Prólogo

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— P R Ó L O G O —

    Pode ser desconcertante e injusta a forma como os acontecimentos se entrelaçam em um espaço de tempo. Esses acontecimentos, os grandes e os pequenos, às vezes nos levam a inesperadas colisões capazes de mudar todo o rumo das nossas vidas.

     Mamãe levantou-se da cama às 05:45, como costumava fazer. O café forte ficou pronto cerca de dez minutos depois, quando eu também já ocupava a mesa ao seu lado. Nós fizemos a refeição num confortável silêncio familiar. Ás 06:10 ela chamou os gêmeos para começarem a se aprontar para a aula. David, como sempre, mais obediente ficou pronto primeiro. Júlia atrasou-se porque não encontrava seu caderno de história, de forma que conseguimos sair de casa somente ás 06:36.

    Eu costumava levar os gêmeos até o portão da escola, mas naquele dia estava quatro minutos atrasada e precisaria contar com a sorte de o ônibus que passava entre 06:30 e 06:40 também estar atrasado. Mamãe estava comigo, para mais um dia de serviço. Eu trabalhava em uma lanchonete e ela trabalhava como faxineira em um edifício no centro da cidade. Nós caminhamos apressadas pelas ruas, enquanto eu verificava o meu relógio de pulso a fim de controlar os minutos.

    Mas não se pode controlar o tempo, assim como também não se pode controlar os acasos aos quais está fadado um dia qualquer. Foi o que descobri quando atravessávamos a rua, já a alguns poucos metros do ponto de ônibus e um baque surdo ecoou pelo ar. Então outro e mais outro, seguidos por gritos de desespero e uma confusão de pessoas que corriam para se esconder das balas.

    A mão de minha mãe segurou a minha e em seguida nós também estávamos correndo para nos esconder do tiroteio. A confusão se tornava cada vez maior, as pessoas trombavam umas com as outras, perdidas. Os sons das balas sendo disparadas continuavam a ecoar e pareciam chegar cada vez mais perto. Mamãe empurrou-me para trás de um carro preto e então, antes que ela conseguisse se abaixar, aconteceu. O som fatal de uma bala encontrando um corpo e depois o rastro em vermelho, manchando o suéter cinza e a flor desenhada nele sobre o lado esquerdo do seu peito.

     Eu tentei apoiá-la com meus braços e conter o sangue que se espalhava entre nós. Com mãos trêmulas procurei uma forma de estancar o líquido vertendo da ferida, mas quanto mais eu me desesperava e implorava, mais ela se afastava de mim. Então seus lábios murmuraram palavras de afeto e os olhos ternos que me fitavam esconderam-se nas pálpebras. Um grito amargo saiu da minha garganta. Mais lágrimas turvaram a minha visão e eu soube.

     Era a colisão. A forma injusta como os acontecimentos se entrelaçam e que, embora eu sequer imaginasse, seria capaz de mudar toda a minha vida para sempre.


Garota de Grife | Duologia Palace - LIVRO I ( Apenas Degustação!)Onde histórias criam vida. Descubra agora