O cheiro mentolado da pomada que Caroline esfregava suavemente sobre o ombro esquerdo mascarava o aroma das torradas no forno conforme a área bezuntada aumentava.
Dois dias depois de tirar a tipóia, as dores ao movimentar o braço eram mínimas. Ainda estava feio, com uma mistura de roxo e amarelo nos locais da batida e como consequência da intervenção médica, além de sensível ao toque, mas nada que não fosse ser resolvido em algumas semanas.
Ela já estava recebendo, por e-mail, algumas atualizações da parte administrativa do hospital. Por mais que tivesse acatado as "ordens" de Fernanda de continuar em casa, a psicóloga concordou que seria melhor, para as duas, se ela fosse tomando ciência das coisas aos poucos. Então, na quinta-feira ela decidiu começar a ler os documentos que estavam esperando-a. Eram, em sua maioria, contratos e atualizações de normas que ela precisava saber. Não seria tão difícil, mas, definitivamente, seria chato.
Terminando de espalhar a pomada, Gattaz desenrolou a toalha branca de seu corpo e vestiu, com cuidado, as peças de roupa que faltavam e, sem se incomodar com a toalha na cama, dirigiu-se à cozinha.
Tirou as torradas do forno e despejou em um prato, apoiando-o em cima da bancada da cozinha. Adicionou os ovos mexidos ao lado e encheu um copo com suco de maracujá, pegou os talheres e sentou-se no banco.
Enquanto comia, recebeu uma ligação de Renata. Sua irmã ligava para ter atualizações sobre a saúde de Caroline e perguntar se podia aparecer para uma visita. Gattaz, prontamente, respondeu que sim e exigiu – sob ameaças de não abrir a porta – a presença de sua afilhada.
Algumas horas mais tarde, batidas foram ouvidas em sua porta. Carol precisou de alguns minutos para atender, pois estava trocando de roupa lentamente, o que fez com que o som abafado voltasse a ressoar. As mãos – era mais de uma pessoa que batia, dava para notar – nervosas não pararam enquanto ela não girou a maçaneta. Do outro lado, Renata carregava uma mochila rosa nas costas e uma criança no colo.
Assim que viu sua madrinha, Alice espalmou as mãos no ar e deu um grito. Carol imitou o gesto, se divertindo com a excitação da afilhada em vê-la.
A pequena esticou os braços na direção de Caroline, pedindo que a madrinha a pegasse no colo, mas a médica murchou.
— Amor, a dinda não pode te pegar no colo ainda — ela disse, arrancando um bico entristecido de Alice. — Vamos entrar e cê' senta comigo, vem.
Renata colocou a menina no chão, que correu para Gattaz logo em seguida, e entrou, fechando a porta atrás de si. — Oi, irmã. Muito bom te ver também.
Caroline ignorou o drama fraternal e levou a afilhada, pela mão, até o sofá. A médica se sentou e colocou Alice sobre suas pernas. A pequena não demorou mais nem um segundo para envolver o pescoço da dinda com seus bracinhos. Os pés, calçados em tênis azuis, balançavam sem parar, tamanha era a sua felicidade.
— A princesinha tava com saudades da dinda, é? — Carol perguntou, assim que elas terminaram o abraço demorado.
— Muita, muita mesmo! — a menina respondeu, esticando o som da letra "u" nas vezes em que repetiu a palavra. — Um tantão assim, ó! — completou, abrindo completamente os braços para representar o que estava querendo dizer. Gattaz riu.
— Meu Deus, quanta saudade! — falou. — Mas vem cá, não era pra senhorita estar na escola, não?
— Caroline — Renata começou. — É dezembro.
— Ih, é verdade — Alice riu. — Esqueci que cê' tá' de férias.
— Cê' tá' doidinha é? — a menina brincou, batendo as pontinhas dos dedos na cabeça de Carol.
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The brain's heart
FanficCarol e Rosa se conhecem em um ambiente hospitalar, no qual nenhuma das duas está muito interessada em algo diferente de seus pacientes. Mas entre muitas diferenças, muitas discussões e muitos plantões juntas, elas descobrem que são exatamente como...