Capítulo 2 - Tentativa de furto.

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Olhei o celular e passei a mão pelo cabelo volumoso enquanto via as horas. Nove da noite. O restaurante do hotel estava cheio quando passei pela porta larga. Olhei em volta procurando uma mesa vazia e andei até lá enquanto algumas pessoas me olhavam passar, mal disfarçando a curiosidade em seus rostos. Acenei com a cabeça como de costume e respirei fundo para identificar os aromas antes de me sentar. Nenhum sanguíneo presente. O que era um tanto estranho.

Fiz meu pedido quando o garçom veio até minha mesa e cruzei os braços olhando em volta. O hall do restaurante tinha a frente toda de vidro e o local era espaçoso e muito bem decorado. A rua lá fora estava movimentada e as luzes da cidade se refletiam nos espelhos atrás de mim. Lá fora, as pessoas passavam usando camadas de roupa devido ao frio que parecia fazer. Camadas consideráveis para uma mulher que viveu em clima quente. Consideráveis para uma felina.

Meu celular apitou novamente com uma mensagem. E quando olhei, meu sorriso se abriu ao ver a foto que Gal tinha enviado da Isa. Enrolada numa toalha rosa e sorrindo toda banguela. Tão nova, mas tão sorridente... Não sei como recém nascidos tinham essa capacidade de sorrir tão cedo. Era uma coisa divina, aposto.

— Gorducha. — Sussurrei com um sorriso no rosto e escrevi uma resposta rápida.

— Aqui está, senhorita. — O garçom deixou meu prato sobre a mesa e eu agradeci antes dele se afastar novamente.

Enviei a resposta para Gal e comecei a comer. Devorei tudo rapidamente. E quando terminei, pedi uma cerveja. As pessoas dali conversavam tão tranquilamente que eu fiquei bons minutos só aproveitando e observando o lugar. Nada de correria, um fluxo normal de pessoas e nenhum sanguíneo. Nenhum, até agora.

Quando minha bunda começou a ficar quadrada, decidi pagar a conta e voltar para o quarto. Amanhã eu teria que ir até alguma imobiliária e passar o dia todo procurando um lugar que eu gostasse. E isso provavelmente seria difícil. Eu demorei metade de um ano para achar meu último apartamento. E nem assim tudo me agradou. Aquilo passou por reforma e mais reforma até que ficasse do meu gosto. E aquele balcão no qual Gal falou, era meu xuxu. Eu não gostaria nem de imaginar como o novo morador estava o tratando.

Suspirei ao entrar no quarto e me joguei de volta no colchão.

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A primeira casa que me levaram era pequena demais. A segunda, tinha um fedor horrível que subia de algum maldito ralo. Pensei que aquilo me daria mais dor de cabeça do que eu merecia. A terceira era espaçosa, uma área de serviço agradável, mas ficava de frente para um canil. Um canil. Os latidos atravessavam as paredes e chegavam nos meus ouvidos a qualquer canto que eu estivesse da casa.

— Tenho certeza que isso não seria um problema. — A corretora me falou.

Ah, não seria? Imagino que para sua audição obviamente não.

A próxima e última casa que eles tinham disponível era fechada demais e ficava muito no centro da cidade. Não que isso fosse um problema, mas eu não tinha nenhuma vista da natureza ali. E isso a longo prazo me incomodaria demais. Juro que tentei ser o menos chata possível, mas eu estava na porra do Alasca e tinha vindo para morar o mais longe possível da cidade, então era isso que eu conseguiria. Nem que eu morresse procurando ou tivesse que comprar um lote vazio e construir a casa do zero.

Agradeci a corretora e ela se despediu de mim, provavelmente cansada. Era meio de tarde ainda, e por sorte, essa imobiliária não era a única da cidade.

A próxima corretora pelo menos tinha bom gosto e era mais sensata nas críticas. Apontou os defeitos nos imóveis e algumas possíveis soluções caso eu as escolhesse. Mas a primeira casa que ela me mostrou tinha dois andares e os cômodos eram tão estreitos que pareciam ter sido construídos para serem encaixados num beco. Eu fiquei chocada demais.

Sanguíneos: Listras, Dentes e Instinto.(Pausada)Onde histórias criam vida. Descubra agora