Primeira Carta

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Querido Arthur,

Quantos anos fazia que eu morava no mesmo bairro, na mesma casa? A quanto tempo eu conhecia meus vizinhos? Ah, eu não sei, mas tenho certeza de que tem muito tempo. Lembro-me de chegar a essa vizinhança muito novo, aos meus 7 ou 8 anos. Meus pais, animados como eram, sequer esperaram os vizinhos nos verem e já foram bater em suas portas para se apresentarem, e eu, é claro, fui puxado por eles.

Sempre fui um garoto tímido, porém, de alguma forma, você sempre conseguiu me deixar à vontade o suficiente para que eu me soltasse perto de você e, em nosso primeiro contato, não foi diferente. O destino com certeza gosta de brincar com as pessoas, pois o primeiro alvo de meus pais foi a sua casa. Sua mãe abriu a porta um tanto assustada, mas sua animação logo veio à tona ao ver os novos vizinhos que, como você me disse mais tarde, todo o bairro estava curioso para conhecer.

Era incrível o contraste entre nossa família. Eu me parecia com seus pais, éramos quietos, raramente fazíamos barulho e não gostávamos de incomodar. Em contrapartida, você e meus pais eram iguais. Extremamente barulhentos e animados. Vocês conseguiam fazer qualquer um sorrir.

De alguma forma, nos tornamos melhores amigos. Onde um ia, o outro ia atrás. Se procurassem por um, acharia o outro. Fizemos tantas descobertas juntos... Você se lembra, meu amor, de quando, aos nossos 14 anos, fomos em nossa primeira festa juntos? Foi naquele dia, ao te ver dançar, que eu percebi que nossa amizade já não era apenas isso para mim. O desespero que senti me afastou de você e... bem, você não é lá muito paciente. Não deu dois dias e eu já podia ouvir suas batidas e gritos à minha porta. Não tive como mentir, conhecíamos um ao outro como a palma da mão. Disse-lhe o que havia descoberto sobre mim e você riu dizendo -Você é tão bobo. Sinto isso por você há anos.- Naquela noite, você roubou meu primeiro beijo, e continuou a roubá-los por anos.

Fui covarde ao me afastar de você naquela época, e estou sendo covarde novamente ao ir embora sem me despedir. Não consigo olhar em seus olhos e lhe dizer que estou indo para outro continente, tão longe quanto jamais sonhamos. Não consigo olhar para você e ver a súplica em seu olhar, me pedindo para ficar. Covardemente, eu lhe escrevo esta carta e covardemente eu fujo para longe de ti.

Não tenha dúvidas de que eu te amo, e é por te amar que eu parto. Egoísta como sou, espero que não me esqueça, assim como não vou esquecê-lo. Ainda assim, quero que me prometa apaixonar-se novamente e não mudar quem você é pelo que estou fazendo. Espero poder te encontrar novamente e poder te amar de novo.

Com todo amor que possuo,

Lucas.

Cartas para um amor PerdidoOnde histórias criam vida. Descubra agora