Terceira Carta

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Querido Arthur,

A entrada na puberdade nunca é um bom marco na vida de uma pessoa. A confusão em sua cabeça é enorme assim como em seu corpo. Ver sua estrutura infantil mudar e tomar a forma do corpo que terá na vida adulta é desesperador. Porém, acho que o pior da puberdade é a mudança constante de sentimentos que o jovem vai tendo ao longo da adolescência e início da vida adulta. A coisa toda piora quando o adolescente é alguém fechado como eu. A possibilidade de falar sobre o que se passava em minha mente, corpo e coração era um absurdo, e o fato de que eu não tinha com quem conversar sobre não ajudava muito.

Os sinais da puberdade apareceram mais rápido para mim do que para você. Lembro-me do quão irritado você ficava por ver os pequenos pelos que nasciam em meu rosto, afinal, você era um ano mais velho. Eu apenas conseguia rir de seu drama. Infelizmente, foi nessa mesma época que meu pai decidiu que me treinaria para...como é que ele dizia? Ah, sim! Para que eu pudesse ser um homem de verdade, um homem que se casaria com uma moça de família e tivesse filhos fortes. A coisa toda só trouxe problemas.

Em uma das pequenas confraternizações da escola, conhecemos Maya. A garota era a mais velha entre nós, sendo dois anos mais velha que você, três que eu e Alex. Quatro adolescentes na puberdade, se descobrindo, e em uma mini festa? Tinha tudo para dar errado. Naquele dia foi quando você deu seu primeiro beijo que, pasmem, foi com Maya. Hoje, entendo que foi uma forma de você se entender e se descobrir, mas na época, o ciúme me corroeu por dentro.

Ah, ver as mudanças em meu corpo era assustador, porém, vê-las no seu... era desesperador. Meu melhor amigo estava se tornando cada vez mais belo aos meus olhos, e isso não podia acontecer.

Aos poucos, fomos ficando distantes, porém, não por causa dos meus sentimentos, mas por causa do meu pai. Mesmo tendo apenas 12 ou 13 anos, papai me levava para seu trabalho após a escola, sendo assim, apenas nos víamos durante a noite. Sei que você se lembra, já que passei a ser bom em matemática por isso – talvez uma das poucas coisas boas que ele me ensinou. Meu progenitor fazia parte da administração financeira de uma pequena empresa, que, mesmo tendo começado a pouco, lucrava bastante. Meu pai os roubava, desviando o dinheiro para uma conta no nome do meu falecido avô. Até hoje ele não foi descoberto, e eu tenho muito medo para fazer algo.

A distância só piorou depois que, aos 14, percebi meus sentimentos após irmos a uma festa clandestina. Entramos de penetra no meio de uma briga que o segurança precisou separar e ficamos por lá até o dia seguinte. Para nossa sorte, seus pais precisaram viajar e os meus nunca se importaram realmente se eu estava em casa. O Barman não se importou se éramos de menor quando entramos ou quando nos vendeu bebidas, afinal, quanto mais ele vendesse, mais ele ganhava.

Você sempre conseguiu me convencer a fazer algumas coisas que, em minha concepção, eram absurdas. Após ter bebido uns 3 copos, você decidiu que queria dançar e me convenceu a ir junto dizendo: -Não sabemos se vamos poder fazer isso de novo. Vamos aproveitar, por favor!- Desisti de ir contra.

Entramos na pista quando "Alive (It Feels Like)" do Alok começou. Envergonhado, apenas fiquei parado, te observando dançar como um louco. Um sorriso teimoso começou a se formar em minha boca e a imensa vontade de te beijar apareceu de forma abrupta, me assustando. Com o rosto extremamente vermelho, corri para o banheiro, desesperado para me acalmar.

Fomos embora pouco depois, já que a polícia havia aparecido no local. Corremos como se não houvesse amanhã, aflitos para chegarmos em casa logo. Aqueles sentimentos me atrapalhavam de pensar direito, criando imagens erradas enquanto tomávamos banho juntos, algo comum para ambos.

Era por volta das dez da manhã quando seus pais voltaram da viajem. "A empresa não precisou de nós." Foi o que disseram. Como no dia seguinte teríamos aula, você foi para casa deixando um beijo casto em minha bochecha, me desestabilizando completamente. Cada vez mais exasperado, corri para a casa de Alex, esperando que elu pudesse me ajudar. Foi como um soco no estômago quando elu me disse que eu estava apaixonado por você.

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⏰ Última atualização: Mar 26, 2022 ⏰

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Cartas para um amor PerdidoOnde histórias criam vida. Descubra agora