Um Caderno empoeirado

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Em meio as difíceis condições que vivo me sinto entediado, as constantes ameaças, xingamentos e punições que me rodeiam diariamente só me torna cada vez mais convicto de que a tempos o ser humano perdeu sua humanidade.
Sem perspectiva de reencontrar meus entes queridos com quem costumava dialogar diariamente eu aceitei o fardo que tenho que carregar de agora em diante. Me encontro preso não por cordas ou algemas, mas sim pela minha própria mente, e oque me restou? Apenas um caderno empoeirado...

Confuso? Talvez, mas bem vamos retornar para onde tudo isto começou, a trajetória até aqui é enorme mas nem um pouco entediante.

09 de Abril de 2008 às 20:30 da noite.

— Eu já te disse que não quero te ver chegando tarde em casa não foi? Mas você como sempre só me desobedece.  Volte AGORA pra casa! - Gritou minha mãe pelo chamada de voz.

— Já te disse que estamos de saída, não precisa se preocupar, umas vinte e uma horas nós chegaremos aí, só pede pro pai não mandar nenhum guardinha chato dele atrás de mim. - Eu disse.

Você sabe o que é se sentir rodeado de pessoas que fingem se importar com você, caro leitor? Claro que não, você é medíocre ao ponto de achar que todos que te cercam e falam com você são seus amigos, mas não é assim que as coisas funcionam.
A maior parte dos que me abraçavam hoje em dia nem se preocupam mais comigo, pararam de procurar meu suposto corpo, pararam de cogitar meu suposto cativeiro. Eu só fui importante para eles quando com meu dinheiro eu supria suas necessidades.

Me acostumei com a solidão, ela é dolorosa, porém ela age quieta, não me incomoda, não finge ser minha amiga nem que compactua com minhas lágrimas, a solidão é dolorosa mas a dor que me aflinge não vem disfarçada de bom grado ou gratidão, é uma dor genuína e que se for pra doer meu amigo leitor, que a dor seja verdadeira, não tolero dores ocultas nem pesares mal resolvidos, eu busco uma dor genuína que machuque mas que seja nítida, pode até ser mais dolorosa mas o processo de cicatrização é mais rápido.

Meus pais são ricos, donos de uma grande exportadora de alimentos, uma empresa de renome internacional, por isso são muito ocupados, e sinceramente? Não os julgo, qualquer coisa que me ocupasse daquela monotonia metropolitana seria bem vinda, nunca optei pelo consumo de drogas pois não tinha ciência do quão interessante elas podiam ser, sempre vivi rodeado de jovens politicamente corretos que buscavam sempre agir da melhor forma... Porra nenhuma, os moleques usavam todo o tipo de droga, seus pais trampavam diariamente, dando o máximo de si, alguns dando mais o máximo que outros, a maioria era filho de político corrupto safado que ganhava a vida desviando verba da sociedade, acho que por isso seus filhos eram grandíssimos babacas e irresponsáveis.

Mas quem é responsável hoje?
Responsável que digo é sobre sua própria vida, seus próprios afazeres e necessidades. Quem muito se preocupa hoje não se preocupa por si, mas pelo outro, quem busca agregar algo hoje, deseja agregar nas vidas alheias, e muita das vezes essas pessoas desejam agregar valores que dogmáticos opressores. A sua ânsia de "ajudar" o próximo sobressae a real necessidade dele? Que feio leitor, você ajuda-o pra suprir seu próprio vazio existencial, sua incessante necessidade de se auto-validar como uma boa pessoa.

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Desculpe-me leitor, irei me retirar, afinal já passou-se das 23h, e em meu Cativeiro costumo dormir bem cedo, pois meu refúgio são os pássaros que ao raiar o sol entoam belíssimas canções que purificam os ouvidos de todo e qualquer encarcerado em celas supérfluas e imaginárias porém palpáveis e angustiantes.

Desordeiros gritos no vazio de um quarto escuro e ensanguentado, gritos palpáveis, o sentido se perdeu eu sei, mas ele se faz necessário? Não tenho sentido, portanto deixo-me levar, sem restrições, sem mágoas nem amarguras, minha única prisão é psicológica, essa prisão física que me rodeia já não me prende, apenas me protege. É uma proteção de mim mesmo que me rodeia mas não me oprime, proteção da sociedade que me oprime mesmo sem me rodear.

Bem, boa madrugada leitor!

Em CativeiroOnde histórias criam vida. Descubra agora