15 - Raio de Sol

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Laura

Desperto com os primeiros raios de sol nos tocando a pele. Nem acredito que dormi aqui, praticamente ao relento e nos braços do Vitor.

Será que dá tempo de sair de mansinho antes que ele acorde e compreenda o quanto corremos perigo?

Se bem que está tão bom aqui, juntinho dele, que nem dá vontade de sair. Que loucura é essa, Deus? Um sofá velho na varanda de uma casa praticamente abandonada, no entanto... Essa foi de longe umas das noites mais incríveis da minha vida.

Ergo meu rosto para checar se Vitor está dormindo, mas o encontro acordado, sorrindo pra mim.

- Bom dia. - cumprimento-o, meio tímida por ter esmagado todo o nosso acordo.

- Bom dia, minha guria. - responde tranquilo, sem pressa de se levantar.

Minha guria... Isso já perdeu o rumo. O trem atropelou a gente.

Repouso o queixo em seu peito e fito seus olhos castanhos:

- Anotou a placa do trem? - pergunto, tentando quebrar essas nossas barreiras que nos impedem de falar sobre o que é preciso.

- Trem? - ele faz uma carinha confusa e eu sinto vontade de beijá-lo.

- Esse que atropelou a gente...

Ele dá uma gargalhada gostosa, enquanto afaga meu rosto:

- Trem não tem placa, tem? - pergunta divertido, passando o polegar pelos meus lábios, numa confissão silenciosa de que também amanheceu assim, na mesma frequência que eu, querendo um beijo de bom dia.

Porém, nenhum dos dois se atreve, talvez pelo motivo mais óbvio de todos: Essa é a primeira vez que acordamos juntos e ainda não sabemos se está tudo bem trocarmos "bafinho". Pelo menos eu não me arrisquei por conta disso.

- O que vamos dizer para elas? - pergunto, pois sei que a essa altura, aquelas duas já estão programando a nossa Lua de Mel.

Vitor dá de ombros.

- Elas sabem mais do que a gente se deu conta. Mas a pergunta certa é: O que vamos dizer pra nós mesmos?

Então chegamos na hora da verdade... Quem diria que quarenta dias num rancho perdido no meio do mato me traria tanto?

De repente minha mente estampa a data de hoje: Dia 4. E no mesmo instante, um gelo percorre cada nervo meu, me deixando em pânico.

Merda! Merda! Merda! Método anticoncepcional atrasado há dias, como não pensei nisso ontem, quando me entreguei outra vez sem proteção alguma? Faço uns cálculos mentais e chego à conclusão de que pra piorar, ainda estou bem no meio dos meus dias perigosos.

- Vitor, temos um baita problema pra resolver. - aviso, com o coração a mil.

- Eu sei. - ele sorri e afaga meu rosto - Se importa em conversarmos aqui mesmo? Eu te levaria para tomar um café num lugar decente, mas é melhor não arriscar de novo. Ainda mais em plena luz do dia.

Conversar? Ele não está entendendo a urgência do problema.

- É sério, a gente debate essa questão depois. Preciso que se levante e corra numa farmácia o mais depressa que puder.

- Por que? - vejo a confusão estampada em seus olhos quando me levanto, nervosa.

- Preciso que me traga um contraceptivo de emergência agora!

Ele se senta, meio atordoado.

- Contraceptivo de emergência?

- Ou pílula do dia seguinte, tanto faz! Mas tem que ser o quanto antes. Meu método anticoncepcional venceu faz alguns dias e provavelmente estou no meu período fértil. Como não me atentei a isso ontem?

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