A Caixa

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Eu encarava a caixa há uns cinco minutos e ainda sim não sabia se deveria ou não abri-lá. Ela estava da mesma forma que eu tinha visto na biblioteca, a mesma embalagem e com um bilhete preso escrito o meu nome. Eu não fui buscá-la no outro dia, na verdade não fui buscá-la em momento nenhum, ela simplesmente apareceu em cima da minha cama um dia. Depois que eu recebi aquele e-mail e fiquei muito assustada, quer dizer não era normal e muito menos seguro, na verdade era o oposto disso, pois alguém sabia meu nome e meus dados, e, sério eu não seria burra de voltar lá para confirmar meus receios. Enfim, depois de eu ter passado uma semana inteira sendo paranoica, sem sair de casa e falar com ninguém por medo, eu tinha aceitado que o responsável só poderia estar fazendo uma brincadeira sem graça comigo, algum tipo de trote. Então segui a vida, não voltei mais a biblioteca, óbvio, mas ao menos já voltava a sair de casa, e foi em uma dessas saídas que eu voltei e encontrei a caixa na minha cama. De início fiquei super assustada, na verdade ainda estava, mas um pouco controlada. Primeiramente eu pensei que alguém tinha entrado na nossa casa e isso já era o suficiente para me preocupar. Mas minha mãe explicou que ela tinha sido entregue pelo correio e que ela deixou em cima da minha cama de propósito. Entretanto, aquilo não deixava de me assustar, ainda era um estranho, um desconhecido querendo contato comigo, eu não costumava brincar com o que não sabia, por isso a evitei por um dia, era o máximo que minha curiosidade suportava. Decidi enfim que era melhor abri-lá de uma vez e acabar com todo esse mistério, afinal tinha se passado uma semana e a única coisa que aconteceu foi o aparecimento da caixa.

Assim, eis-me aqui, encarando uma caixa como se a informação fosse extraída só de observá-la, porém caixas não funcionam dessa forma, elas guardam coisas em seus interiores. Desse modo, pego uma tesoura escolar ao meu lado e corto as fitas, rasgo a embalagem feita com papel pardo e tiro a tampa para finalmente descobrir o que tem dentro. A caixa tinha a mesma cor por dentro, um pardo como o da embalagem que a envolvia segundos antes, por dentro eu notei primeiramente uma carta sobre o que parecia ser um livro, ela foi a primeira coisa que peguei. Abri o envelope e li seu conteúdo.

Olá você,

Tudo bem? Não nos conhecemos ainda e isso só poderá acontecer dependendo de você. Primeiro gostaria de me desculpar pela forma como quis abordar tudo isso, mas preciso que entenda que um artista não faz as coisas sem certa graça, acho que você consegue entender um pouco disso, então admito só ter feito assim para deixar tudo um pouco mais interessante. Enfim, não pretendo demorar muito, serei direto. Eu te conheço, você não me conhece, pelo menos não ainda. Mas não se assuste, não vim para te machucar, tão pouco quero lhe assustar, meu único objetivo é esclarecer as coisas. Deixo aqui uma cópia da minha história, quer dizer não tão minha assim, mas editada e finalizada por mim, ela explicará tudo. No final da leitura preciso que devolva o livro exatamente no lugar que encontrou, se fizer isso sei que tomou uma decisão, se não fizer sei que tomou outra, e independentemente de qual seja eu respeitarei. Enfim, tudo aqui depende de você, eu já fiz minha parte, boa leitura!

Até breve, F.

Em um primeiro momento eu não soube como reagir, não entendia qual era o objetivo desse tal de F, nem o porquê ele dizia ter algo para me mostrar, e como ele me conhecia? Como me conhecia tão bem ao ponto de saber que eu entenderia o lado artístico dele? Não fazia sentido para mim e fiquei me perguntando se aquilo tudo era real mesmo, acho que toda a situação me deixava meio atordoada. Se o que ele dizia era sério, será que eu deveria mesmo saber? Eu estava cheia de perguntas e acho que a única forma de conseguir minhas respostas seria através do livro. Eu o peguei na mão e analisei com cuidado, sua capa tinha sido improvisada com papelão e impressões de paisagens, um título era visto no topo da imagem onde se lia "Composição Perdida" e abaixo estava escrito: uma obra de F. Me parecia algo pessoal, algum rascunho, uma coisa que parecia não ser da minha conta, mas se foi endereçada a mim com tanta insistência, acredito ser importante para essa pessoa que eu leia isso. Se eu iria fazer isso, ou não, era uma decisão que ainda não tinha tomado, eu estava confusa, curiosa, receosa, todas as emoções ao mesmo tempo e, juntas elas davam um nó no meu cérebro. Respirei devagar e me forcei a ser racional, naquele momento minha mente implorava para mim manter isso para lá e seguir minha vida, mas eu sabia que não conseguiria fazer aquilo, eu tinha um livro encaminhado exclusivamente para mim, um livro que aparentemente tinha respostas para as perguntas que eu ainda não tinha feito. Parecia até me oferecer coisas demais, coisas que eu nem sabia que precisava, mas e se esse F nunca existiu, se isso for realmente só uma piada? Bom parecia uma questão sem resposta, nesse caso eu decidi não ter nada a perder, peguei meus fones de ouvido e me concentrei naquele escrito.

Composição PerdidaOnde histórias criam vida. Descubra agora