Capítulo 3 - Encontro de listras.

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Na manhã seguinte, rolei pela cama e esfreguei a cabeça nos travesseiros ainda na forma animal. Levantei devagar, bocejando, e meu rabo ricocheteou ao lembrar que precisava ligar para o guarda-florestal. Me transformei de volta e fui tomar um banho antes de fazer isso. Mas quando olhei para o celular, vi uma mensagem de Gal perguntando como as coisas estavam e que precisava de notícias minhas. Sorri e digitei uma resposta rápida de que hoje eu poderia ver uma casa e que provavelmente eu teria um emprego de volta. Haviam muitos 'poderia' e 'provavelmente'. Isso era desagradável, mas era o que eu esperava. Pois na maior parte das vezes, as coisas aconteciam da maneira mais difícil para mim.

Depois do banho, coloquei uma calça jeans, vesti um suéter verde escuro, ainda pensando no que falar e calcei minhas botas antes de agarrar meu celular. Deslizei os dedos pelos contatos procurando o número novo. Suspirei e fui até a janela com o celular no ouvido. O número chamou, chamou, chamou e um som leve soou enfim. Antes de eu ouvir a voz masculina e grave.

— Quem fala?

— Olá, bom dia. — Respondi. — Sr. Petrov?

— Sim? — Ele parecia estar dirigindo no momento. Conseguia ouvir o barulho do motor. Eu tinha que ser rápida então.

— Me chamo Dalla Golden. Soube que está negociando um imóvel e estou interessada. — Silêncio por um momento. Provavelmente estava pensando em quem poderia ter me contado. — Sr. Petrov? Precisa que eu ligue outra hora? — Um pigarrear do outro lado da linha.

— Não, não precisa. — Ele parecia ter uma voz jovem. Provavelmente um homem na flor da idade. Muito diferente do homem de cabelos brancos que imaginei. — Vou mandar o endereço e tirar algumas horas para te mostrar o lugar. Qual a sua disponibilidade hoje?

— Vou estar livre o dia todo. — Respondi olhando as montanhas pela janela. Ele murmurou pensativo e ouvi o barulho do motor diminuir.

— Seria melhor para mim agora de manhã.

— Então ótimo. — Cruzei o braço com um sorriso no rosto. — Estarei lá.

— Perfeito. Vou enviar o endereço. — Ele falou antes de desligar.

Não demorou nem trinta segundos para eu receber o endereço e a localização no google maps. Marquei uma rota e percebi que o lugar ficava a uma hora daqui. Coloquei o celular no bolso, peguei meu coldre e o prendi na cintura antes de sair do quarto.

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Depois de atravessar a cidade e até mesmo sair dela, o taxista entrou numa estrada de pedra e seguiu por mais um minutos antes de estacionar em frente a casa enorme e rústica. Estava um pouco mal cuidada, cheia de folhas na frente da porta e a pintura estava velha, mas a madeira era de boa qualidade, as janelas eram largas e a varanda era ampla.

Paguei o taxista e desci do carro agradecendo aos céus por deixar o carro daquele falador de araque. Estava ventando bastante essa manhã e as árvores balançavam trazendo ainda mais folhas. Mas o cheiro e o ar eram as coisas mais puras que eu poderia sentir na vida. O carro ao meu lado deu ré e virou ao ir embora. Aparentemente não tinha ninguém aqui ainda.

Levantei o celular, tirei uma foto da casa e enviei para Gal. Surpreendentemente o sinal pegava aqui. Me aproximei da varanda. Olhei em volta e subi os dois degraus. A madeira sob meus pés nem mesmo rangeu. O que mostrava que não era uma madeira velha e nem oca.

O celular apitou na minha mão e eu olhei.

"Provavelmente assombrada."

Revirei os olhos com a mensagem dela. Não era assombrada, só precisava de uns cuidados.

Sanguíneos: Listras, Dentes e Instinto.(Pausada)Onde histórias criam vida. Descubra agora