedo. Dois dias atrás, ele estava preparando os Wens para durar mais ou menos uma semana sem ele enquanto ele estivesse em Jinlintai – agora, todos eles estavam indo. Todos estavam deixando o santuário que haviam construído.