Capítulo 3

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Impaciente e afobado, recolhia as inúmeras bolas para braços insuficientes. Tinha em mente que possuía um misto de pressa e constrangimento, e no íntimo de seus devaneios, Hitoshi Shinsou conseguia ouvir de soslaio o ranger endiabrado de seus dentes, além do cativante impulso de abandonar o ensino médio e mudar-se para as montanhas.

Em meio ao desafio que passava, esgueirava-se para mais uma bola alaranjada, seus dígitos beiravam a textura, era repetidamente prazeroso quando uma bola repousava no cesto junto às outras.

O fim do trabalho lhe devolvia o brilho dos olhos, até quando uma silhueta intrusa, de semblante maquiavélico e pretensioso, lhe alcança com os sapatos enlameados, chutando para longe de si a bola já acanhada em suas mãos.

— Que porra você tá fazendo na minha quadra, seu bostinha?

[...]

Paralelo à tal situação, Denki Kaminari, após aqueles momentos tão quentes, secava suas madeixas loiras com uma toalha enquanto mantinha um sorriso sapeca em sua orla labial, era nítido que tudo que haviam feito reprisava em sua mente, já pensando nos próximos locais onde cometeria mais uma de suas travessuras.

Toda a magia que rondava a cena pareceu morrer no instante em que ouviu uma conhecida e arrogante voz vinda do lado de fora do vestiário. Seu cenho se franziu e seus olhos logo foram até o próprio namorado.

— Ouviu isso? — perguntou, receoso.

— Hijo de puta¹, que merda — falou, não tardando em cobrir seu tronco recém-banhado por sua camisa de maneira brusca. — Ouvi perfeitamente. Hah, o roxinho se fodeu, pelo visto — citou, já impaciente, e seguiu seu loiro em passos indelicados e rápidos até a saída.

O casal deparou-se com o garoto de antes e Katsuki Bakugou, esse último que teve sua atenção momentaneamente desviada de Hitoshi para o casal que se retirava do vestiário masculino.

Sua língua estalou-se contra os dentes e aquilo deixava nítido sua irritação, além de seus olhos extremamente expressivos, que mostravam toda sua indignação.

— Denki, já disse para não andar com esse... — interrompeu a própria fala para não xingar o latino de algo referente a seus chás "naturais" e seus cigarros de "nicotina", ou algum derivado disso.

E Denki odiava, mais que tudo, discutir com seu irmão. Ele era alguém importante para si de diversas maneiras. Contudo, Hanta Sero era sempre um tópico a ser debatido entre a díade.

Sentindo-se cansado antecipadamente, como se já soubesse o que veria, e de maneira quase inaudível para os outros ao redor.

— "Esse" o quê? — incentivou-o da maneira mais cínica e sonsa que conseguia.

— Esse novinho bonitão e charmoso! — Do pouco que sabia e havia percebido, para si já era esclarecida a situação, e com isso veio à terra o senso moral descabido de Hitoshi, que passou a defender o latino das mãos hostis de Katsuki Bakugo. — Seu nazistinha de chaveiro!

O loiro arrogante sentiu-se ainda mais furioso, e, logo, mais uma vez para com o novato.

— A conversa não é contigo, calouro de merda — falou, entre dentes. — Preste atenção nos seus próprios assuntos.

— Ou o quê, porra? Vai bater nele também?!

Hanta Sero intrometeu-se, já com certa irritação, suspirando em sequência com o toque gentil de seu namorado sobre os ombros.

— Nele talvez não, mas em você eu faço questão, seu latino de merda. — Xingou, já se aproximando dele, como se o enfrentasse.

Katsuki soube que havia passado de todos os limites existentes quando visualizou o conjunto de expressões que o encaravam naquele instante. Hanta Sero parecia ainda mais furioso consigo, e pôde ver um vislumbre de surpresa na face de seu irmão mais novo.

Entre atuações, músicas e amoresOnde histórias criam vida. Descubra agora