Elas não são iguais.

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Narrado por Andi Agosti

Os olhos de Emília se arregalaram em questão de segundos após ouvir a voz da mãe. Não sei o que tinha aquela mulher de tão assustadora que fazia com que as gêmeas a temessem tanto. No começo, antes de conhecer sua irmã, não conseguia visualizar Samantha como filha de uma mãe tão rígida, já que ela não aparentava ter tanto medo das consequências de suas ações. Mas, bem, se tem algo bastante previsível sobre Emília é que ela é a típica garota filha de uma mãe exigente.

Seu desespero é palpável, ela me olhava em pânico procurando uma solução, um caminho para que não tivesse que explicar para mãe o que ela fazia trancada no próprio banheiro com uma garota. Eu tive vontade de rir, e seria engraçado vê-la desmaiar se a mãe dela me visse ali, mas não queria que ela se ferrasse e passasse a me odiar (ainda mais), até porque ela tinha sido legal comigo nas horas em que não estava me expulsando da casa dela hoje. Segurei nos braços de Emília e seu desespero parecia aumentar, levantei as mãos para cima e indiquei que ela respirasse fundo.

– Filha? – ouvi a voz da mulher atrás da porta do banheiro.

Passei por Emília e me escondi na parte do box coberta pela mármore, torcendo para que ela entendesse que eu ficaria ali até a mãe dela sair. Ouvi ela respirar fundo quando me viu sair do seu campo de visão.

– Fez o curativo? – ouvi a segunda voz quando ela abriu a porta.

– Que curativo? – Emília perguntou confusa, quase me fazendo rir.

– Da sua mão, menina, onde você está com a cabeça? 

– Ah, sim, fiz – a loira respondeu, provavelmente mostrando a mãe.

– Que coisa mal feita, Emília – a mulher reclamou e eu abri a boca ofendida.

– Por que você não fala em português? – perguntou nervosa.

– Preciso treinar o meu espanhol. Vem, deixa eu fazer um curativo de verdade.

Emília não contestou. Elas ficaram em silêncio por um tempo até a mãe das gêmeas quebrar o gelo.

– Filha, não fique assim, uma hora seu pai irá amadurecer e perceber a filha maravilhosa que ele tem – a mulher falou num tom encorajador, mas Emília apenas respirou fundo cansada.

– Mamãe, o papai já tem quase quarenta anos e você quer que eu espere ele amadurecer? – pausou – Está tudo bem, ele prefere a Samantha, já me conforme.

Pobre Emília, cheia de daddy issues. 

Coisa que eu nunca imaginei, já que Samantha sempre contou como o pai dela é incrivelmente legal e a conhece bem, apesar de nosso namoro também ser omitido dele. Mas, ao que parece, ele tem uma filha preferida.

– É só dar tempo ao tempo. Eu também não era a filha favorita do meu pai, nem da minha mãe, na verdade, mas… Hoje? – deu uma risada sem humor – Eles agradecem a Deus por mim todos os dias.

– Por que você dá dinheiro para eles e a tia Beatriz não?

Parece que me falta fôlego a partir daí. A sensação é que ambas as mulheres estão sugando todo ar para si, num clima de tensão que consigo visualizar mesmo sem enxergá-las.

– Porque eu sou médica, tenho uma família estruturada e os neurônios funcionando, Emília. Espero que um dia você também – a mulher falou ríspida, mas notoriamente afetada pela fala da filha. 

– Mãe… – ouço a porta se fechar e sei que Emília está sozinha novamente, mas ainda não deixo meu “esconderijo” de imediato. Espero um sinal, e alguns minutos depois ele vem – Você já pode sair daí.

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⏰ Última atualização: Mar 22, 2022 ⏰

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