Capítulo XVII

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Foram necessários cinco dias, dezenas de exames e de imagens, além de uma equipe extensa de médicos, composta por cirurgiões e oncologistas – sem contar os que eram convidados a dar uma opinião sobre o caso – para que pudessem encontrar um caminho minimamente seguro para o tratamento do tumor de Ariele. Era difícil – eles precisavam trabalhar rápido ou a intervenção não seria mais possível, mas, ao mesmo tempo, tinham que ser precisos sobre o curso adotado. Era muito, muito difícil.

Rosamaria, que já estava no final de sua residência, nunca tinha visto um caso como aquele. Ela sabia, teoricamente, como realizar a cirurgia – já havia lido sobre em algum lugar –, mas nunca fez ou assistiu ao vivo. Então, todo o tempo em que ela não estava trabalhando  e tratando pacientes ou estudando para as provas finais da residência, ela procurava entender todas as nuances do procedimento pelo qual Ariele passaria. Ela queria se preparar o máximo possível para aquela cirugia. Precisava, pelo menos dessa vez, vencer essa doença. Não só porque era uma vida e seu trabalho era – literalmente – salva-la, mas sabia que Ariele era alguém importante para Caroline. Rosa podia não saber a extensão da história, mas pela forma como ela ficou surpresa com a entrada da paciente e pela constância das conversas que a neurocirurgiã vinha tendo com Sheilla, ela sabia que não era qualquer coisa.

Depois do diálogo super estranho que as duas tiveram sobre coisas de namoradas e significados de pingentes, Carol e Rosa não falaram mais nada acerca disso – nem de Ari, nem de Natália, nem de coisas de namorada –. Elas se encontravam nos raros intervalos da residente, nos quais conversavam sobre casualidades e, normalmente, era algo relacionado à medicina; no dia que sucedeu a admissão de Ariele, por exemplo, as duas ficaram horas conversando sobre um artigo de neurologia que havia sido publicado. Carol esclareceu, com muito prazer, tudo o que Rosa não tinha entendido e só parou quando a catarinense se deu conta de que precisava estudar. Fora isso, era como se nada tivesse acontecido. Não tocavam no assunto, nem mesmo depois de caronas despretenciosas e beijos roubados pela mais velha em frente ao prédio de Rosamaria. Elas tinham medo.

Uma, com plena consciência de seus sentimentos e intenções, receava falar demais e acabar o que nem havia começado (e esse era mesmo um problema!); a outra, com todas as barreiras que tinha construído ao longo da vida em prol de si mesma, tinha medo de descobrir o que sentia (ou, quem sabe, não saber lidar com isso). No fim, nenhuma das duas sabia, ao certo, para onde ir. Então, elas ficavam ali mesmo, nos bancos de um carro maneiro, dos quais nunca saiam juntas, entregando um show de covardia às estrelas belo-horizontinas.

E era sobre isso que Rosa falava enquanto prendia sua touca cirúrgica, ao mesmo tempo em que fitava o monitor pelo qual passava a simulação da cirurgia, na companhia de Roberta, que estava sob os serviços de Sheilla Castro.

— Amiga — Betinha começou. — Você pensa demais.

Rosamaria suspirou. — Eu sei. Eu tento não ser assim, mas é bem difícil.

— Quanto mais você se concentra em não pensar, mais a sua cabeça ferve — declarou. — E é assim com a Carol, você sabe, né?

— Sei — respondeu, mas logo voltou-se à Roberta, com as sobrancelhas franzidas. — Não, acho que não entendi.

Roberta deu uma risada e explicou em seguida: — Você se esforça tanto pra não nutrir sentimentos por ela, que faz exatamente o contrário — Rosamaria a olhava sério, realmente tentando entender o que a amiga dizia. — Pensar em não sentir é, justamente, o que faz com que você sinta. Se eu te disser pra não pensar num elefante rosa, é a primeira coisa que vem na tua cabeça, não é?

Rosa abriu um sorrisinho de lado, sem graça. Concordava com todas as palavras ditas.

— Se ela fosse qualquer outra pessoa, a gente não teria essa conversa — Era Roberta quem falava, novamente. — Você não sai do lugar do com ela, porque acha que ela tem potencial.

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