Dalla
Um tigre.
Porra...
Ele abriu a porta e entrou. Então eu rodeei o capô devagar, ainda pensando se era uma boa ideia aceitar a carona ou não. Senti seus olhos em mim enquanto ele ligava o Jeep. Como se percebesse o receio no meu rosto. Não ousei olhar pelo vidro quando abri a porta e entrei também.
— Inacreditável... — Ele resmungou negando com a cabeça quando me acomodei no banco ao seu lado. E começou a dar ré.
— O que é inacreditável? Você ter matado um humano hoje? — Você não sabe calar a boca, Dalla?
— Você. — Trocou a marcha sem se importar com meu tom. O braço forte e ágil, os dedos longos que pareciam ásperos e as unhas que tinham se transformado em garras e foram enfiadas em carne humana a pouco tempo atrás, estavam bem aparadas. Mas estavam um pouco sujas de terra. Ou sangue. O que me fez perguntar o que poderia ter feito com o corpo. — Outra da minha espécie.
— Eu sei... — Respondi desviando o rosto quando ele me olhou de soslaio e voltou para a estrada de cascalho.
— Você pode relaxar, sabe? — Olhou para minha mão apoiada na arma. — Eu não vou matar você ou algo do tipo. — Pigarreou e desviou os olhos cinzentos. Mas eu mantive minha mão no coldre. Eu sabia mais do que qualquer um, que a confiança era algo perigoso. Mesmo que Yohan fosse da minha espécie, eu tinha presenciado um assassinato. Ele poderia não me matar, mas poderia tentar qualquer coisa para me manter calada. Então eu precisava me manter atenta, de qualquer forma.
O caminho de volta para a cidade, no entanto, estava tranquilo. Recebi algumas mensagens, mas não peguei o celular para olhar. Provavelmente era Gal perguntando da casa.
Em nenhum momento Yohan tomou outro caminho ou pegou um atalho. Ele parecia distraído quanto ao barulho irritante do motor do Jeep. O mesmo barulho que ouvi por telefone.
— Mora aqui a quanto tempo? — Perguntei mudando minha atenção. E minhas palavras depois de vários minutos pareceram tirá-lo do torpor.
— Desde a minha adolescência. Talvez com uns 13 anos? — Franziu as sobrancelhas, mas não tirou os olhos da estrada. — Vim pra cá com meu irmão mais velho. Ele provavelmente tinha uns 20 anos na época. — Assenti e olhei pela janela. As árvores da reserva ainda acompanhavam o carro. — Mas você disse que chegou recentemente... Veio com mais alguém?
— Sozinha. — Deixei claro.
— Na Geórgia havia mais da nossa espécie? — Ele parecia curioso quanto a isso.
— Não que eu soubesse. Você é o primeiro que conheci. — Ele virou uma curva sinuosa e murmurou uma resposta qualquer.
— Nunca teve problemas na cidade grande? — Olhou para mim e eu neguei. — Imagino que não. Não são lugares muito povoados por gente como nós. A OAS não costuma ter muito sucesso em grandes centros por causa disso.
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Sanguíneos: Listras, Dentes e Instinto.(Pausada)
ParanormalDalla é a Primeira-Tenente da polícia. Uma sanguínea de espécie rara que foi afastada do cargo após transgressão disciplinar ao ser acusada injustamente por falsificar provas. E agora, longe do trabalho, ela se transferiu para outra unidade no Alasc...