6 - Tempestade

741 134 31
                                    

Vitor

As rádios locais só falam sobre a enorme tempestade com rajadas de vento que se aproxima da cidade. Como aqui é a capital das cachoeiras, eles repetem incansavelmente que não é para ninguém permanecer perto de nenhuma, devido ao alto risco de cabeça d'água nas próximas horas.

Estaciono diante de casa e procuro Laura ao redor. Espero muito que ela não tenha aproveitado a minha ausência para ir embora.

Minha mãe nem me espera entrar e já avisa:

― Laura foi para a cachoeira e ainda não voltou. Estou começando a ficar preocupada.

Puta merda!

― Sozinha?

― Com quem mais?

― Mãe, você devia ter impedido. Está ouvindo os noticiários? Tem uma tempestade maluca vindo para cá.

― Ela foi mais cedo, disse que não demoraria... Vai ver ela já está fazendo o caminho de volta.

― Duvido! Vou atrás dela.

Entro novamente no caminhão para ganhar tempo. O céu já está bem escuro para o lado leste, embora por aqui ainda esteja com um pouco de sol entre algumas nuvens.

Dirijo depressa até onde consigo ir motorizado. Quando vejo que não dá mais para o caminhão subir devido à geografia ingrime e cheias de pedras, desço, tranco o caminhão e subo a trilha que dá na cachoeira, com o meu coração aos pulos.

Essa maluca ainda vai me fazer enfartar, agindo desse modo camicase. Espero mesmo que ela esteja aqui, pelo menos vou poder levá-la de volta para casa em segurança. Senão, nem sei onde ir procurar.

Subo o mais depressa que consigo, observando as nuvens se juntando e vindo para cá.

Avisto uma peça de roupa no mato. É o blusão vermelho que ela vestia mais cedo. Me aproximo e noto que quase toda a roupa dela está aqui.

Olho para a piscina natural que fica adiante, a cerca de uns cinquenta metros e a vejo tranquila demais, boiando com o rosto virado para o sol, olhos fechados e movimentando os braços suavemente.

A única peça de roupa que ela usa, é uma calcinha amarela.

― Porra! ― resmungo, sem saber o que fazer.

De repente, me deu um branco.

A filha da mãe é bonita demais. Devia ser um crime tanta beleza assim numa pessoa só.

Não sei se devo ou não me aproximar enquanto ela está assim, seminua, aproveitando a tranquilidade desse lugar. Acho até que ela merece um instante de paz depois de tanto tempo de estresses.

Olho pro alto da montanha, lá longe, onde nasce o principal rio que alimenta essa cachoeira. Por lá está bem nublado. Posso ver os raios e ouvir os trovões.

Isso não é nada bom... Lá já deve estar chovendo faz um tempo o que só significa uma coisa: Laura precisa sair da água agora!

Cato suas roupas e corro pelas pedras que ladeiam a piscina, até chegar perto dela:

― Laura! ― ela se assusta e esconde o corpo sob a água.

Boa tentativa, mas a água é cristalina demais.

― Precisa se vestir e vir comigo. Anda! ― apresso-a, mostrando suas roupas ― Venha, não temos muito tempo.

― Não quero assunto com você, vá embora! Largue as minhas roupas!

SintoniaOnde histórias criam vida. Descubra agora