Wonderland | Lumity

CAPITULO 1 - Milão

Capitulo 1

Suspirei ao ver Milão brilhando em seu ápice, os borrões se tornando purpurinas dançantes através de meus olhos aflitos.

Fazia precisamente vinte quatro horas desde que eu saíra da casa dos meus pais. Foi um ato liberal e rebelde — talvez até melodramático, eu confesso — que está corroendo-me até o fim do cérebro.

E uma imensa culpa me perturbava com os mais lindos lugares passando bem através das minhas íris. Misturando-se com os meus pensamentos ansiosos e habituais.

Não podia evitar, eu sempre iria deixar-me preocupar.

Sim, eu taquei um foda-se para os meus pais. Sim, eu arrependo amargamente de ter feito tal coisa.

Não sinto remorso por ter corrido de tudo e vindo para a Italia — impossível eu não ter feito uma escolha melhor antes — mas fugir de tudo e de todos foi um ato não aceitável na casa dos Blights.

E me peguei pensando que se meus pais não me descartariam como fizeram com Emira e Edric também.

Não é como se eu gostaria de continuar debaixo das asas deles, mas sentir que alguém te ama não prejudica um coração já distorcido.

Na pior e na melhor das situações eles continuariam sendo meus pais, e não vou conseguir abandonar isso tão cedo.

— Me conta sua história — Sobressaltei-me ao ouvir uma voz doce tão perto de mim, me virando para ver de onde vinha.

Pisquei lentamente para a garota com um dos maiores sorrisos já descritos, tentando lembrar o momento em que se sentou ao meu lado.

— Que? — Minha voz saiu baixa, mas a garota riu, e nesse meio processo pude a analisar melhor.

Seus fios encaracolados eram castanhos e curtos, terminando-se no final da sua orelha. Olhos feito carvão se iluminavam pela janela que refletia a beleza italiana em suas íris. Seu rosto com traços doces simpatizava gentileza e doçura. Uma pessoa tão cortês que dava para sentir apenas na aura em que a orbitava.

Até meus olhos caírem para a blusa roxa e seu crachá preso em seu ombro esquerdo.

Merda. Merda. Merda.

Estava muito bem claro nas instruções da viagem, as palavras rodopiaram-se rapidamente entre as memórias do folheto. Todo menor de idade sem responsável vai ser acompanhado por um membro da equipe.

Teria que a aturar, afinal de contas.

Mas se bem que, não me parecia uma ideia tão ruim assim.

— Todo mundo tem um motivo para estar aqui, qual o seu? — Suas sobrancelhas se levantaram de leve, demonstrando interesse em qualquer coisa que fosse sair da minha boca.

— Foi meu sonho sempre vir para a Itália — Disse o mínimo possível, mas ela não acreditou muito em minha fala, seus olhos se estreitando em pura hipocrisia ao confirmar meu fato.

— Não acredito nisso — Ela meneou a cabeça para o lado, seu sorriso se fechando um pouco, mas sempre presente — Não se preocupe em dizer agora, temos muito tempo pela frente.

Franzi os lábios. Ela definitivamente era minha guia obrigatória, mas não aparentava nem ter mais de um ano de diferença a mim. Me pergunto há quanto tempo está nesse rumo.

— Então você vai ser minha guia obrigatória?

— É. A não ser que você queira que seja Lilith — Ela apontou para uma mulher de grandes cabelos azuis um pouco mais na frente do ônibus, muito, mas muito mais velha que ela. 

Voltei-me a postura no assento e sorri para ela, contente com a escolha.

— Mas você vai ficar, tipo, no meu pé o tempo todo? — Assentiu, contendo um sorriso maior por minha reação.